17/11/2004 - 8:00
Por lá não tem internet?, avisa o guia assim que o grupo desembarca em Punta Arenas, Chile, a última cidade do continente, às margens do Estreito de Magalhães. ?Também não tem jornal nem pega celular?, acrescenta. O objetivo era chegar ao Parque Nacional Torres Del Paine, no lado chileno da Cordilheira dos Andes, destino que atraiu na última temporada 83 mil visitantes. De Punta Arenas até o parque são mais 450 quilômetros de automóvel. A única cidade no caminho se chama Puerto Natales, com 10 mil habitantes. Nos souvenirs, o slogan da região, ?World?s end?, indicando que se chegou ao fim do mundo. O parque é mais distante ainda: fica a 14 horas de qualquer hotel em Santiago. ?A idéia é me isolar para repensar meus planos?, diz o americano Jonathan Guthrie, sócio de uma banca de advocacia em Boston, EUA.
O parque abriga uma série de fenômenos naturais. O mais impressionante talvez sejam os glaciais, geleiras formadas há 12 mil anos. O maior deles tem 300 quilômetros de comprimento por 70 de largura. Os viciados em adrenalina costumam arriscar uma caminhada de cinco dias pela borda da geleira. Mas o passeio ao pé das Torres Del Paine, montanhas símbolo do parque, é o grande desafio. São nove horas de caminhada. Os ventos, de até 140 quilômetros por hora, podem arrastar um homem para o precipício. Nesta primavera, a temperatura está amena, média de 10 graus positivos ? mas chega a 20 negativos no inverno.
Na última temporada, o parque foi visitado por turistas de 67 países ? menos de um quinto são chilenos. O número de visitantes vem crescendo no patamar de 25% ao ano. Há nove hotéis nas imediações do parque, do simples ao cinco estrelas, que oferecem pacotes de US$ 625 a US$ 6,5 mil por cabeça. ?Estamos todos investindo na expansão dos negócios?, diz Yerko Ivelic, sócio do Eco Camp, um hotel só com barracas de luxo, inspirado nos safáris africanos. Os empresários da região tentam consolidar uma nova onda entre os aventureiros. A idéia é chegar à Patagônia pela Argentina, descendo até Ushuaia, na Terra do Fogo, e voltar pelo outro lado dos Andes. De Puerto Natales parte um barco até Puerto Montt, no meio do Chile. São quatro noites visitando canais, geleiras ? e se der sorte, avistando baleias e leões marinhos. Quando passou por essa região, Charles Darwin escreveu que estava no local mais inóspito e primitivo que já conhecera. Era uma crítica. Não mudou muito nesses quase dois séculos. Mas agora, trata-se de um elogio.