27/08/2003 - 7:00
música ambiente reúne clássicos, como o piano de Ernesto Nazareth e as cordas de Jacob do Bandolim. Uma aconchegante biblioteca abriga com destaque a obra de Machado de Assis. Os detalhes da decoração, esculturas e quadros são assinados por novos talentos do Norte e Nordeste do País. Esse cenário tipicamente brasileiro é o hall do novo hotel de luxo da rede paulista Estanplaza. Com investimento de R$ 60 milhões, o Gran Estanplaza São Paulo, na Zona Sul da cidade, aposta justamente no estilo verde e amarelo para receber executivos nacionais e estrangeiros. A fórmula caseira é a senha para ganhar espaço no internacionalizado setor hoteleiro. Atualmente, a marca ocupa a oitava posição entre as maiores redes do Estado, com um faturamento anual de R$ 50 milhões e sete hotéis. ?Abandonamos a cartilha americana para usar e abusar dos nossos talentos ?, diz Lúcio Suriani, presidente da Estanplaza. Até mesmo os uniformes são acompanhados de broches com sementes e ervas da mata atlântica. A nacionalidade não é restrita às aparências. O atendimento dispensa as formalidades. O trabalho é espontâneo e descontraído, mas sem perder o requinte.
O toque brasileiro começa na mobília. Suriani recorreu aos
antiquários para resgatar móveis da época do império, como as cadeiras em madeira maciça, os lustres e as cristaleiras que enfeitam o lobby do hotel. A entrada ainda exibe mesas e objetos de decoração feitos em pedra sabão, vindos de Minas Gerais. Também há artesanatos em madeira. São obras de artistas populares do Nordeste. Detalhista, Suriani não deixou escapar nada em seu marketing patriota. Quem assina a decoração é a pernambucana Janete Costa, famosa no exterior por exibir a brasilidade em salões de design na Europa. O cardápio é igualmente temperado com pitadas locais: vai da tapioca ao vatapá, da feijoada ao chimarrão. O chef, André Tavares, é mineiro.
A proposta de romper com as regras do mercado de hotéis esteve presente desde os primeiros traços para o lançamento do Gran Estanplaza. Num setor com forte presença de estrangeiros (os líderes são o francês Arccor e o espanhol Sol Meliá), Suriani precisava criar um diferencial. E nacionalizou tudo. Até aqui, o mercado costumava seguir rigorosamente a cartilha internacional. Os hotéis de luxo, em sua maioria, exibem na fachada bandeiras de grupos americanos, franceses ou espanhóis. Quando não batizam o empreendimento, as marcas estrangeiras estão, no mínimo, na administração.
Além do apelo brasileiro, Suriani é o único do setor a adotar a verticalização como regra. Foi o responsável pela obra, por meio da própria construtora, a Concivil. Depois, bancou a gestão com a marca da sua rede. ?Estou em todos os lugares?, resume. Não é apenas força de expressão. Ele participa até dos treinamentos para a equipe da recepção. A jornada começa às 7 horas e não termina antes das 22 horas. Sem recorrer a terceiros, Suriani reduz custos. A economia, aliada ao marketing brasileiro, deve se refletir nos lucros. A expectativa é que os ganhos fiquem 30% acima da média.
O sistema do empresário fugiu do comum. ?A maioria terceiriza a gestão?, diz José Ernesto Neto, da BSH Internacional. Entre 1988 e 2002, o setor recebeu US$ 6 bilhões em investimentos. No período, os empreendimentos de luxo imprimiram os mesmos padrões internacionais. ?Um executivo faz a escolha apenas pelo preço.? Foi para conseguir inovar que o empresário construiu e assumiu o hotel Gran. ?Tenho como referência os tempos áureos do Copacabana Palace?, diz Suriani. Sendo assim, qualquer semelhança na arquitetura clássica do Gran Estanplaza São Paulo com o histórico hotel carioca não é mera coincidência.