22/05/2002 - 7:00
O sorriso de Ronald McDonald?s está da cor de seu macacão: amarelo. A maior rede de fast-food do planeta, com cerca de 30 mil lojas, enfrenta turbulências nos Estados Unidos e no Brasil. Lá, os resultados dos últimos seis trimestres decepcionaram os investidores e analistas. Aqui, os restaurantes populares têm roubado público da gigante e, como se isso não bastasse, 25 franqueados foram
à Justiça acusando a empresa de abuso de poder econômico. Para tirar o tom amarelado de seu balanço, o McDonald?s prepara um ambicioso plano de reestruturação. A fórmula prevê até o lançamento mundial de novas bandeiras de redes de fast-food que acabam de ser compradas pela companhia.
Os resultados do primeiro trimestre deste ano mostram que as coisas não vão bem. As vendas estagnaram em US$ 9,7 bilhões, contra os US$ 9,65 bilhões do mesmo período de 2001. O lucro líquido ficou em US$ 253,1 milhões, contra os US$ 378,3 milhões. Com o anúncio, as ações da rede subiram 4,9% em Wall Street. Os analistas esperavam números menores. Mas o saldo é preocupante. Desde 1999, os papéis despencaram 42%. Em novembro daquele ano, estavam cotados a US$ 49. Na semana passada, US$ 29,97. A luz amarela acendeu no quartel-general da empresa, em Chicago. Jack Greenberg?s, presidente mundial da rede, já admite que existe um clima de pessimismo e pôs em campo uma estratégia para dar nova cara ao grupo. A receita é cortar custos e investir em novas redes de lanchonetes. Ronald foi às compras e arrematou o controle da Boston Market (frangos e saladas), com 650 lojas, outras 180 unidades da Chipotel (comida mexicana) e mais 190 restaurantes da Donatos Pizzeria.
?O Brasil é parte fundamental desse plano de salvamento?, diz Alcides Terra, vice-presidente de RH da filial. Por aqui as coisas
vão melhor do que na matriz. No ano passado, as vendas atingiram R$ 1,57 bilhão. Crescimento de 7,5% contra o resultado de 2000. Apesar das boas vendas, a filial perdeu mercado. Tanto que a empresa decidiu se mexer. Marcel Fleischmann, presidente da rede no Brasil, enviou Jadir Araújo, um dos seus executivos de confiança, para os Estados Unidos com a missão de responder à pergunta: como trazer as novas bandeiras para o mercado brasileiro? O projeto, que vem sendo tratado em segredo, tem um horizonte de até três anos.
Para enfrentar o avanço dos restaurantes populares, o McDonald?s abaixou os preços. Às terças-feiras, o preço do hambúrguer cai de R$ 1,50 para R$ 0,79, queda de 47,3%. O cheeseburger passou de R$ 1,85 para R$ 0, 99 às quintas-feiras, queda 46,4% . Ao longo do ano, outros produtos terão preços reduzidos. A nova cara da empresa surgiu de uma pesquisa feita no fim do ano passado, com consumidores e fornecedores. O plano de ação tem quatro itens: atender às expectativas dos clientes, foco na família, divulgar a qualidade e garantir acesso a um maior número de pessoas. A idéia é desenvolver produtos que atendam às necessidades dos consumidores. Um exemplo é o queijo quente, reivindicação das mães por lanches mais simples para as crianças. O produto estreou no cardápio em janeiro.
Com a desvalorização do real, o Brasil caiu da 6ª para a 8 ª posição no ranking do grupo. A média de abertura de lojas que era de 80 por ano, caiu para 47 em 2001. No ano passado, 20 lojas foram fechadas. O volume de investimento será mantido em R$ 200 milhões. Mas as prioridades mudaram. Cerca de 50 lojas serão reformadas. Atualmente, a rede tem 573 restaurantes e 615 quiosques no Brasil. Estão previstos mais 100 quiosques e 33 lojas. A previsão é de o faturamento crescer entre 5% e 8%. A rede Mc Cafés vai subir de 17 para 40 lojas. O serviço de entregas, limitado a 11 lojas, vai ser estendido a todas as unidades. Este ano a meta é oferecer o sistema para 111 lojas. E a McInternet, acesso à rede mundial de computadores, passa de 50 para 100 lojas.
No começo do mês, uma antiga briga entre o McDonald?s e franqueados chegou ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O órgão do Ministério da Justiça vai investigar a denúncia de que a rede pratica abuso econômico contra seus associados. Eles reclamam dos critérios de cobrança de aluguéis, da abertura indiscriminada de lojas e a conseqüente queda nas vendas. Alcides Terra nega as acusações e diz que a empresa tentou um acordo para rever os contratos, mas os associados se mostraram irredutíveis. ?São apenas 25 franqueados, que têm o direito de recorrer à Justiça para lutar pelos seus interesses. Mas estamos obtendo vitórias nos processos até agora?, diz.