O presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu nesta sexta-feira (7) que os europeus não podem ser meros “espectadores” da corrida armamentista mundial, pedindo a seus sócios que participem da política francesa de dissuasão e que se crie “uma agenda internacional de controle de armamentos”.

“A França mobilizará os sócios europeus para estabelecer as bases de uma estratégia internacional comum que poderemos propor em todos os foros, nos quais a Europa é ativa”, declarou ele, em um discurso muito esperado sobre a estratégia de defesa e dissuasão nuclear francesas.

Neste pronunciamento, Macron destacou que Paris reduziu o tamanho de seu arsenal para menos de 300 ogivas nucleares.

Os europeus não podem “se limitar a um papel de espectadores”, frente à corrida armamentística nuclear, destacou o presidente, na presença dos ministros dos Assuntos Exteriores (Jean-Yves Le Drian), das Forças Armadas (Florence Parly) e de vários diplomatas estrangeiros.

Macron propôs ainda um “diálogo estratégico” sobre o papel da “dissuasão nuclear francesa” para a segurança da Europa. Com a saída do Reino Unido do bloco, a França é o único país da União Europeia que tem arma atômica.

“A última década viu os equilíbrios estratégicos, políticos, econômicos, tecnológicos, energéticos e militares sendo amplamente postos em xeque, e hoje nós vemos ressurgir o que pode prejudicar a paz conquistada após tantos dramas no nosso continente”, advertiu.

– Autonomia estratégica frente a desafios mundiais

Segundo ele, o mundo está diante de “uma competição global entre os Estados Unidos e a China”, de “um esvaziamento acelerado da ordem jurídica internacional” e de uma desintegração da arquitetura de controle dos armamentos na Europa.

Em resposta a estes desafios, Macron defende que a Europa tenha “uma maior autonomia estratégica”.

“Os sócios europeus que desejarem se unir a esta via poderão participar de exercícios das forças francesas de dissuasão. Este diálogo estratégico e estes intercâmbios farão parte do desenvolvimento de uma verdadeira cultura estratégica entre europeus”, sugeriu.

O chefe de Estado francês assegurou que a capacidade nuclear francesa “reforça a segurança da Europa pelo fato de existir e também tem uma dimensão autenticamente europeia”.

Para Macron, “os europeus devem tomar consciência coletivamente de que, na falta de um marco jurídico, podem se ver rapidamente expostos à retomada de uma corrida de armamentos convencionais e até nucleares, em seu território”.

“A França está convencida de que a segurança da Europa em longo prazo passa por uma aliança forte com os Estados Unidos”, insistiu ele, dois meses depois de uma cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) bastante tensa.

“Mas nossa segurança passa também, inevitavelmente, por uma maior capacidade de ação autônoma dos europeus”, concluiu.

Com cerca de 1h15 de duração, este discurso bastante esperado é um exercício imposto a cada presidente francês, comandante em chefe das Forças Armadas e responsável pela doutrina de dissuasão nuclear, considerada pela França como a pedra angular de sua estratégia de defesa e garantia de seus interesses nacionais.

jri-vl-dla-cs/mab-bl/tt