02/07/2025 - 10:03
O presidente argentino, Javier Milei, receberá seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, na quinta-feira (3), em uma cúpula do Mercosul marcada pela tensão entre os dois líderes e a possível visita de Lula à ex-presidente Cristina Kirchner, que está em prisão domiciliar.
Será a primeira visita de Lula à Argentina desde que Milei assumiu o cargo em dezembro de 2023, e não está previsto um encontro bilateral entre os dois líderes.
O Mercosul, formado por Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e Bolívia, realiza sua cúpula semestral de chefes de Estado nesta quarta e quinta-feira no Palácio San Martín, em Buenos Aires.
Nesta quarta-feira, os ministros da Economia e das Relações Exteriores se reunirão e, na quinta-feira, às 9h30 (horário local e de Brasília), ocorrerá a sessão plenária dos presidentes, com a presença de Milei, Lula, Santiago Peña (Paraguai), Yamandú Orsi (Uruguai) e Luis Arce (Bolívia).
O ultraliberal Milei e Lula sempre tiveram uma relação tensa.
Admirador do americano Donald Trump, Milei chamou Lula de “ladrão” e “corrupto”, enquanto Lula respondeu que o argentino fala “muita bobagem”.
Nos últimos meses, o tom suavizou e as relações diplomáticas se acalmaram, mas os dois líderes se evitaram em diversas ocasiões, apesar de terem se encontrado em fóruns no último ano e meio, incluindo o G20 no Rio de Janeiro.
– Acordos –
A reunião semestral acontece em um momento em que as relações entre o Brasil, a maior economia do Mercosul, e a Argentina vivem “o ponto mais baixo em décadas”, disse à AFP Ariel González Levaggi, diretor do Centro de Estudos Internacionais da Universidade Católica Argentina.
“Talvez estejamos vivendo os piores momentos da relação entre Brasil e Argentina em termos de convergência política”, concordou Juliana Peixoto, especialista em Relações Internacionais da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais.
Apesar das discrepâncias entre as duas maiores economias do Mercosul, os membros fundadores do bloco (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) concordaram em aumentar em 50 itens por país o número de produtos isentos da tarifa externa comum.
Gisela Padovan, secretária para América Latina e Caribe do Itamaraty, explicou que este acordo atende a uma solicitação da Argentina derivada da “situação global da questão tarifária”.
Um acordo comercial com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA), que inclui Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein, também será anunciado durante a cúpula, segundo fontes familiarizadas com as negociações.
O encontro de presidentes também visa reafirmar a importância para o Mercosul do acordo de livre comércio com a União Europeia, assinado em dezembro passado após 25 anos de negociações, mas que precisa ser ratificado pelos países europeus e enfrenta a oposição da França.
A Comissão Europeia anunciou na segunda-feira que deve apresentar o texto legal do acordo de livre comércio com o Mercosul nos próximos dias, a fim de abrir o processo de revisão e discutir sua ratificação.
“Hoje, a bola está na quadra da Europa”, enfatizou González Lavaggi.
– Visita a Kirchner? –
Na terça-feira, a ex-presidente argentina Cristina Kirchner, ferrenha opositora de Milei, solicitou autorização judicial para que Lula a visitasse em sua residência em Buenos Aires, onde cumpre pena por corrupção.
Condenada a seis anos de prisão e inabilitação perpétua para exercer cargos políticos por fraude administrativa, Kirchner cumpre pena desde junho em seu apartamento no bairro de Constitución, em Buenos Aires.
Para que a visita de Lula ocorra, o tribunal precisa autorizar o pedido da defesa.
A Presidência brasileira ainda não deu como certa a reunião. “Ainda não sabemos. A agenda ainda está em construção”, disse uma fonte do Palácio do Planalto.
A Argentina ocupa a presidência rotativa do Mercosul até quinta-feira, quando Milei a entregará a Lula na cúpula de chefes de Estado.