O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta quarta-feira, 27, que pretende renomear o Auxílio Brasil para “Bolsa Família” e voltou a dizer que vai manter o valor do benefício a R$ 600, o mesmo fixado este ano pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), que busca a reeleição. Contudo, o petista ponderou que o valor não pode ser o mesmo para todas as famílias.

“Nós vamos retomar o Bolsa Família a R$ 600. Obviamente você tem que levar em conta o número de pessoas por família, não tem que ser igual para todo mundo”, disse, em entrevista ao UOL.

Assim como Lula, o atual presidente da República tem prometido que vai articular para manter o valor do programa em R$ 600. O chefe do Executivo, inclusive, tem usado o atual valor do benefício para fazer comparações com os governos do PT, que destinavam quantias menores aos programas de transferência de renda.

O presidente Bolsonaro aumentou o valor do benefício – de R$ 400 para R$ 600 – por meio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) “Kamikaze”. O texto, criticado por especialistas em contas públicas por aumentar os gastos do País e abrir margem para rombo fiscal, foi articulado pelo Planalto e tem validade até dezembro. O custo do pacote de bondades é de R$ 41,25 bilhões.

O ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro falam sobre manter o Auxílio Brasil (ou Bolsa Família) em R$ 600.

O ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro falam sobre manter o Auxílio Brasil (ou Bolsa Família) em R$ 600.

A proposta estabelece ainda “estado de emergência” no País, permitindo driblar o teto de gastos – regra que limita as despesas públicas à inflação do ano anterior.

O petista criticou o fato de as “bondades” de Bolsonaro terem duração até dezembro e defendeu que benefícios como o da PEC sejam implementados de forma permanente. “Não precisa utilizar o povo como massa de manobra porque o povo está com fome, pode ser um programa feito de forma permanente. Ele fez até dezembro, agora percebeu a bobagem que fez e está falando nos comícios que vai deixar, que depois de dezembro vai ser fixo, mas a lei que ele fez vai até dezembro”, disse.

O ex-presidente afirmou ainda que o Brasil “não precisa de teto de gastos”, somente de “credibilidade”. O ex-presidente já disse outras vezes que pretende revogar a regra e desfazer outras medidas econômicas adotadas após o fim dos governos do PT, como a reforma trabalhista. O petista também afirmou que pretende mudar a política de preços da Petrobras, que hoje opera no modelo PPI (paridade de preço internacional), implementado pelo governo de Michel Temer.

‘Militares são mais responsáveis que Bolsonaro’

Lula disse não acreditar que possa haver um golpe de Estado por parte do presidente Jair Bolsonaro após as eleições de outubro. O petista comparou o chefe do Executivo ao ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que agiu para desacreditar o processo eleitoral daquele país, mas afirmou que uma investida contra a democracia brasileira não teria apoio das Forças Armadas e da sociedade, e que o presidente “vai pagar um preço caro” se “começar a brincar com a democracia”.

“Nós temos que ter em conta que os militares são mais responsáveis do que Bolsonaro”, disse, em entrevista ao UOL nesta quarta-feira, 27. “Mantive oito anos de convivência da forma mais digna possível, eles nunca me criaram um único problema”.

“Não acredito em golpe, não acredito que as Forças Armadas aceitem isso, não acredito que a sociedade brasileira permita. Se esse cidadão começar a brincar com a democracia, ele vai pagar um preço muito caro”, completou, acrescentando ter certeza de que as “bobagens” que Bolsonaro fala não têm apoio dos militares da ativa.

No dia 18 de julho, o chefe do Executivo convidou dezenas de embaixadores estrangeiros para uma reunião no Palácio do Alvorada, desacreditou o sistema eletrônico de votação e tentou descredibilizar os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cuja atribuição é garantir a lisura das eleições. A atitude foi repudiada por organizações da sociedade civil, juristas, magistrados e lideranças políticas.

O petista prometeu ainda que, se eleito, nomeará um representante da sociedade civil para o comando do Ministério da Defesa. Hoje, a pasta é chefiada pelo general Paulo Sérgio Nogueira, do Exército. “Eu, quando era presidente, conversei várias vezes com meus comandantes e eles me diziam que não é prudente colocar um militar no Ministério da Defesa”, afirmou.

O ex-presidente argumentou que Nogueira deveria fazer “um discurso para dizer em alto e bom som que as Forças Armadas não deveriam dar palpite sobre urnas”. Segundo o petista, “discutir urna é assunto da Justiça Eleitoral”. Como mostrou o Estadão, os militares preparam um programa próprio de fiscalização da eleição. A Defesa montou uma equipe de oficiais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica com a missão específica de elaborar o roteiro inédito de atuação no pleito.

O próprio TSE convidou militares para fiscalizar o processo eleitoral. No ano passado, o então ministro presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, procurou o então ministro Walter Braga Netto para pedir o envio de um representante militar para a Comissão Externa de Transparência a ser instituída no tribunal por ocasião das eleições.

Lula também criticou o fato de o presidente ter estabelecido sigilo de 100 sobre informações relativas a “assuntos espinhosos” de seu governo, e defendeu revogá-los. O último caso foi sobre os encontros entre ele e os pastores lobistas do Ministério da Educação (MEC), Gilmar Santos e Arilton Moura, suspeitos de pedirem propina para liberar recursos a prefeituras.

Reeleição

O petista voltou a descartar uma eventual tentativa de reeleição, se for eleito. Ele disse ser a favor do dispositivo da reeleição, sem pregar pelo fim dele, como já fizeram outros candidatos, mas disse “não ter idade” para cumprir dois mandatos. Segundo o ex-presidente, sua intenção é fazer “o melhor governo” possível em quatro anos, sem tentar renovar para oito. Lula disse ser uma “decisão sua” não tentar a reeleição.

STF

Sobre o atual clima entre os Poderes, o ex-presidente afirmou que a politização do Supremo Tribunal Federal (STF) é culpa da própria classe política. “Qualquer coisa entram com recurso no Supremo, tem coisa que tem de ser resolvida no plenário da Câmara”, disse. O petista disse ter expectativa de “voltar à normalidade”: “O Executivo governa, o Legislativo legisla e o Judiciário julga”.