29/11/2006 - 8:00
Era muito fácil se tornar amigo do
engenheiro mineiro Roberto Gutierrez. Embora fosse um dos homens mais ricos e poderosos do País, sócio da construtora Andrade Gutierrez, da operadora Telemar e das grandes concessionárias de estradas, ele parecia estar muito mais à vontade na pele de ?vaqueiro?, com seus chapéus e botas, do que na de empresário. Com jeito simples e ar de pecuarista, ele cativava rapidamente seus interlocutores. Era também assim que ele recebia, na sede da Andrade Gutierrez, em Belo Horizonte, seus parceiros de negócios e alguns dos principais políticos do País. Na manhã da sexta-feira 17, porém, Roberto foi vítima de um acidente vascular cerebral fulminante. Morreu enquanto dormia, na sede da sua fazenda Querença, em Inhaúma, pequena cidade mineira. Roberto partiu precocemente, com apenas 53 anos, e sua morte surpreendeu a todos. ?Estamos consternados?, disse à DINHEIRO o empresário Sérgio Andrade, que preside o conselho de administração do grupo.
Roberto era um dos três membros do conselho. Filho de Flávio Gutierrez, um dos fundadores da construtora, ele representava 33,3% dos acionistas da empresa que é hoje um dos maiores grupos privados do País, com faturamento anual próximo a R$ 5,5 bilhões. Os outros dois são Sérgio e Álvaro Andrade, filhos dos fundadores Roberto e Gabriel Andrade ? este último, o único ainda vivo. Com sua morte, abre-se a vaga da família Gutierrez. ?Ainda não definimos nada?, disse Sérgio. Roberto deixou duas irmãs, Ângela e Cristiana, e três filhos: Flávia, Rodrigo e Henrique. O do meio, um administrador de empresas de 23 anos, é o único que já trabalha na construtora. ?A única coisa certa é que o nosso conselho continuará sendo um grupo de amigos, e não apenas de sócios?, disse à DINHEIRO Ângela Gutierrez, ainda muito abalada pela perda do irmão. ?É essa amizade que tem feito a empresa crescer.?
Embora fosse um ?homem do mato?, apaixonado pela sua criação de gado da raça Brahman, Roberto teve um papel importante no conselho. Apoiou a diversificação da Andrade Gutierrez, que deixou de ser apenas uma empreiteira e tornou-se um gigante na telefonia e nas concessões, administrando estradas como a Dutra, a Anhangüera-Bandeirantes e a Ponte Rio-Niterói. Hoje, do bolo total de receitas, R$ 2,5 bilhões vêm da construção pesada, R$ 2 bilhões da telefonia e R$ 1 bilhão das concessões rodoviárias. ?Há muito tempo nós decidimos profissionalizar a gestão de todas as empresas e isso sempre evitou conflitos internos?, aponta Sérgio. Três anos atrás, os conselheiros também aprovaram o plano 2003-2013 para a Andrade Gutierrez. Era assim, distante do cotidiano das empresas, que Roberto se dedicava aos negócios pessoais. Um deles, o hotel Águas do Treme, também em Inhaúma, é o principal resort de pesca da América Latina, com um lago artificial de 60 hectares. Construído e decorado com extremo bom gosto, o hotel tem quadros de Cândido Portinari e uma réplica da Igreja da Matriz de Nossa Senhora do Laredo, de Salvador. É lá que se casam as celebridades da sociedade mineira. Roberto morreu no dia em que Renato Azeredo, filho do ex-governador mineiro Eduardo Azeredo, se casou no Águas do Treme.