Ao detalhar a denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da  Silva e seus familiares por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica  envolvendo o tríplex no edifício Solaris, no Guarujá, o promotor Cássio  Conserino, do Ministério Público de São Paulo, relatou que a  investigação ouviu depoimentos de várias testemunhas envolvidas com a  obra que moram no prédio e que o ex-presidente era tratado como um  ”mascote” do edifício pelos corretores de imóveis.

“Todos  disseram que o ex-presidente Lula era o mascote da vendas unidades. Eles  sinalizavam para os eventuais compradores (de unidades do Solaris) que  poderiam jogar bola com o presidente, passear com o ex-presidente da  República no condomínio. E que teriam mais segurança por conta da  presença da figura ilustre do ex-presidente da República”, disse  Conserino.

Ele explicou que foram ouvidas ao menos 20  testemunhas, inclusive funcionários do edifício, nas investigações que  relataram que o imóvel era destinado a Lula e a sua família. O petista é  acusado de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.

“O  ex-presidente foi indevidamente contemplado com o tríplex. Agora, o que  foi colocado dentro do tríplex é de competência do Ministério Público  Federal. Reforma que custou quase R$ 800 mil, mobília que custou R$ 300  mil. Dois milhões de reais. Qual é o empresário que tomaria uma postura  dessas e inseriria tantas benfeitorias naquele apartamento se não fosse  já previamente reservado e destinado a alguém (a família Lula)?”, seguiu  Conserino.

Ele lembrou ainda que a família do petista, que  adquiriu cotas do empreendimento da Bancoop e teve a opção por receber o  dinheiro de volta ou ficar com o apartamento depois que a cooperativa  ficou insolvente, em 2009, e os imóveis do empreendimento foram  repassados para a empreiteira OAS. “A família presidencial teve seis  anos para pensar se permaneceria (no prédio) da OAS. Ao que parece só  desistiu por conta da investigação”, disse Conserino.

Para o  promotor, a família Lula só desistiu de adquirir o empreendimento  depois que o caso veio à tona pela imprensa. “Só não houve a terceira  etapa da integralização porque o órgão de imprensa (Revista Veja)  noticiou essa situação e eles (Lula e sua família) resolveram por bem  largar o condomínio às pressas. Desde sempre aquele imóvel esteve  reservado para o ex-presidente. A OAS nunca comercializou aquele imóvel  com quem quer que seja. A ordem era essa, segundo constou dos  depoimentos dos corretores”, afirmou.

Os promotores  destacaram que outros imóveis, no mesmo condomínio Solaris, estão sob  investigação, inclusive um que seria do ex-tesoureiro do PT, João  Vaccari Neto, e “outros imóveis estavam reservados a outros integrantes  daquela ideologia política e que não eram objeto de comercialização”.

“Há  uma gama de provas testemunhais e documentais que refletem essa  situação. Não ficamos só num segmento. Mesclamos todo tipo de  informação. O proprietário da empresa que fez a reforma no tríplex  disse: ‘entregamos para a ex-primeira dama e seu filho'”.

São  acusados 16 investigados pela Promotoria paulista. Além de Lula, foram  denunciados a ex-primeira-dama Marisa Letícia, o filho mais velho do  casal Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha, e mais 13 investigados. Na  lista estão o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o empresário Léo  Pinheiro, da empreiteira OAS, amigo de Lula, e ex-dirigentes da  Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop).

A  investigação mostrou que a empreiteira OAS bancou uma reforma  sofisticada do apartamento, ao custo de R$ 777 mil. Segundo o engenheiro  Armando Dagre, sócio-administrador da Talento Construtora, contratada  pela OAS, os trabalhos foram realizados entre abril e setembro de 2014.

Em  2006, quando se reelegeu presidente, Lula declarou à Justiça eleitoral  possuir uma participação em cooperativa habitacional no valor de R$ 47  mil. A cooperativa é a Bancoop que, com graves problemas de caixa,  repassou o empreendimento para a OAS.

Lula apresentou sua defesa por escrito no inquérito da Promotoria. O petista afirma que não é o dono do tríplex.