05/05/2004 - 7:00
MONTBLANC A grife tem sete endereços próprios no Brasil
Prepare-se para a conquista definitiva do Brasil pelas marcas de luxo. De olho num mercado que gira US$ 1,5 bilhão ao ano, grifes como Cartier, Montblanc, Baume & Mercier, Tiffany e outro punhado de estrelas do glamour têm planos para o País. DINHEIRO ouviu 8 dos principais executivos das grifes planetárias. Juntas, elas faturam mais de
US$ 10 bilhões anuais. (leia as entrevistas ao final desta reportagem). A boa notícia: todas elas apostam em avanços tropicais.
Algumas abrirão novas lojas até o fim do ano. Outras já estudam uma enxurrada de lançamentos ainda em 2004. O que atrai essas empresas internacionais, estrelas do bem viver, é a porção milionária do Brasil. O sucesso do consumo classe A em São Paulo e no Rio de Janeiro, além de bolsões opulentos do universo do agronegócio, tornou-se um caso de estudo. ?O mercado brasileiro cresce 30% ao ano desde 2000?, diz Carlos Ferreirinha, diretor-presidente da consultoria MCF, especializado neste universo do luxo.
HENNING DAUCH, da Swarovski, fez triplicar o faturamento em cinco anos de operação brasileira
Ostentação. Os indícios dessa pujança cintilam para onde quer que se olhe. As vendas da Cartier cresceram 49% no Brasil em 2003. São Paulo é a única cidade do mundo a ter quatro butiques da Montblanc e ainda abrigará uma outra até o fim do ano. Paris e Nova York têm apenas três. Das 320 lojas mundiais da Louis Vuitton, a do shopping Iguatemi, em São Paulo, está na terceira posição entre as mais rentáveis por metro quadrado. As vendas de Ferrari tiveram um incremento de 12,5%. Soa quase irreal, para muitos é ostentação exagerada, mas são exemplos que comprovam a ascensão do mercado de rótulos finos. ?Em cinco anos o volume de negócios das grifes internacionais no País duplicará?, diz Ferreirinha. É um movimento que cresce com a chegada de novas etiquetas. Até o fim do ano a inglesa Burberry, uma gigante da moda com faturamento de US$ 3,5 bilhões, abrirá uma loja própria. O estilista Giorgio Armani também pretende abrir a sua Armani Casa em São Paulo ou no Rio. ?Vamos lançar vários modelos de relógios e ainda faremos eventos em várias cidades do País para promover nossa marca, em belas festas?, anunciou à DINHEIRO Bruno Duchêne, diretor geral da Baume & Mercier no Brasil.
Trata-se de um fenômeno interessante pela descoberta de um nicho espetacular. Os executivos globais avançaram com ímpeto num pedaço do País imune à montanha russa dos planos econômicos e dos juros elevados. Conseguiram abrir espaço à margem do fosso social que fere as estatísticas há décadas.
A CARTIER já tem lojas em São Paulo e no Rio de Janeiro
Há definições que ajudam a traduzir um país. Em 1974, no auge da crise econômica do petróleo, com o Brasil ainda mergulhado na bolha do Milagre Econômico promovida pelo então ministro Delfim Netto, o economista Edmar Bacha criou a ?Belíndia?. Era uma mistura de Bélgica com a Índia. Rotulava uma nação dividida por um muro de desigualdade que separava os ricos com padrão europeu dos pobres famélicos de cotidiano escasso. De lá para cá, sete presi-
dentes da República e três moedas depois, o cenário é igual ? ou pior.
Poucos países em todo o mundo exibem tamanha discrepância entre os que têm e os que não têm. Apenas 5 mil famílias são donas de 45% do PIB, segundo dados de um estudo do economista paulista Márcio Pochmann. Em 1980, a população rica tinha uma renda média equi-
valente a dez vezes a da população em geral. Hoje, passados quase quinze anos, os ricos ganham 14 vezes mais que a média do País.
A TIFFANY prevê a abertura de sua terceira butique no País dentro de dois anos
Mas quem, afinal, são esses brasileiros que consomem o luxo? Uma pesquisa divulgada na última quinta-feira durante um seminário realizado na Câmara Americana de Comércio em São Paulo mostrou que 40% deles são altos executivos do setor privado. Em sua maioria, são homens (60%). Dois terços têm curso superior. O psicanalista Jorge Forbes ensaia uma definição para esse grupo. ?Enquanto os europeus compram os produtos devido a história e tradição das grifes, a maioria dos brasileiros adquire os objetos como se estivesse comprando um título de nobreza?, diz Forbes. O que interessa para as empresas do setor, contudo, é que os mercados emergentes crescem em uma proporção maior do que em locais já consolidados. ?Em cinco anos de operação, triplicamos o nosso faturamento?, diz Henning Dauch, gerente geral dos cristais Swarovski no País. Justamente por isso, as grifes investiram US$ 3 bilhões nestes países desde 1999 ? e o Brasil, nesse terreno, tem seu espaço, mesmo em tempos de crise.
BEAUVAIS?O grupo Richemont aposta no crescimento do Brasil?
O mercado mundial de luxo passou por turbulência nos últimos anos. O lucro do grupo Richemont, dono das principais marcas de relógio, por exemplo, despencou de 712 milhões de euros, em 2001, para 259 milhões de euros em 2003. ?Os principais motivos foram a recessão americana, o 11 de setembro, a gripe asiática e a guerra no Iraque?, disse à DINHEIRO Jean-Christophe Beauvais, presidente da divisão de relógios do grupo para a América Latina e Caribe. Agora, passada a tormenta, volta-se a respirar com alívio.
Na semana passada, durante o Salão Internacional de Alta Relojoaria, em Genebra, espécie de Disneylândia para os amantes de preciosidades, ímã das principais marcas de luxo do mundo, o Brasil começava a mostrar sua cara. Os presidentes de empresas como Baume & Mercier; Vacheron Constantin, Cartier, Piaget e outras gigantes exibiam expectativas otimistas para o País como o principal mercado da América do Sul. ?Historicamente, as peças mais valiosas da Piaget foram vendidas no Brasil?, diz Beauvais.
Como o Brasil passou a ser terreno atraente para as grifes internacionais, elas tiveram de moldar-se à realidade do consumidor local. Cartier, Louis Vuitton e Tifanny, por exemplo, não vendem parcelado em nenhum lugar do mundo. Aqui, contudo, foram obrigadas a adaptar-se a este costume tipicamente brasileiro para sobreviver. ?Vendemos em até quatro vezes?, diz Véronique Claverie, diretora de marketing da Cartier. A Tiffany, por sua vez, também mudou alguns conceitos arquitetônicos na loja. Enquanto nos 40 países onde a joalheria está presente as vendas são realizadas em balcões, no Brasil há mesas para que os clientes sejam atendidos de modo mais caloroso, entre goles de café. São sinais evidentes de que o País entrou no circuito mundial. ?O mercado brasileiro é um dos que mais crescem no mundo?, resume Bernard Fornas, presidente da Cartier.