O Lulinha Paz&Amor foi uma criação do publicitário Duda Mendonça em 2002. Destinava-se a fazer descer o barbudo do PT pela goela da elite econômica do País. O tempo, somado às denúncias deflagradas pelo ex-deputado Roberto Jefferson, mudou Lula e mexeu com os humores do Brasil. Foi cruel, ressalte-se, com o presidente da República, cuja imagem pacífica ficou para trás. O passar dos meses buliu também com a obra do artista plástico carioca Raul Mourão. Logo depois da vitória petista diante de José Serra, inspirado na excitação popular, Mourão produziu graciosos bonecos com a cara do presidente e intitulou o trabalho de ?luladepelúcia?. ?A adoração exagerada me incomodava?, diz Mourão. A crise política atual tratou de conferir um olhar irônico à criação. ?Virou o souvenir oficial da crise?, resume o artista.

A instalação de Mourão, composta por cem bonecos, está exposta na galeria Lurixs Arte Contemporânea, no Rio. Deve passar ainda por Belo Horizonte, São Paulo e Brasília. Cada peça pode ser comprada por R$ 1 mil. Há também unidades embaladas em caixas vendidas a R$ 5,4 mil. O luladepelúcia não é muito diferente do Mao Tsé-Tung em série criado por Andy Wahrol, pai da pop art, nos anos 1960. Trata-se de brincar com a noção da ?irreprodutibilidade da obra de arte?. O palavrão é complicado, mas a idéia é clara: pretende mostrar que não é preciso existir um único trabalho, exclusivo, para que uma tela, uma escultura, qualquer coisa, seja considerada arte. Séries como a de Mourão seguem a trajetória inaugurada por Warhol. ?A proposta da arte contemporânea é questionar, discutir, provocar e dialogar com a sociedade?, diz o professor Marcos Moraes, da Faap, de São Paulo. ?Desse modo, a obra de Mourão cumpre seu papel?.

E aproveita para brincar com uma autoridade em apuros. Nos EUA há bonecos de borracha cujo objetivo é esmagar entre os dedos George W. Bush, numa iniciativa anti-estresse. Há ainda o Bush da coleção ?Talking Presidents?, capaz de emitir 17 frases como ?Venho do Texas? e ?Terrorismo contra nossa nação não vinga?. Desde que a pop art pôs quase tudo nas paredes dos museus, idéias como essa servem aos consumidores mas fazem também a necessária crítica ao consumismo.