No Brasil, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva já demonstrou seu talento de líder popular. Na semana passada, ao enfrentar o primeiro teste internacional, provou que esse carisma extrapola as fronteiras do País. Lula está sendo visto como uma celebridade global. Líderes estendem a ele o máximo do protocolo, multidões se aprontam para vê-lo passar e fãs mal se controlam diante da sua presença. Assim ele foi recebido na Argentina e no Chile, onde esteve entre a segunda-feira 2 e a quarta 4. Assim será nos Estados Unidos e no México, entre os dias 10 e 11, quando irá se avistar com os presidentes George W. Bush e Vicente Fox. Viajando a bordo
de um jato Legacy, da Embraer, e usando sapatos Giacometti, produzidos em Franca, no interior paulista, Lula também fez questão de inaugurar a diplomacia do produto nacional. E todo o seu magnetismo pode ser revertido em vantagens econômicas para o Brasil. No sábado 7, o presidente eleito terá um encontro com o diretor-gerente do FMI, Horst Köhler, quando serão definidos os termos do acordo que permitirá ao Brasil sacar US$ 24 bilhões no próximo ano. ?Não pedirei nenhum esforço adicional?, disse Köhler. O economista Delfim Netto, velho sábio de Brasília, diz que o encontro é uma prova de que os líderes internacionais farão de tudo para apoiar o futuro presidente.

 

Na Argentina, abalada pela maior crise econômica de sua história, Lula foi recebido na segunda-feira 2 como uma espécie de salvador, exatamente no dia em que terminou o corralito, fato que despejou US$ 6 bilhões na economia local. Na elegante residência oficial de Olivos, o presidente Eduardo Duhalde teve com ele um encontro a sós de 40 minutos. Em seguida, ambos abriram uma reunião de ministros argentinos e integrantes da comitiva brasileira que traçou os primeiros pontos de uma agenda de relançamento do Mercosul. Foi marcada uma nova reunião entre representantes dos dois países, de caráter oficial, em 14 de janeiro. Em Olivos, Lula fez um discurso de tom crítico. ?Nos últimos anos, opções econômicas e políticas equivocadas, que não estavam de acordo com o interesse nacional, nos conduziram a sucessivas crises?, atacou. ?Temos que retomar os ideais dos anos 80, que nos impeliram a buscar uma aproximação de países da América do Sul, superando rivalidades artificiais.?

Na Prefeitura de Buenos Aires, pouco mais tarde, Lula recebeu o diploma de cidadão ilustre. Uma cerimônia acompanhada por dezenas de sindicalistas e representantes da associação Avós e Mães da Praça de Maio, o mais combativo grupo de resistência ao antigo regime militar do país. Uma das líderes da organização, Tati de Almeyda, entregou ao presidente eleito um lenço branco, igual aos usados pelas mulheres em suas passeatas. ?É em nome dos 30 mil presos políticos desaparecidos durante a ditadura?, disse. ?Bem que nós gostaríamos de ter um líder como Lula?, acrescentou Estela Carlotto, presidente do grupo de avós. O Congresso argentino também quis ver Lula de perto, o que aconteceu na tarde da mesma segunda. Duzentos parlamentares o aplaudiram de pé no final de um discurso em que o presidente eleito foi enfático em suas críticas às políticas econômicas dos dois países. Do lado de fora, dezenas de pessoas se aglomeravam para, ao menos, tocar em Lula. Ele ignorou o esquema de segurança e foi abraçar seus fãs. ?Ele também é nosso presidente?, garantiam.

 

No Chile, Lula foi recebido na terça-feira 3 pelo presidente Ricardo Lagos como ?um velho amigo?. Aproveitando-se da intimidade manifestada por Lagos, Lula perguntou a ele diretamente se o Chile, apesar das negociações comerciais diretas com os Estados Unidos, tem interesse em participar do Mercosul. Ouviu um sim como resposta e imediatamente determinou ao senador eleito Aluizio Mercadante a montagem de um grupo de trabalho para tratar do tema. Na volta ao Brasil, Lula continuou se dedicando aos contatos internacionais. Em Brasília, na quinta 5, ele recebeu na Granja do Torto os presidentes do Uruguai, Jorge Battle, e do Paraguai, Luiz Gonzáles Macchi. Nos Estados Unidos, Lula deve marcar novos tentos. O polêmico secretário do Tesouro, Paul O?Neill, disse que até agora Lula só acertou. O secretário de Estado, Colin Powell, foi além. ?Todos nós, da alta administração americana, estamos ansiosos para conhecê-lo e também muitos dispostos a ajudar o Brasil?, disse. O carisma e o charme de Lula contam a nosso favor. Mesmo lá fora.