Imaginar que tudo é possível. Foi isso que Steve Jobs fez e o resultado acaba de completar 20 anos: o computador Macintosh. A importância desse feito muitos desconhecem, mas foi graças ao ?Mac? que hoje você tem um micro na mesa da sua casa e do seu escritório. Até sua chegada os computadores eram grandes, extremamente caros e de uso exclusivo dos círculos acadêmicos e empresas multimilionárias. O Mac já nasceu inovando. Trouxe a interface gráfica, ícones (lixeira/arquivos) e o mouse. Foi também o primeiro a apresentar monitor colorido e a separá-lo da CPU, otimizando espaços para o usuário doméstico. Graças ao Macintosh, o mundo conheceu vários desenhos animados feitos por computação gráfica. E viu surgir micros com design diferente, equipados com monitores de telas planas e articuladas e CPUs em formato de cúpula. Hoje, com duas décadas de existência, o carro-chefe da Apple continua tinindo. O mais recente modelo, o Power Macintosh G5, tem um processador da IBM de 2GHz que lhe dá o título do computador mais rápido do mundo. É uma espécie de Ferrari dos micros. O produto que nasceu na garagem da casa de Steve Jobs, fundador da Apple, ainda hoje serve de referência para o setor, garante 80% das vendas da companhia e move uma legião de consumidores apaixonados pela marca: os macmaníacos. ?Em duas décadas, nós fizemos uma revolução?, suspirou Jobs em recente evento na cidade de San Francisco. ?E vamos aproveitar o aniversário de 20 anos para preparar outra.?

 

Jobs agora quer fazer na indústria da música o que o Macintosh fez com o mercado de computação. Sua nova revolução cabe na palma da mão, pesa 85 gramas e atende pelo nome de iPod, um tocador de MP3 para escutar as músicas ?baixadas? da internet. O aparelho, que custa US$ 399, comporta até mil canções digitalizadas, enquanto seus rivais armazenam, em média, 15 canções. Detalhe: por enquanto o iPod só consegue pegar músicas de micros Macintosh, que representam 5% dos computadores pessoais comercializados em todo o mundo. Trata-se de um nicho, é verdade. Mas ainda assim é um nicho imenso, de 7 milhões de equipamentos da Apple no mundo. Jobs sabe como segurar seus consumidores. E os macmaníacos já provaram durante essas duas décadas que compram de olhos fechados tudo o que carregue o logo da maçã. Mesmo assim, o fundador da Apple não perde a oportunidade de cutucar os concorrentes. Numa apresentação recente na Califórnia, ele fez graça prometendo construir um software para o iPod conversar com os PCs ?quando sobrar um tempo livre?.

As rusgas entre usuários de PCs e dos Macs não vêm de hoje. Começaram em meados de 1985, época em que Bill Gates era o fornecedor de programas como Word e Excel para os Macintosh. Na época, Jobs estava brigado com outro sócio da Apple, John Sculley, e decidiu abandonar a empresa. Foi justamente nesse ano que a história poderia ter sido escrita de forma diferente. A Microsoft tinha uma parceria com a Apple, desenvolvendo os softwares (programas como Word e Excel) que equipavam o Mac. Gates fez a seguinte proposta a Sculley: continuaria criando programas para a Apple desde que a Microsoft pudesse usar tecnologias gráficas do Macintosh. Foi o pior con-
trato que a Apple já fez. Até hoje, os executivos da empresa costumam dizer que se Sculley não tivesse assinado o acordo, o Windows não poderia ser lançado, pois suas semelhanças com
o MacOS seriam tão óbvias que a Apple ganharia facilmente
qualquer processo judicial contra a Microsoft.
Esse acontecimento acabou gerando a eterna briga entre macmaníacos e os usuários dos PC?s. Pior: abriu para o mercado a tecnologia que até então estava restrita aos computadores da maçã. A companhia teve de mudar sua estratégia. Nasceu para ser popular, única, e viu de uma hora para outra uma enxurrada de concorrentes à sua volta. Jobs continuava fora e a Apple sentiu o baque. Em 1996 teve um prejuízo de quase US$ 800 milhões. Esse foi o gatilho que fez com que Steve Jobs voltasse. Como presidente ele tocou para frente o projeto do iMac (um Macintosh com design inovador, semelhante a um abajur) e o notebook iBook. Também patenteou todas as invenções Apple para evitar pirataria industrial. Em dois anos recuperou a empresa e anunciou um lucro de US$ 47 milhões. A empresa percebeu que havia então um novo caminho a seguir: a mistura de tecnologia e do design. Lançou, então, os monitores coloridos e transparentes. Bingo! A Apple ressurgiu. No último trimestre de 2003, registrou faturamento de US$ 2 bilhões (lucro de US$ 63 milhões), 36% a mais do que em igual período do ano anterior. O caminho está pavimentado para o iPod.

1984: Macintosh original apresentou o mouse e a interface gráfica 1994: Apple lança o processador PowerPC e ?turbina? a velocidade do Macintosh 1998: O iMac marcou o retorno de Jobs ao grupo. Seu formato surpreendeu a indústria

1999: Com o sucesso do iMac, a Apple repete a dose nos notebooks. Deu certo. 2000: O Cube G4, uma CPU em formato de cubo, chamou a atenção mas não era funcional 2002: Dessa vez, a empresa acerta no design. Faz uma CPU em forma de cúpula e lança a tela articulada