Imagine ter muito dinheiro. O suficiente para ter visitado praticamente todos os principais centros turísticos do mundo, como Paris, Nova York, Londres, Miami e Saint-Tropez. Diante dessa situação, restariam apenas duas alternativas: repetir os destinos ou viajar para locais distintos, inusitados e exóticos. A segunda opção tem sido a mais recorrente entre os endinheirados – cada vez mais sedentos por experiências inesquecíveis para aproveitar as férias. A busca incessante dos abonados por aventura, mas sem jamais abrir mão do conforto, tem remodelado o mercado de viagens de luxo no mundo.

Principalmente porque, de uns tempos para cá, o público AAA tem se interessado muito mais pela experiência que um produto ou serviço tem a oferecer do que pelo mero objeto de uma marca. Seguindo essa tendência, algumas empresas estão se especializando em levar seus clientes a locais que, há pouco tempo, seriam frequentados exclusivamente por mochileiros ou milionários excêntricos. Nessa onda de “hippiezação” dos ricos, essas companhias passaram a apostar na variedade e no exotismo dos locais para onde levam seus clientes. A paulistana Global Nomads, que oferece pacotes para rincões tão diferentes do planeta, como Amazônia, Patagônia, deserto do Atacama e a Savana Africana, se beneficia desse mercado recém-formado.

“Trabalhamos apenas com hotéis comprometidos com a sustentabilidade, que respeitam o meio ambiente e contribuem para a economia da comunidade onde estão instalados”, diz a empresária Corinna Sagesser, fundadora da Global Nomads. Embora ainda esteja engatinhando, o setor chama a atenção pelas margens com que opera. O Cristalino Lodge, representado no mercado brasileiro pela Global Nomads, vende pacotes para conhecer o sul da Floresta Amazônica, em Mato Grosso, por, no mínimo, R$ 720 por noite. Uma semana na acomodação mais luxuosa não sai por menos de R$ 12 mil. Para justificar o preço salgado, o lodge oferece o máximo de conforto e harmonia com a natureza possível.

O hotel apresenta acomodações com jardins privativos, banheiras externas com água aquecida por meio de energia solar, sistema de ventilação natural e produtos de higiene pessoal e beleza da francesa L’Occitane. “É uma experiência que alia luxo e aventura”, diz Vitória Carvalho, CEO do Cristalino Lodge. A Global Nomads também representa mais duas redes de hotéis: a Explora, que possui lodges no deserto de Atacama e na Ilha de Páscoa, ambos no Chile, e na Patagônia Argentina, além da Wilderness Safari, que opera acampamentos e safáris em países como Botsuana, Seychelles e Zâmbia, na África. As duas redes têm em comum o respeito à sustentabilidade, nas mais diversas ramificações do termo.

Além de comprometidas com a natureza, ao oferecer gastronomia orgânica aos clientes e reutilizar a água de maneira inteligente, as empresas aproveitam a mão de obra local – contratando guias, cozinheiros e atendentes provenientes dos entornos nos quais estão localizados. A rede Wilderness também oferece educação aos nativos dos países. “Dessa maneira, evitamos que as crianças caiam nas garras do tráfico de animais silvestres, atividade que muitos seguem para garantir, ao menos, a subsistência”, diz Maria Alice Cavalcanti, sócia da Global Nomads. O público AAA, segundo Bruno Pamplona, sócio da Royal Group, consultoria de luxo e entretenimento, está cada vez mais ousado.

“O rico, hoje em dia, quer ter a experiência de andar a camelo no deserto, pegar um barco no meio do nada, fazer uma trilha para chegar a uma praia inexplorada ou pegar o metrô para chegar a um bairro descolado”, diz. “Ele quer envelhecer e ter histórias diferentes para contar, além de ir ao shopping, em Miami, e ver o Big Ben, em Londres.” Essa nova forma de enxergar o mundo por parte dos milionários, de acordo com Pamplona, conferiu novas fronteiras ao mercado de viagens de luxo. Seja em novos destinos a serem explorados pelos viajantes, seja na variedade de negócios nos quais novos empresários podem apostar. “O empreendedor que oferecer o melhor atendimento nos destinos mais originais terá o maior potencial de crescimento”, diz Pamplona.