14/04/2022 - 15:14
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) – Em um encontro com as centrais sindicais, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu nesta quinta-feira, mais uma vez, refazer a reforma trabalhista, mas garantiu que tudo será feito em mesas de negociações.
“Queremos chamar as centrais sindicais e o presidente da Fiesp, da Febraban… não vamos deixar ninguém de fora”, afirmou. “Não queremos negar ao empresário, ao banqueiro, ao comerciante, ao fazendeiro o direito de falar. Mas eles têm que falar em uma mesa de negociação onde os trabalhadores estejam representados.”
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Em reunião do diretório nacional do PT na quarta-feira, o partido foi além do que Lula e outros representantes do partido têm falado recentemente e aprovou uma revogação da maior parte da reforma trabalhista aprovada no governo Temer, e não uma revisão, como Lula vinha falando.
De acordo com uma fonte ouvida pela Reuters, o sentido é revogar o que prejudicou os trabalhadores –o que, na avaliação do partido, é praticamente tudo– e construir uma nova legislação trabalhista em negociação que reúna governo, empresários e trabalhadores.
No encontro com as centrais, a necessidade de negociação, mas com os trabalhadores representados, foi o tom dado por Lula, que reclama constantemente de negociações e debates onde os trabalhadores nunca foram consultados.
O ex-presidente deixou claro, no entanto, que a intenção não é simplesmente revogar a reforma e voltar à legislação anterior.
“Não adianta dizer ‘nós vamos mudar tudo e voltar ao que era antes’. Nós nem queremos o que era antes. Nós queremos melhorar as coisas. Queremos adaptar uma nova legislação trabalhista à realidade atual. Não queremos voltar a 1943, queremos fazer um acordo em função da realidade dos trabalhadores em 2023. A gente não quer voltar para trás, a gente quer avançar”, afirmou.
A promessa de Lula de mudar a reforma trabalhista é um dos pontos do plano de governo do petista que tem incomodado empresários, os principais beneficiados pela reforma do governo Temer. Lula, no entanto, garante que nada seria feito sem negociação, mas não pretende mudar de ideia.
Sua principal crítica é em relação aos trabalhadores de aplicativos e ao chamado trabalho intermitente.
“Nós não somos contra o jovem querer trabalhar entregando comida ou qualquer coisas de bicicleta ou moto. O que nós somos contra é eles não serem respeitados como trabalhadores”, disse.
Em seu discurso, Lula afirmou ainda que terá que fazer uma reforma tributária.
“Vamos ter que fazer uma reforma tributária que leve em conta que quem ganha mais tem que pagar mais. Uma reforma que não permite que a pessoa que viva com seu salário de 3, 4 mil reais, ao comprar um produto, pague o mesmo o que paga o presidente de um banco”, disse.
ALCKMIN
O evento com as centrais sindicais foi o primeiro em que o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) apareceu ao lado de Lula como candidato a vice. A chapa foi aprovada na quarta-feira pelo diretório do PT.
Antes visto como inimigo das centrais, Alckmim foi muito bem recebido pelos sindicalistas, recebeu elogios e aplausos. Em um rápido discurso, o ex-tucano mostrou que vestiu a camisa.
“É nesse momento de desespero, de estômago vazio, fome, morte, que o Brasil se agiganta nessa reunião histórica. Venho somar meu esforço, pequeno, humilde, mas de coração, ao de vocês”, discursou. “A luta sindical deu ao Brasil o maior líder popular desse país, Lula, Lula! Viva lula, viva os trabalhadores desse país.”
Em seu discurso, o ex-presidente não esqueceu de citar seu companheiro de chapa e afirmou que é “perfeitamente possível” unir os dois para “reconquistar os direitos dos trabalhadores”. Lula chegou a dizer que seu vice-presidente poderia, por exemplo, coordenar uma mesa de negociações entre empresários e trabalhadores sobre a nova reforma trabalhista que quer propor.
“Vamos juntar as duas experiências para tentar reconstruir em quatro anos o que eles destruíram”, disse.
O lançamento da pré-candidatura de ambos será no dia 7 de maio, no centro de eventos do Anhembi, em um evento que vem sendo chamado de “movimento pró Lula”, já que a lei eleitoral não permite eventos de candidatura antes de agosto.