O isolamento social forçado pela pandemia fez crescer o interesse por novos horizontes. Entre os segmentos que mais cresceram nessa onda foi o de embarcações, com faturamento estimado em R$ 2 bilhões no ano passado. “O barco se tonou um refúgio, como se fosse uma ilha”, disse o presidente do grupo Náutica e idealizador do São Paulo Boat Show, Ernani Paciornik. O evento, que chegou à 25ª edição este ano, reuniu cerca de 100 expositores entre os dias 23 e 28 de setembro. Pelo que foi exibido, os estaleiros nacionais aproveitaram o aumento da demanda para investir em modelos que prezam pelo conforto, luxo e maior espaço de convivência, transformando as águas em um ponto de encontro para o lazer de toda a família.

Este ano, o número de modelos exibidos no evento cresceu 50% em relação à edição anterior, realizada em meio a fase mais restritiva da pandemia, na Raia Olímpica da Universidade de São Paulo. Desta vez, os barcos foram tirados de seu habitat natural e transportados para dentro do pavilhão de exposições São Paulo Expo. Segundo a Acobar (Associação brasileira dos construtores de barcos e implementos), as feiras em São Paulo e no Rio de Janeiro respondem por 70% das vendas de novas embarcações no País.

Entre os modelos expostos, a atenção dos clientes foi disputada por aqueles com detalhes capazes de mudar a experiência a bordo. Um exemplo é a ampliação das áreas de convivência, que podem ser ocupadas por grupos em confraternizações. Para atender a essa necessidade especifica do mercado brasileiro, os fabricantes têm desenvolvido diversas soluções. Apresentada no evento pela Triton Yachts, a Flyer 38 HT traz um recurso interessante para aumentar o espaço na praça de popa a partir de uma abertura lateral do deque. Medindo 11,55 metros de comprimento, a lancha possui capacidade para 14 pessoas durante o dia e cinco para pernoite. Custa a partir de R$ 1,4 milhão, dependendo das configurações e personalizações do cliente.

VIDRO Famosa por seus iates de alto luxo, a Intermarine apresentou a nova linha HDF, que tem como característica oferecer itens superiores aos de embarcações da mesma categoria. Um deles é a utilização de mais superfícies de vidro, o que resulta em maior integração com o ambiente externo e sensação de amplitude. No modelo 640HDF uma das principais novidades é a day bed, com o encosto que permite a contemplação para o exterior da embarcação. “Muita gente vai comprar o barco por causa desse uso”, disse o diretor de marketing da Intermarine, Rafael Paião. Outra novidade foi a mudança de posicionamento da área gourmet, que foi para o flybridge. Também chamado de fly, equivale em um barco à capota de um carro — e tem sido cada vez mais adaptado para ser o ambiente externo preferido para convivência. Os preços dos modelos Intermarine só são fornecidos sob consulta.

Projetados para proporcionar momentos de lazer e descanso, os iates não costumam ser utilizados pensando como meio de transporte para navegar grandes distâncias em alta velocidade. Suas características e motorização são desenvolvidas para garantir conforto e segurança aos passageiros. Mas há no universo náutico de lazer um público que busca lanchas mais potentes, seja para prática a de esportes aquáticos como esqui, seja para longas viagens marítimas. Dominando esse segmento do mercado nacional, com 90% de market share, a Fishing Raptor produz modelos que priorizam o desempenho, sem deixar de lado o conforto e o requinte. De acordo com o CEO do estaleiro, Fernando Assinato, essas embarcações costumam ser o segundo barco dos clientes. Como principal característica estão os motores do lado externo. O Fishing 330 Solarium (R$ 1,1 milhão) oferece aproximadamente oito horas de autonomia e é considerado insubmergível devido aos materiais de construção. O modelo tem solário, cabine com cama de casal e uma área gourmet com grill. Acompanhando o crescimento do setor, o estaleiro fez investimentos em sua fábrica para aumentar o volume de produção de seus barcos, passando das atuais 50 unidades anuais para 80 no próximo ano.

O modelo de produção de barcos ainda é basicamente artesanal, seja pelos elementos que formam as embarcações, seja devido às inúmeras possibilidades de customização oferecidas pelos estaleiros para suas unidades. Com o aumento da demanda somado a algumas dificuldades da cadeia de suprimento que impactam na velocidade de produção, o resultado é uma fila de espera crescente. Na Fishing, as entregas de novos pedidos só terão início em março de 2023. Na Intermarine, dependendo do produto, o prazo é dez meses. Tempo suficiente para planejar com calma os lugares a serem alcançados em cada aventura sobre as águas.