03/07/2015 - 8:54
Imagine esta cena. Um casal chega ao aeroporto e, após passar pela alfândega, é encaminhado a um lounge para aguardar o embarque. Lá, a mulher opta por receber uma massagem, enquanto seu marido prefere tomar uma ducha e ir ao barbeiro logo depois do banho. Enquanto relaxam, suas roupas estão sendo passadas a vapor por funcionárias da Etihad Airways. No voo, são recebidos por um mordomo exclusivo, que apresenta uma extensa carta de vinhos. Enquanto isso, um chef prepara o prato preferido dos convidados. Dentro do avião, em seu quarto equipado com uma cama com lençóis de algodão egípcio de mil fios e colchão de fibras naturais, o casal nem se dá conta de ter passado horas dentro de uma aeronave.
Ao final da viagem, um chofer, aguardando ao volante de um carro importado, os encaminha diretamente ao hotel. Toda essa mordomia, que sintetiza as experiências dos clientes da primeira classe da companhia aérea do Emirado de Abu Dhabi, está fazendo furor no concorridíssimo mercado de aviação comercial. Não por acaso, nesse mês de junho, a companhia foi agraciada, pelo quinto ano consecutivo, com o prêmio de melhor primeira classe do mundo, pela consultoria inglesa Skytrax, considerado o “Oscar” da aviação.
Fundada em 2003 e dona de um faturamento de US$ 7,8 bilhões no ano passado, a Etihad tem sofisticado a cultura de oferecer mais do que transporte aéreo. Tendo como clientes os bilionários sheiks do petróleo, a companhia faz do luxo a peça-chave para conseguir conquistar uma participação importante de um mercado disputado também pelas árabes Emirates e Qatar, esta última eleita a melhor companhia aérea do mundo pela Skytrax. “Temos passageiros que nos procuram sem saber o destino final da viagem”, afirma o francês Christophe Didier, diretor geral da subsidiária brasileira da Etihad.
“Eles simplesmente querem ter a experiência de voar conosco.” A decisão de paparicar os clientes é a principal explicação para o crescimento exponencial da Etihad, de acordo com os analistas. “As companhias árabes ajudaram a elevar viagens aéreas a outro patamar”, diz Amnon Armoni, professor da FAAP e especialista no mercado de luxo. Segundo Armoni, o patamar se tornou bem elevado. Caso um passageiro queira se aventurar na cabine chamada “The Residence”, a mais cara da Etihad, encontrada apenas nos superjumbos A380, da Airbus, terá de desembolsar a bagatela de R$ 45 mil, por uma viagem de Londres a Abu Dhabi.
A Etihad desembarcou há apenas dois anos no Brasil. De acordo com o diretor geral, não cogitou em nenhum momento abandonar a estratégia de se posicionar no segmento premium. Ao contrário. Na média das empresas de aviação, os endinheirados representam 6% do volume do contingente de passageiros, mas 25% do faturamento. Nos voos na rota para o Brasil, a companhia, que opera com as aeronaves A340, da Airbus, e o Boeing 777, reserva cerca de 20% dos assento para a primeira classe e para a executiva. A Etihad não divulga a participação dos assentos mais caros em sua receita. “Mas pode ter certeza que esse número aumenta bastante”, diz Didier.
A classe econômica, no entanto, não foi esquecida pela Etihad. “Temos diversos mimos também na classe econômica, como uma babá que pode tomar conta do filho do passageiro (chamado pela empresa de ‘convidado’) durante uma refeição”, afirma. A crise econômica, que levará o País à recessão neste ano, e a desvalorização do real não chegam exatamente a tirar o sono de Didier. Para ele, o interesse de asiáticos, em especial os chineses, em investir no Brasil irá manter, e até aumentar, a taxa de ocupação premium nos voos diários entre São Paulo e Abu Dhabi, atualmente em 75%. “Além disso, os brasileiros não desistiram de viajar e estão buscando novos destinos além de Europa e Estados Unidos”, afirma.
Crescendo a taxas acima dos 25% nos últimos anos, a Etihad, está incomodando alguns concorrentes. Companhias como Delta, American Airlines e a United têm pressionado o governo americano a intervir nas contas não só da Etihad, como as da Emirates e da Qatar Airways A alegação para o pedido é de que as aéreas árabes recebem subsídios de seus respectivos governos, inflando seus lucros. “O que elas chamam de subsídios, nós vemos como investimento”, afirma Didier, que, por sinal, trabalhou durante 14 anos na Delta. “Em algum momento de suas historias, todas as empresas no mundo receberam alguma espécie de investimento governamental.”