Nos últimos dois anos, a obsessão de Terry Hill, presidente da Jaguar Land Rover na América Latina, tem sido mudar a percepção que os brasileiros têm das marcas da montadora britânica, em especial a Jaguar. O luxuoso automóvel sempre foi visto como um carro para pessoas mais velhas, quase vintage. Seus bancos de couro e painéis de madeira dão um ar mais clássico ao veículo, longe da esportividade de alguns concorrentes, como as alemãs Mercedes-Benz e BMW. A questão é que isso limita o mercado. Na semana passada, como parte do esforço para mudar esse cenário, a empresa lançou, mundialmente, o Jaguar XE, modelo que promete acabar definitivamente com a imagem de carro da terceira idade endinheirada dos seus sedãs. Mais do que isso, a empresa espera atrair um público cada vez mais importante e ainda pouco explorado pela marca britânica: as mulheres. “A compra de um carro de luxo é muito emocional”, afirma o executivo. “As mulheres sempre influenciaram a decisão, mas, agora, são elas que estão no comando.” Ou seja, não se trata de vender para esposas de executivos, mas sim para executivas e empresárias de sucesso, que buscam veículos mais práticos para o seu dia a dia. Por esse motivo, itens antes negligenciados estão ganhando importância nos carros da empresa, como os porta-objetos.

O público feminino não é, exatamente, uma novidade na vida da montadora, atualmente controlada pelo grupo indiano Tata. Em se tratando de Land Rover, as mulheres representam cerca de 40% dos compradores. No caso do modelo Range Rover Evoque, elas já respondem por 45% das vendas. O apelo fashion do veículo, aliado à sensação de segurança ao dirigir, segundo o presidente, está entre os motivos do sucesso do carro no universo feminino. Em relação à Jaguar, no entanto, há um obstáculo. As motoristas, de forma geral, não são muito atraídas pelos sedãs, preferindo os chamados SUV, que impõem mais respeito por serem mais altos. Para quebrar essa barreira, o XE chega com um apelo maior de design e a promessa de proporcionar uma experiência de direção, ao mesmo tempo, esportiva e fácil. “Quem compra um carro dessa categoria, busca um produto que seja uma extensão de sua personalidade”, afirma Hill.

Por trás dessa estratégia feminina, está um novo posicionamento de mercado da Jaguar. “Essa não é uma mudança recente”, afirma o presidente da marca. “Estamos trabalhando nesse conceito de carro mais esportivo há mais de dois anos, em caráter global.” A ideia é atrair clientes de uma faixa de renda mais baixa do que a habitual. Dessa forma, a montadora, que não vem tendo um bom ano em termos de vendas, deverá acirrar a competição no segmento, principalmente com suas rivais alemãs. Ao contrário do mercado de veículos de passeio “normais”, que registrou uma queda de 19% nos primeiros seis meses do ano, o segmento de luxo anda a todo o gás. De janeiro a julho, as vendas da Mercedes aumentaram 64,3%, as da Audi 30,4% e as da BMW ficaram de 4,1%, segundo dados da Anfavea, associação que representa as montadoras. No mesmo período, no entanto, a Land Rover teve uma queda de 11,9%, segundo a Abeifa, que reúne as importadoras de veículos (a empresa não faz parte da Anfavea). A Jaguar, por sua vez, viu sua frota aumentar em 217 automóveis, o que representa um acréscimo de 6,4%.

A expectativa é de que o cenário para a Jaguar Land Rover mude a partir do ano que vem, quando deve entrar em operação a fábrica da montadora que está sendo construída no município de Itatiaia, no Rio de Janeiro. Desde que assumiu as vendas no País, a cargo de representantes  autorizados até 2012, a companhia passou de duas para mais de 30 revendas no Brasil. Juntamente com o XE, comercializado na faixa de R$ 180 mil, a empresa lançou um plano de financiamento facilitado, que inclui a garantia de recompra do carro usado por um valor prefixado. “O comprador de um carro de R$ 300 mil ou R$ 400 mil, geralmente, não se preocupa com coisas como desvalorização ou seguro”, diz Hill. “Nessa nova faixa que estamos buscando, esses itens têm mais influência.” Como ele mesmo reconhece, um Jaguar não é para todos os bolsos (ou bolsas) , é verdade. De qualquer forma, sustenta Hill, agora, dirigir um Jaguar já não é um sonho tão distante.