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Assista à reportagem de Keila Cândido sobre a customização de jatos executivos

 

 

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O editor Fabiano Mazzei experimentou um voo à bordo do Lineage 1000

 

Você é um empresário muito, muito bem-sucedido ? ou, como eles chamam neste mercado, um ?ultra high net worth individual? ?, alguém com pelo menos US$ 10 milhões para gastar, e decide que é hora de realizar o sonho do jato próprio. É pegar a caneta, sacar o talão de cheques e… nada disso. A experiência de compra de uma aeronave executiva nunca foi tão complexa. As opções são tantas e andam tão sofisticadas que vai ser preciso pedir ajuda profissional para decidir o que levar para o hangar. Que tal ter mais de 40 tipos de tapetes para escolher? E 500 espécies de madeira para as mesas? Vai querer uma suíte privativa com direito a ducha ou prefere um grande lounge-bar repleto de sofás e chaises no centro da aeronave? O senhor gosta da Missoni? Ela pode decorar o avião, se for do seu agrado. 

 

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Champanhe?: Comissária a bordo do Global 6000, da Bombardier,

com decoração assinada pela Missoni Home

 

E as telas de LCD: de 24 ou 32 polegadas? Com o Brasil ocupando o segundo lugar no ranking dos mercados de aviação executiva do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos (veja quadro ao final da reportagem), o assédio das maiores em­­presas do setor, incluindo a brasileira Embraer, vem aumentando ano a ano, ainda que as vendas estejam longe das de 2008. A décima edição da Labace (Latin America Business Aviation Conference & Exhibition), a segunda maior feira do segmento no mundo, que terminou na sexta-feira 16, foi um termômetro disso. Ao todo, 67 aparelhos foram expostos no aeroporto de Congonhas, a um público estimado em mais de 15 mil pessoas, entre compradores, potenciais compradores e curiosos. E o que todos viram foi um show de requinte sobre asas.

 

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Se a família for grande ? ou o board da empresa gostar de viajar em grupo ?, o Lineage 1000, da Embraer, cai como uma luva. Com um conceito de ?home away from home? (casa longe de casa), o aparelho oferece o maior espaço interno da categoria: 70 m², divididos em cinco zonas. A primeira delas é um hall de entrada, com piso de pedra de verdade e um sofá em semicírculo, para que o dono do avião receba seus convidados a bordo sem ter de entrar pela cozinha, como é de costume nos aviões comerciais. A última é a suíte, com dois sofás-cama, tela de LCD, Blue-ray e um banheiro com ducha. Entre uma e outra, uma sala de estar com home theater e outra de reunião e jantar, ao lado da cozinha, equipada com cristais e prataria da francesa Christofle. 

 

?Se somarmos todas as opções de customização, o Lineage fica com mais de cinco mil alternativas de configuração?, diz Augusto Salgado, gerente de estratégia de produto da companhia de São José dos Campos, no interior paulista. Ah, e há ainda o enorme compartimento de bagagens, com capacidade para 46 malas ou uma moto BMW F800 GS. Com a primeira unidade entregue em 2009, existem apenas 12 Lineage em operação. ?É um jato para chefes de Estado, sheiks do petróleo e megaempresários?, afirma Marco Túlio Pellegrini, VP de operações para aviação executiva da Embraer. Há, ainda, outros seis prospects que estão prestes a assinar o cheque ? no caso, bem robusto, no valor mínimo de US$ 53 milhões (versão que Dinheiro testou em reportagem no site www.istoedinheiro.com.br). 

 

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Para esses clientes, tem início a fase final de sedução. A empresa oferece um test-drive gratuito do avião. No último realizado, a família inteira do comprador chegou para a viagem: nove pessoas. ?Levamos o pessoal para um passeio de São Paulo a Paris?, lembrou Breno Côrrea, VP de vendas e marketing da Embraer Executive Jets. Entre outras novidades da empresa no evento, o Legacy 500 foi uma das vedetes. Estreante nos céus brasileiros, o jato para até 12 passageiros custa US$ 19,9 milhões. Cha­mou a atenção também a pintura externa do Legacy 650, mais moderna e gráfica. O exterior das aeronaves, por sinal, também é personalizável, lembra Marco Túlio. ?Vendi um 650 a um minerador chinês que pediu para pintar diamantes gigantes na fuselagem?, disse. 

