29/02/2012 - 21:00
Foi esta a lógica do professor Gregory Chin, da Universidade de York, no Canadá, ao escrever um artigo no site do Financial Times defendendo a escolha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para presidir o Banco Mundial. Robert Zoelick, que já foi descrito por Lula como o “sub do sub do sub” quando fez críticas à atuação do Brasil nas negociações para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e está no cargo desde 2007, deixa o posto em junho. A sugestão não agradou à maioria dos leitores de Chin. Muitos argumentaram que as credenciais políticas de Lula não serviam ao Banco Mundial, uma instituição que deveria ser gerida por critérios técnicos.
Robert Zoelick, que já foi descrito por Lula como o “sub do sub do sub” quando criticou
o Brasil nos debates sobre a Alca, deixa a presidência do Banco Mundial em junho.
Criada em 1944 a partir das conferências de Bretton Woods, nos Estados Unidos, com o nome oficial de Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento, tinha junto com o FMI a função de garantir a estabilidade do sistema financeiro, ajudar a Europa destruída pela guerra e evitar que o empobrecimento do continente gerasse um novo confronto. Mas a politização do debate sobre o novo papel das instituições de Bretton Woods, num mundo que mudou muito nos últimos 60 anos, é justamente o que interessa aos países em desenvolvimento, especialmente ao Brasil.
O governo já tentou emplacar essa discussão na sucessão do FMI, mas resolveu fechar com os europeus por achar que o candidato mexicano (oficialmente, um representante latino-americano) era próximo demais dos Estados Unidos. Desde o início, europeus e americanos dividiram entre si a direção do FMI e do Banco Mundial. A sugestão de que Lula quebre a tradição veio de fora, mas foi bem recebida no Brasil. Nos Estados Unidos, o nome que mais aparece é o da secretária de Estado Hillary Clinton. Nos últimos anos, o Banco Mundial ganhou importância no Brasil no financiamento de projetos dos governos estaduais. No ano passado, o governo federal pagou antecipadamente US$ 6,7 bilhões de projetos ainda em andamento.
Como cada país só tem direito a um crédito de no máximo US$ 16,5 bilhões, o governo federal quis abrir espaço para os empréstimos dos Estados e municípios, especialmente os programas ligados ao Brasil Sem Miséria e Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Hoje a carteira do Banco Mundial com os três níveis de governo soma US$ 9,1 bilhões e outros US$ 6 bilhões devem ser liberados nos próximos dois anos. Para o governo federal, estimular os Estados a buscar esses recursos também ajuda na governança. Junto com o dinheiro, o Banco Mundial entrega projetos e consultores para acompanhá-los.
Dificilmente Chin terá sucesso em sua sugestão. Assim como aconteceu com o FMI no ano passado, o mais provável é que o arranjo europeus-americanos continue funcionando. Mas a discussão pode ajudar a acelerar o debate sobre o maior papel dos países em desenvolvimento nos rumos dessas instituições – mesmo sem dirigi-las. Assim como aconteceu com o FMI, está em curso no Banco Mundial uma reforma na composição das cotas. Juntos, os países desenvolvidos têm 52% dos votos. O Brasil, com 2,06%, divide uma cadeira no conselho de 25 membros com outros oito países. A meta do banco é igualar a participação entre desenvolvidos e em desenvolvimento. Já é um avanço.