Após o verdadeiro tsunami financeiro que a atingiu,  a fabricante de equipamentos petrolíferos Lupatech parece ter obtido uma breve trégua, na semana passada. A direção da  empresa foi autorizada a fazer uma captação de R$ 60 milhões fornecidos pelo fundo de pensão Petros, um de seus maiores acionistas.  O dinheiro significou um oxigênio de curto prazo à companhia gaúcha, que disse ter quitado metade dos R$ 67 milhões em obrigações que vencem até o fim de dezembro, em comunicado por e-mail enviado à DINHEIRO. O ponto de interrogação agora é o que ela fará para enfrentar os mares revoltos de 2012. Sediada em Caxias do Sul e detentora de 22 fábricas, incluindo unidades na Argentina e na Colômbia, a Lupatech acumula problemas desde 2007, quando iniciou um forte processo de expansão, apostando na demanda trazida pelos campos do pré-sal. Foram feitas 17 aquisições e a base de ativos passou de R$ 1 bilhão para cerca de R$ 1,5 bilhão, o que elevou a dívida líquida para R$ 1,2 bilhão. No entanto, a crise econômica de 2008 fez com que seu o principal cliente, a Petrobras – responsável por quase 75% dos negócios – atrasasse seu cronograma, e os pedidos esperados não vieram. “Criaram o pior dos cenários: geração de caixa muito baixa com nível de endividamento muito alto”, diz Artur Delorme, analista da Ativa Corretora. 

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 Os números da Lupatech do terceiro trimestre não deixam dúvida sobre o quão difícil é a sua situação. No fim de setembro, o caixa estava em R$ 30 milhões e a geração trimestral de receita Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) na faixa de R$ 20 milhões. Para enfrentar os problemas, a empresa  anunciou no primeiro semestre uma reorganização que incluía a venda de ativos, principalmente no setor de metalurgia. Esse desinvestimento deveria gerar um reforço de caixa entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões. Mas a estratégia enfrenta ceticismo. Até agora, a única operação em andamento é a venda da unidade Steelinject, por R$ 14 milhões, para as Forjas Taurus. Como se não bastasse o baixo valor do negócio, o pedido de autorização para a venda feito aos detentores de bônus perpétuos (sem data de vencimento) detonou a desconfiança do mercado. 

 

A Steelinject era um dos ativos garantidores da dívida da empresa, que tem R$ 509 milhões atrelados a esse tipo de papel. Foi o bastante para que as ações da Lupatech derretessem na Bovespa na última semana de novembro, chegando a perder  85% do valor de mercado,  em meio a rumores sobre um calote iminente no pagamento dos juros dos bônus. Foi necessário o BNDES – outro acionista – vir a público afirmar que buscava “alternativas de mercado” como forma de fortalecer a estrutura de capital da companhia para acalmar os ânimos. Na entrevista por e-mail  à DINHEIRO, a Lupatech nega veementemente que pretenda promover uma reestruturação da dívida e classifica como “especulação” os receios sobre o não pagamento de uma parcela de RS 7 milhões dos bônus, que vence no dia 10 de janeiro. No entanto, mesmo que a captação da Petros evite um calote a curto prazo, resta a questão de como encarar os R$ 313 milhões de dívidas de curto prazo,  mais os encargos sobre debêntures e bônus perpétuos. A empresa aposta nos R$ 306 milhões de pedidos em carteira com prazo inferior a 12 meses. 

 

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Alexandre Monteiro: após ser nomeado presidente no início de setembro, o executivo enfrenta tsunami financeiro


Nada garante, porém,  que esses pedidos irão realmente se materializar. “O que atrasou a Petrobras em 2008 foi a falta de dinheiro no mercado, gerada pela crise financeira”, afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura. “A crise atual tem potencial para repetir isso.” Com o programa de vendas de ativos emperrado,  parece difícil que a Lupatech consiga obter por sua própria conta os recursos os necessários para seu reequilíbrio, calculados entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões pela agência Moody´s. “Com certeza vai ser preciso um aporte, seja dos atuais sócios ou de um novo investidor”, diz Erick Scott, analista da corretora SLW. Para Evódio Kaltenecker, professor da BBS Business School, não interessa ao governo – que detém 11%  do capital da Lupatech via BNDESPar – deixar naufragar uma companhia que ocupa função estratégica na exploração do pré-sal. 

 

“Existe a exigência de que empresas fornecedoras da Petrobras tenham cerca de 60% do equipamento com conteúdo nacional”, afirma Kaltenecker. “A Lupatech é a única grande companhia nacional que atua nesse segmento.” A despeito das dificuldades atuais, é quase unânime no mercado que, caso consiga atravessar 2012 em águas calmas, a Lupatech tem potencial pela frente. “A longo prazo  continua uma empresa interessante, principalmente pelo segmento em que ela está inserida, que está com grande perspectiva de  investimentos”, diz Reginaldo Takara, analista da Standard & Poor´s. De fato, a carteira a longo prazo da companhia contém pedidos de R$ 2,1 bilhões. E como a própria Lupatech lembra, “investimentos maciços na produção e processamento do petróleo são uma realidade nos próximos anos”. O desafio será chegar até lá.

 

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