 

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Marco Túlio, Embraer: “Vendi um Legacy 650 a um minerador chinês

que pediu para pintar diamantes na fuselagem”

 

GRIFE A BORDO A concorrente canadense Bombardier não deixou por menos, e trouxe ao Brasil seus modelos Challenger 300, 605 e Global 6000. Esse último ganhou um banho de loja de última hora, recebendo decoração básica da maison italiana Missoni Home. ?A marca tem cores vibrantes que dão mais vida ao interior dos aviões?, diz Annie Cossette, conselheira de comunicação da empresa. ?Decorar superficialmente não compromete o interior, que costuma ter tons claros para evitar rejeição na hora da revenda.? Ela lembra, porém, que quem manda é o cliente, o que significa que, para a extravagância de alguns, nem o céu é o limite. 

 

Um deles, do Oriente Médio, pediu para cravejar bandejas e mesas de madeira com pedrarias e pérolas. Outro, da África, mandou gravar em relevo na cortina retrátil das janelas máscaras indígenas que remetiam aos seus ancestrais tribais. Além dos exageros, os Bombardier podem ser configurados em pacotes. Um banheiro com ducha sai por mais US$ 1,5 milhão. Se o cliente quiser instalar uma internet mais rápida, de 3 MB, a conta será de US$ 750 mil. Fora televisores, iPads e outros gadgets. Fábio Rebello, VP da empresa canadense para a América Latina, destaca a importância de se adequar o avião ao perfil do consumidor. E alerta aos brasileiros da necessidade de se ter um jato que voe em grandes altitudes, em função de o clima do País favorecer a formação de cúmulos nimbos. 

 

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Sob medida: tela de customização de ambiente do Gulfstream 450, onde

se pode definir o couro das poltronas

 

?Para um voo tranquilo, você vai ter de ultrapassá-los?, afirma. Espaçoso, o Global 6000 acolhe bem dez pessoas, tem o maior alcance do segmento ? mais de 11 mil km sem precisar ser reabastecido ? e tem bom apelo nos mercados emergentes. ?Rússia e China estão na mira, mas o Brasil e o México são nossas prioridades em termos de América Latina?, afirmou Rebello. ?Esperamos vender aos latinos cerca de mil aeronaves na próxima década?, acredita o executivo. Outra que aposta no mercado latinoamericano, que responde por 8% de suas vendas globais, é a Gulfstream, dos Estados Unidos. Além do Brasil, o México e a Venezuela estão no radar de vendas da empresa.

 

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No País, a Gulfstream conta com um centro de operações em Sorocaba, no interior de São Paulo. O valor de seus jatos varia entre US$ 50 milhões e US$ 65 milhões. Já a francesa Dassault apresentou na Labace o novo Falcon 2000S, além de sua estrela maior, o FX 7. O modelo estreante, de dez lugares, foi lançado em maio e já vendeu 25 unidades. Nele, graças a uma parceria com a Apple Store, podem-se baixar vídeos, games e qualquer conteúdo em pleno voo. Por US$ 25 milhões, o 2000S se destaca também pela qualidade do projeto de cabine, desenvolvido em parceria com a montadora alemã BMW. Quanto ao FX 7, trata-se do jatinho mais veloz a cruzar os céus em todos os tempos. 

 

Ele pode voar a 1.100 km/h, o que o deixa entre os preferidos de quem vive em pontes aéreas longas, a trabalho, como Paris-Tokio ou Shangai-Seattle, por exemplo. Defini­tiva­mente, investir em um jato como esse tem sido a opção escolhida pelas grandes corporações. Trata-se de uma ferramenta estratégica importante nesses tempos de mercados globalizados e conectados. Dá para começar o dia em Nova York, ter um almoço de negócios na Cidade do México e terminar a jornada num happy hour com investidores em São Paulo, sem perder tempo em filas nos terminais dos aeroportos e com os costumeiros atrasos dos voos comerciais. Algo fundamental, porque, para os ?ultra high network individuals?, time is money!

 

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Com reportagem de Bruna Borelli 

 

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