O MAR DE COLORAÇÃO verde, as temperaturas amenas e os três quilômetros de praia com areia fina e clara fizeram de Jurerê Internacional, no norte de Florianópolis, em Santa Catarina, um dos grandes negócios imobiliários surgidos no Brasil nos últimos anos. Criado de forma planejada em meados dos anos 90, sem portões nas casas nem barreiras de entrada no condomínio, o complexo focado no nicho de imóveis de luxo passou a atrair empresários, executivos e profissionais liberais que buscavam ao mesmo tempo conforto e contato com a natureza. Quem colocou seu dinheiro ali não se arrependeu. Segundo a construtora Habitasul, principal responsável pelo surgimento de Jurerê, desde 1998 os imóveis erguidos da região valorizaram-se mais de 700%, percentual que não foi repetido por nenhuma aplicação financeira ? e certamente por pouquíssimos empreendimentos imobiliários. A busca por uma melhor qualidade de vida e a possibilidade de alcançar um retorno generoso para seu investimento motivaram o casal Poliana Machado e Lázaro Machado, pais da bebê Lara, de dois meses, a desembolsar R$ 450 mil por um flat na praia de Jurerê. Eles já possuem outro apartamento na capital de Santa Catarina, mas o novo imóvel é uma espécie de aposta por rentabilidade rápida. ?Nossa pretensão é obter o retorno do investimento em até quatro anos?, afirma Poliana. Para os padrões de Jurerê, o flat do casal pode ser considerado barato. Ali há apartamentos de quatro suítes que chegam a custar R$ 5 milhões, alguns com filas de espera para os interessados em comprá-los.

Nos últimos três anos, o mercado imobiliário do País entrou em ebulição. Segundo especialistas, a alta é resultado principalmente do aumento da renda do brasileiro, que permitiu a milhões de novos consumidores comprarem seu imóvel. Mas, ao contrário do que muitos analistas previam, não foi apenas a classe C que puxou o setor. De acordo com dados do Secovi, sindicato das empresas de venda de imóveis do Estado de São Paulo, a participação de apartamentos ou casas de quatro ou mais dormitórios no total de negócios fechados foi de 58% em junho, ante 23% dos imóveis de três quartos e 15% dos de dois. Considerando o número de unidades comercializadas, os imóveis para as classes A e B também lideram, com 32,2% do total. Os indicadores revelam, portanto, que os ricos têm uma importância vital para o desenvolvimento do setor no Brasil. ?Como 40% deles moram na região metropolitana de São Paulo, é fácil entender por que o mercado cresceu tanto na capital paulista?, afirma Luiz Paulo Pompéia, diretor da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp). Segundo Pompéia, em São Paulo o preço médio de um imóvel de quatro dormitórios é de R$ 634 mil ? valor, convenhamos, que não cabe no bolso de qualquer um.

Como o público interessado no mercado de luxo tem certas peculiaridades, algumas empresas criaram novas estratégias para atender essa turma. É o caso da Lopes, líder do setor na capital paulista. Um estudo encomendado pela empresa descobriu que, antes de fechar negócios, 55% dos compradores de imóveis caros pesquisam na internet, sem se preocupar em visitar estandes de imóveis concluídos ou em obras. ?Eles gostam de descrição bem detalhada, por isso temos hoje todo um aparato para atendê-los via web, além de corretores formados em arquitetura e engenharia?, afirma Mirella Parpinelle, diretora de atendimento da Lopes São Paulo. O levantamento constatou que esses consumidores compram o segundo imóvel a uma distância média de 3,7 quilômetros em relação ao primeiro. Ou seja, em geral eles se mantêm nos mesmos bairros, o que de certa forma limita as ofertas para áreas restritas das grandes cidades.

Para Fábio Romano, diretor de incorporação da Gafisa, outros bairros nobres terão de ser criados. ?Muitas pessoas querem comprar imóveis em regiões com potencial de valorização para investir em longo prazo?, diz. Além dos empreendimentos de luxo em Moema e Itaim, que valem R$ 7 mil o metro quadrado, a Gafisa está lançando empreendimentos em Osasco e São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, e outro no Tatuapé, na zona leste da capital, umas das regiões de maior potencial de crescimento da cidade. O setor de luxo vem atraindo até construtoras que antes tinham foco apenas em imóveis de baixo custo, como a Norcom, que atua no Nordeste. Em novembro de 2009 a empresa entrega em Aracaju, Sergipe, um condomínio de casas com direito a campo de golfe e área de lazer para animais de estimação, com preço de venda de aproximadamente R$ 1,2 milhão. ?Comercializamos praticamente tudo em seis meses?, afirma Caroline Teixeira, diretora comercial da Norcon.