30/01/2025 - 11:32
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou a jornalistas ter “confiança” no Banco Central sob gestão de Gabriel Galípolo, atual presidente da autarquia, indicado pelo governo. A fala ocorre um dia após o anúncio de uma nova alta na taxa básica de juros brasileira, a Selic.
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Lula afirmou que “não esperava milagre” na primeira decisão tomada pelo órgão com a presidência de Galípolo. “O presidente do Banco Central não pode dar um cavalo de pau num mar revolto”, disse. ““Já estava praticamente demarcada a necessidade da subida de juros pelo outro presidente, e o Galípolo fez o que ele entendeu que deveria fazer. Nós temos consciência que é preciso ter paciência.”
Na quarta-feira, 29, o Comitê de Política Monetária (Copom) ajustou a Selic em um ponto percentual para 13,25%. A alta já estava sinalizada na ata publicada pelo órgão em seu último encontro, no começo de dezembro, ainda na gestão de Roberto Campos Neto. Foi sinalizado porém que deverá ocorrer outro aumento da mesma magnitude na próxima reunião, a ser realizada em março.
Ainda assim, o presidente afirmou esperar uma queda de juros no futuro. “Eu tenho 100% de confiança no trabalho do Banco Central. Eu tenho certeza que ele vai criar condições para entregar para o povo brasileiro uma taxa de juros menor no tempo em que a política permitir que ele faça.”
Durante os primeiros anos de seu mandato, o presidente Lula fez duras críticas ao patamar elevado dos juros brasileiros. O BC era então comandado pelo economista Roberto Campos Neto, indicado por Jair Bolsonaro durante o governo anterior.
Otimismo com a a economia
O presidente demonstrou ainda otimismo com o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Lula afirmou que a economia cresceu “3,5% ou 3,7%” no ano passado, acrescentando que terminará seu mandato “em situação extremamente positiva”. Disse ainda que este ano é o mais importante de seu mandato, pois o governo irá “colher” frutos do que realizou nos dois anos anteriores.
A última edição em 2024 do Boletim Focus, que reúne previsões do mercado financeiro para a economia brasileira, apontavam uma alta de 3,50% no PIB do ano passado. Os dados oficiais ainda não foram divulgados.
Já as projeções para o crescimento da economia em 2025 estão encolhendo. O Focus estimou alta de 1,7% na última segunda-feira, contra 1,8% há quatro semanas. O aperto monetário é apontado como um dos principais motivos para a desaceleração.
Risco fiscal
Para além da inflação elevada, analistas do mercado financeiro tem apontado a situação fiscal do país como outro fator decisivo para a necessidade de uma alta dos juros. Um pacote de ajustes apresentado pelo Ministério da Fazenda em novembro foi considerado insuficiente.
Lula afirmou que não vê necessidade de novas medidas fiscais, mas afirmou que poderá reconsiderar a depender do cenário. Ele enfatizou que um cenário de estabilidade fiscal é muito importante para seu governo e que buscará o menor déficit possível.
De acordo com o presidente, o déficit primário de 0,1% do Produto Interno Bruto (PIB) observado em 2024 — ainda não divulgado oficialmente — pode ser considerado um déficit zero. A meta fiscal do ano passado era de déficit zero, com margem de tolerância de 0,25 ponto percentual do PIB.
Inflação dos alimentos
Em meio às discussões do governo sobre medidas para reduzir a inflação de alimentos, o presidente disse que não adotará nenhuma ação “de bravata” e não vai implementar nenhuma medida que estabeleça um mercado paralelo.
Ele afirmou que o governo quer incentivar o aumento da produção no país e acrescentou que vai conversar com produtores de carne para avaliar a necessidade de adotar medidas para que esse mercado “volte à normalidade”.
Em relação ao sistema anunciado pelo governo para ampliar a concessão de financiamentos com desconto em folha para trabalhadores privados, Lula disse que esse será o maior programa de crédito do país, ponderando que a efetivação da medida ainda depende de ajustes jurídicos.