O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou nesta quarta-feira, 10, ao juiz federal Sérgio Moro, dos processos da Operação Lava Jato, em Curitiba, que se reuniu com o ex-presidente da Transpetro – subsidiária da Petrobras – Sérgio Machado, o delator que abalou a cúpula do PMDB, ao gravar conversas sobre um “acordão” para “estancar” as investigações, no mesmo dia em que esteve com o ex-presidente da OAS José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro.

Era 3 de junho de 2014 e a Lava Jato estava nas ruas desde março. “O senhor se encontrou com Léo Pinheiro nessa data?”, perguntou o procurador da República Julio Motta Noronha, que também participou do depoimento desta quarta.

“Certamente encontrei, se está na minha agenda, encontrei”, respondeu Lula, ouvido pela primeira vez como réu da Lava Jato, em Curitiba. O petista é réu, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, por suposto recebimento de R$ 3,7 milhões em propinas da OAS, no tríplex do Guarujá (SP), que Lula afirma não ser dele, e no custeio de armazenamento de bens presidenciais.

“O senhor se recorda qual o assunto tratado?”, continuou o procurador. “Não. Pode ser viagem, pode ser a economia brasileira, que nesse momento estava numa situação muito delicada, pode ser a questão eleitoral”, respondeu Lula.

O procurador quis saber se as apurações do escândalo Petrobras foram tema da conversa. “O senhor tratou da Lava Jato?”. “Não”, respondeu o ex-presidente.

PMDB

“Nessa data consta uma reunião do senhor com Léo Pinheiro às 17 horas e uma reunião antes com Sérgio Machado, da Transpetro?”, questionou Noronha. Lula mostrou surpresa: “Na mesma data?”. “Isso”, respondeu afirmativamente, o procurador.

“O Sérgio Machado foi me convidar para a inauguração de um navio, porque eu tomei uma atitude de colocar nome em um navio de personalidades brasileiras históricas, por exemplo, recuperar o nome do marechal negro Antonio Cândido, de colocar de Sérgio Buarque, de colocar de pessoas muito importantes da política brasileira, que tava esquecido. E ele foi me levar alguns modelos, uma réplicas de navios já feita pela Petrobras”, disse Lula.

O registro da agenda do ex-presidente foi entregue pelo próprio Léo Pinheiro, que tenta um acordo de delação premiada com a Lava Jato, pela segunda vez, e confessou há 20 dias a Moro que o tríplex do Guarujá era do ex-presidente e foi propina por negócios da OAS.

Machado é um dos mais de 140 delatores da Lava Jato. Em maio de 2016, conversas gravadas por ele com integrantes da cúpula do PMDB para tentar obstruir os avanços da investigação abalaram o partido do então governo interino de Michel Temer (PMDB).

Nos diálogos, apareceram Romero Jucá, então ministro, o ex-presidente José Sarney e o senador Renan Calheiros, então presidente do Senado. Num deles, Machado e Jucá discutem sobre como “estancar” a Lava Jato – o que acabou provocando sua queda do Ministério do Planejamento, após a repercussão.

As conversas com os graduados peemedebistas, sugerem desde um “pacto nacional” com o Judiciário para evitar que a Lava Jato avançasse sobre novos políticos, até mesmo a tentativa de contato com pessoas “próximas” ao ministro Teori Zavascki, morto em janeiro, então relator da operação no Supremo Tribunal Federal (STF).

Um mês antes, em março, a Odebrecht iniciava oficialmente as tratativas para a maior delação premiada do escândalo Petrobrás – ue arrastou políticos de todo espectro partidário para o foco.

Reuniões

Lula também foi questionado sobre reuniões realizadas com Léo Pinheiro e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, em um mesmo dia de julho de 2014.

“Registro de reunião do dia 25 de julho de 2014. O senhor se encontrou com Léo Pinheiro nessa data?”, perguntou o procurador. “Se está aqui eu devo ter me encontrado. Não tem porque colocar dúvida”, respondeu Lula.

Noronha perguntou se ele recordava qual foi o assunto tratado. “Não sei o que foi tratado ou não”, respondeu o petista.

“Nesse dia consta uma reunião às 16 horas com Léo Pinheiro e uma reunião com João Vaccari Neto às 14h30”, continuou o procurador.

“Não vou saber se encontrei com João Vaccari em 25 de julho. Agora, se está aqui na minha agenda, e essa agenda foi feita pelo meu pessoal, certamente eu me encontrei”, disse Lula.

O procurador insistiu se ele recordava o assunto da conversa com Vaccari e especificou o interesse: “Houve algum assunto comum que o senhor tratou com João Vaccari e Léo Pinheiro nessa data?”. “Não”, respondeu o ex-presidente.

“Tratou do tríplex nessa data?”, questionou Noonha. “Vou reforçar aqui, o Vaccari nunca tratou comigo de tríplex”, disse Lula.