Há uma pequena parcela do País que não conhece o significado da palavra crise. As instituições financeiras estimam em 4 mil pessoas o número de brasileiros com patrimônio acima dos R$ 10 milhões. Habitam mansões, vestem roupas de grife, viajam para o exterior quando bem entendem e desfilam em carros únicos. Leia-se: automóveis que custam mais de R$ 1 milhão. Prova disso é o crescimento em 2003 dos negócios com modelos Ferrari, Maserati e Porsche, ícones do luxo sobre quatro rodas. A Ferrari, por exemplo, teve um aumento de 12,5% nas vendas, com 18 unidades comercializadas. A Maserati alcançou 71,4% e 12 unidades vendidas. A Porsche cresceu 117%, com 76 exemplares. Enquanto isso, o restante do setor, segundo a associação dos importadores, a Abeiva, caiu 56,6%. ?Nossos clientes não são muito afetados pela crise?, diz Viviane Polzim, gerente de marketing da Via Europa, de São Paulo, importadora oficial da Ferrari e Maserati.

 

Comparado com as 1.350 Ferraris vendidas nos Estados Unidos, em 2003, o número de carros que saem das vitrines brasileiras é reduzido, evidentemente. Nesse pedaço da economia, porém, menos é mais. O volume de negócios, ainda que tímido, é o bastante para alçar o Brasil ao posto de um dos maiores mercados de carros de luxo do mundo. ?A operação do Brasil é a que mais vende na América Latina?, diz Viviane. A explicação para esse fenômeno é subjetiva. ?É uma compra de emoção, um sinônimo de conquista?, diz Luiz Carlos Mello, diretor da Abeiva. Na verdade, trata-se também de se diferenciar socialmente dos outros e ostentar poder. E que poder. A Ferrari 575M Maranello é uma das máquinas mais desejadas do mundo. O motor de 515 cavalos de potência faz com que o carro atinja 325 km/h e faça de 0 a 100 km/h em apenas 4,2 segundos. Tanta qualidades fazem deste modelo um brinquedo de US$ 480 mil.

 

O bólido vermelho chegou ao Brasil no ano passado e a previsão era de vender apenas três unidades. Foram negociados quatro veículos ? o que apenas confirma a exclusividade da marca. Com a Maserati deu-se movimento parecido. O modelo Coupê, de US$ 195 mil, atingiu sete transações. O Porsche Cayenne, o primeiro utilitário da marca alemã, também foi um sucesso: foram anotados 54 contratos. Nada mal para um automóvel cujo preço vai de US$ 119 mil a US$ 190 mil.