13/09/2006 - 7:00
A 20 dias das eleições, duas tendências parecem se consolidar. A primeira é a percepção de que Lula já embarcou para o segundo mandato numa velocidade supersônica ? e há chances de que isso ocorra no primeiro turno. A segunda é a guinada no manche dos empresários. Eles, que preferiam a vitória do tucano Geraldo Alckmin, agora tentam se reaproximar do presidente. E isso pode ser medido de várias formas. No aspecto concreto, das doações de campanha, soube-se na semana passada que Lula foi o candidato que mais levantou recursos: R$ 22,6 milhões. Sua arrecadação, que era inferior à de Alckmin, disparou e cresceu 190% no último mês. Se isso não bastasse, cada vez mais empresários têm procurado se encontrar com o presidente para tentar influir no segundo mandato. Foi isso que aconteceu na noite da segunda-feira 4, quando Roberto Setubal (Itaú), Gabriel Jaramillo (Santander), Josué Gomes da Silva (Coteminas), Michel Klein (Casas Bahia), Constantino Júnior (Gol) e Paulo Skaf (Fiesp), entre muitos outros, se sentaram à mesa para um jantar fechado com o presidente na casa do ministro Luiz Fernando Furlan ? o segundo em duas semanas. Lá, onde se serviu uma paella, Lula fez uma confidência. ?Será difícil perder a eleição?, disse o presidente com total naturalidade. No dia seguinte, entre empresários do turismo, Lula repetiu a mesma frase.
A percepção de que o quadro eleitoral é irreversível tomou conta não só do presidente como também de muitos empresários. Nas pesquisas do Lide, um grupo de líderes empresariais, 90% declaram voto em Alckmin, mas apenas 40% dizem acreditar na sua vitória. Sendo assim, muitos têm preferido compor com o ?cavalo vencedor?. No jantar de Furlan, enquanto alguns cobravam medidas pontuais de apoio do governo, outros tentavam conhecer melhor a mente do presidente. Ivo Rosset, da Valisére, disse que o setor têxtil chegou ao limite e pediu estímulos fiscais. O ministro Guido Mantega, presente ao jantar, prometeu estudar a questão, mas seu colega Paulo Bernardo, do Planejamento, admitiu que há pouco espaço para cortes de impostos. Outro ponto alto do jantar foi a inversão de papéis entre o banqueiro Setubal e o presidente Lula. Enquanto o dono do Itaú disse que o Brasil já tem totais condições de acelerar o crescimento, Lula revelou uma face conservadora. Admitiu que houve um erro na dosagem dos juros em 2005, mas disse que prefere errar por cautela do que por pressa. E garantiu que, no segundo mandato, não haverá guinada à esquerda. ?Se eu não fiz maluquice no primeiro mandato, por que faria no segundo??, indagou, pouco antes de dizer que seu partido, o PT, foi ferido de morte.
Todos esses encontros com o presidente têm sido marcados pela informalidade, mas faz-se sempre a ressalva de que não se trata de um evento de campanha. Abre-se então a palavra a cada um dos convidados para que faça um rápido balanço de seu setor de atividade e apresente suas prioridades. Quem chamou a atenção foi Sérgio Barroso, da Cargill, que se fartou em elogios. Passando por cima da crise do campo, ele disse, para constrangimento dos presentes, que Lula foi o presidente que mais fez pela agricultura. Mais realista, o presidente da Associação Brasileira de Supermercados, João Carlos de Oliveira, informou que, graças à queda dos preços, o volume de vendas subiu, embora a receita dos supermercados tenha caído. E fez uma crítica ao Bolsa-Família, ao dizer que não basta ?dar o peixe?. Nesse ponto, Lula retrucou e foi incisivo. ?A queda dos juros pode esperar um mês; a fome, não?, disse Lula.
Na prática, os empresários estão aproveitando as oportunidades para bater na mesma tecla: a de que o País tem pressa para reduzir o fosso em relação à Índia e à China. Correndo por fora, Alckmin também tem feito acenos aos empresários. Na terça-feira 5, ele se encontrou com representantes da indústria de base, como Paulo Godoy, e prometeu reforçar as agências reguladoras. ?Os investimentos não saem do papel porque o Brasil não cresce e o empresário não confia?, disse ele. Paulo Skaf, da Fiesp, tem mantido canais abertos com os dois candidatos e prega que ambos assumam o compromisso de realizar, em 2007, as reformas política, tributária e trabalhista. E mesmo os empresários simpáticos ao presidente Lula estão fazendo pressão por mudanças. É o caso do usineiro Maurílio Biagi Filho, um dos maiores do País, que não se cansa de elogiar o programa de biocombustíveis. Ele, porém, adverte que, ao manter a carga tributária, o governo não mostra interesse em fazer o País crescer. Mesmo assim, Biagi apóia Lula. ?Ele nos ouve?, diz ele. Ouvir, Lula até que ouviu muito nos últimos dias. Resta saber se colocará as idéias em prática.