31/05/2023 - 23:09
Estudos ligam o uso de maconha por adolescentes à depressão, mas ainda não deixam claro se há relação de causa e efeito.A atitude global em relação à cannabis vem mudando, direcionando-se mais para explorar seus potenciais usos medicinais e para legalizá-la.
Oito países, incluindo Canadá, Uruguai, México e Tailândia, e 22 estados dos EUA legalizaram a maconha recreativa. Cerca de 50 países a legalizaram para uso medicinal. Muitos outros estão pressionando suas leis nessa direção.
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Mas, assim como o tabaco e o álcool, a legalização não significa que a droga não seja prejudicial.
A maconha é uma das substâncias mais usadas entre os adolescentes em todo o mundo. Nos EUA, mais de 2,5 milhões de adolescentes usam maconha casualmente, de acordo com pesquisadores da Universidade de Columbia, em Nova York, e o uso de maconha entre os jovens aumentou nas últimas décadas.
É por isso que a tendência à legalização e ao uso medicinal tem despertado alertas, principalmente sobre os riscos potenciais à saúde dos adolescentes.
Um cérebro em desenvolvimento
Embora seja complicado dizer quando termina a adolescência, está claro que é um período que vem acompanhado de muitas mudanças biológicas, incluindo mudanças no cérebro.
Essas mudanças tornam ainda mais difícil entender como a maconha pode afetar a mente dos adolescentes.
O cérebro está em desenvolvimento até meados dos 20 anos, de acordo com o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA.
Nesse período, há um grande desenvolvimento e ajuste em áreas do cérebro relacionadas ao manuseio de emoções, enfrentamento do estresse, recompensas e motivação, tomada de decisões, pensamento antes de agir, controle de impulsos e raciocínio, por exemplo. Há também um aumento da massa branca e uma diminuição da massa cinzenta durante a adolescência, o que faz com que diferentes regiões do cérebro se comuniquem de maneira mais rápida e eficiente.
É um momento complicado para adolescentes. Não apenas seus corpos passam por mudanças drásticas, mas eles também enfrentam questões como identidade, pressão social, cobrança por boas notas e dinâmica familiar.
Todas essas mudanças e pressões podem tornar os adolescentes mais propensos a ter problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão, e podem levá-los a usar substâncias como a maconha para lidar com isso, segundo a Administração de Serviços de Saúde Mental e Abuso de Substâncias dos EUA. O problema é que o uso de maconha também pode piorar as condições de saúde mental a longo prazo.
Como o cérebro está se desenvolvendo nesse estágio, também é particularmente vulnerável a substâncias como álcool, tabaco, maconha e outras drogas que atuam sobre ele. Essas substâncias demonstraram alterar ou atrasar alguns dos desenvolvimentos que geralmente ocorrem durante a adolescência, de acordo com a Academia Americana de Psiquiatria Infantil e Adolescente.
No caso da cannabis, há evidências de que ela modifica o cérebro dos adolescentes.
As evidências sobre cannabis e depressão
O uso de maconha tem sido associado a dificuldades de raciocínio e resolução de problemas, memória e aprendizado, e com coordenação e concentração reduzidas, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA. Ainda não está claro se esses problemas persistem após a interrupção do uso de cannabis.
A pesquisa também mostrou associações entre o uso de maconha e problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão. Também é mais provável que as pessoas que usam cannabis tenham episódios psicóticos.
Um estudo, publicado no JAMA, o Journal of the American Medical Association, no início deste mês, analisou adolescentes que ocasionalmente usaram cannabis nos últimos 12 meses por meio das respostas de quase 70.000 adolescentes à Pesquisa Nacional sobre Uso de Drogas e Saúde de 2019.
O que se constatou é que, em comparação com os não usuários, aqueles que usavam maconha, mas não atendiam aos critérios para dependência, relataram de duas a quatro vezes mais problemas de saúde mental, como depressão, pensamentos suicidas, pensamento mais lento e dificuldade de concentração.
Isso sugere haver uma associação entre o uso de maconha e os problemas de saúde mental, mas não é possível dizer que há relação de causa e efeito.
Outro estudo recente publicado no JAMA Psychiatry descobriu que o uso de maconha em adolescentes também foi associado a um risco aumentado de desenvolver depressão e pensamentos suicidas mais tarde na vida.
No entanto, um estudo de 2022 publicado no Journal of Psychopharmacology mostrou que os adolescentes que usavam maconha não eram mais propensos a desenvolver problemas de saúde mental, como depressão ou ansiedade, em comparação com adultos que que também usavam cannabis.
Apenas os adolescentes viciados em maconha tiveram pior saúde mental.
A maconha é a causa?
A correlação não é igual à causalidade e, como no caso do ovo e da galinha, é difícil dizer se o uso de cannabis em adolescentes é a causa da maior associação com depressão e outros problemas de saúde mental, ou se os adolescentes com esses problemas são mais propensos a usar maconha.
Um estudo de 2020 publicado na Frontiers in Psychiatry revisou as evidências sobre a cannabis e o cérebro adolescente e concluiu que, devido à maneira como muitos dos estudos disponíveis, os chamados estudos transversais, foram projetados, não sabemos muito sobre a natureza da relação entre uso de maconha e saúde mental.
Os estudos transversais analisam diferentes grupos de pessoas em um ponto específico no tempo. O objetivo é reunir informações sobre um determinado tópico, coletando dados de um grupo diversificado de indivíduos de uma só vez. Em seguida, os pesquisadores analisam os dados e tentam encontrar padrões ou relações, mas não conseguem estabelecer o que causa o quê.
O estudo Frontiers of Psychology também enfatizou que é possível que tanto o uso de cannabis quanto os problemas de saúde mental possam ser causados por outra coisa, como a suscetibilidade dos adolescentes ao estresse e à ansiedade.
Em suma, ainda é necessário mais pesquisas para avaliar se a maconha pode causar problemas de saúde mental em adolescentes.