20/08/2003 - 7:00
Os Steinbruch, um dos donos do grupo têxtil Vicunha, são conhecidos pelos seus malabarismos empresariais. Em meados dos anos 90, Benjamim Steinbruch pegou empréstimos e costurou complicados acordos para se tornar sócio da mineradora Vale do Rio Doce e da siderúrgica CSN. Há dois anos, renegociou débitos e parcerias, saiu da Vale e virou ?o rei do aço?, o principal controlador da CSN. Menos conhecidos são os malabarismos dos Steinbruch no meio financeiro. O balanço do Banco Fibra, que pertence aos donos do Vicunha, foi divulgado na semana passada e revelou resultados surpreendentes, com uma das maiores rentabilidades do País.
Há 15 anos, foi criado o Fibra para cuidar do caixa do Vicunha. Com o tempo, o banco ganhou vida própria. Em meados dos anos 90, abriu até quiosques em shoppings para atrair clientes. Mas a história provou que era mais fácil transformar um grupo têxtil numa potência siderúrgica do que numa indústria financeira. No final dos anos 90, sofreu a ressaca do Plano Real, a inadimplência explodiu e o Fibra quase quebrou, segundo fontes do mercado. Benjamim até teve de mudar seu escritório para o banco, como sinal de que a família não ia abandonar a instituição.
A diretoria foi trocada e os planos, mudados. Deu certo. Hoje, o Fibra ainda é um banco pequeno, mas ganha dinheiro. ?É um dos mais rentáveis do mercado (23% sobre o patrimônio)?, diz Erivelto Rodrigues, da consultoria Austin Asis. No balanço divulgado semana passada, lucrou R$ 40 milhões no semestre, 73% a mais do que em 2002. Como? O primeiro passo foi baixar o trem de pouso. O novo presidente do banco, João Rabello (indicado pelo então consultor Cássio Casseb, hoje presidente do BB), cortou o número de funcionários de 500 para pouco mais de 200, fechou os quiosques, freou o crédito. Equilibrou as contas sem pedir dinheiro ao Vicunha.
O segundo passo foi definir o novo foco: operações de tesouraria e empréstimos para empresas de porte médio, de R$ 30 milhões a
R$ 500 milhões de faturamento anual. Para isso, tem tecnologia própria. Ricardo Steinbruch, irmão de Benjamim, participa do Conselho de Administração do Vicunha e do Fibra. Por conhecer bem os fornecedores e clientes do Vicunha, indica clientes para o Fibra e sabe qual é a real situação das empresas, fundamental para quem empresta dinheiro. ?Os dois chapéus ajudam, trazem uma visão mais completa da realidade?, diz o industrial Steinbruch, à frente de um dos bancos mais lucrativos do País.