20/06/2016 - 15:46
O Movimento 5 Estrelas (M5S), lançado pelo humorista italiano Beppe Grillo para acabar com a classe política tradicional, é hoje a segunda força política do país e a primeira em Roma, onde sua candidata foi eleita prefeita no domingo.
Graças às suas vibrantes declarações “anti-sistema”, o comediante e ator genovês Beppe Grillo iniciou em 2007 uma série de manifestações contra a classe política sob o lema “Dia do Vaffanculo”, conquistando apoio maciço.
Cansado das intrigas da velha política, Grillo revelou-se um eficaz contestador dos privilégios da classe política, do capitalismo selvagem e corrupto, o que lhe rendeu enorme popularidade.
Pela internet, um blog e uma rede territorial com mais de duzentos grupos de encontro, Grillo incentivava o debate, estudava propostas, lançava anátemas.
Seu blog, lançado no ano 2000, tornou-se em prazo recorde o mais consultado e influente da Itália.
Em 2009, ele fundou o M5E juntamente com Gianroberto Casaleggio, especialista em informática, considerado até a sua morte, em abril, o “guru” do movimento.
Tratava-se de um espaço de democracia participativa, direta, horizontal, controlada e regulamentada por si mesma.
O movimento se baseia, principalmente, no repúdio aos partidos políticos tradicionais e defende de forma ferrenha a honestidade como princípio.
Em nível nacional, as medidas do programa são variadas: criação de um salário mínimo, realização de um referendo para sair da zona do euro, adoção de medidas mais fortes contra a corrupção, estímulo econômico às pequena e média empresas, imposição de limites de mandato nas eleições, redução dos salários dos políticos e dos fundos para partidos e a imprensa, internet para todos.
Assim como o Podemos, na Espanha, ou o Syriza, na Grécia, o M5E repudia qualquer aliança com partidos tradicionais, mas não se identifica como uma formação de esquerda.
Em 2014, Beppe Grillo pediu a limitação aos vistos humanitários e este ano, o movimento rejeitou no último minuto a votar pelas uniões civis para os homossexuais – apoiadas por 80% de seus militantes – para evitar aliar-se ao governo de centro-esquerda, debilitado pela retirada do apoio dos setores católicos internos.
O M5E costuma arrasar nas eleições. Em 2013, obteve uma vitória esmagadora ao conquistar 25% dos votos nas eleições legislativas. Desde então, vem multiplicando vitórias em eleições locais parciais e confirmou-se no domingo como a segunda força política do país depois do Partido Democrático.
O movimento administrava até agora algumas poucas localidades de importância mediana, mas como us resultados positivos de domingo, com a conquista das prefeituras de Roma e Turim, poderia se tornar um concorrente de peso para chegar ao poder nas eleições de 2018.
Virginia Raggi, uma até então desconhecida advogada de 37 anos, se tornará a primeira mulher a governar a capital italiana.
Os chamados “grillini”, todos novatos, lutam por se fazer ouvir no Parlamento, rejeitam qualquer aliança com outros partidos e costumam evitar aparecer em programas de TV tradicionais.
Todos devem respeitar um código de conduta que os obriga a pedir permissão aos dirigentes do movimento para todas as decisões importantes. Uma série de investigações penais contra os prefeitos do movimento que governam Parma e Livorno afetou a imagem destes cavaleiros brancos.
O humorista, que revolucionou a política italiana, afastou-se do movimento há quase um ano e se tornou seu avalista e juiz supremo. Algumas de suas tiradas irreverentes provocam incômodo, sobretudo quando fala de imigração, um tema com o qual é pouco “politicamente correto”.
Entre seus afilhados políticos estão Luigi Di Maio, jovem napolitano de 30 anos, e Alessandro di Battista, de 38 anos, os dois prontos para governar, como admitiu o próprio Di Maio à AFP.
O napolitano afirma que o movimento está em ascensão na península porque a classe política está cega e surda frente às mudanças e exigências dos cidadãos.