21/10/2020 - 6:20
A França prestou uma homenagem nacional nesta quarta-feira (21), na Universidade Sorbonne, a Samuel Paty, professor decapitado na sexta-feira passada em um atentado que perpetrado porque “incorporou a República Francesa”, de acordo com o presidente Emmanuel Macron.
“Vamos continuar, professor. Vamos defender a liberdade que o senhor tão bem ensinou e vamos defender o secularismo, não vamos renunciar às caricaturas”, declarou o chefe de Estado na cerimônia que aconteceu na Universidade Sorbonne, em Paris.
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“Era um daqueles professores que não esquecemos”, acrescentou Macron, que também denunciou os “covardes” que levaram o professor a ser decapitado pelos “bárbaros”.
O professor foi assassinado em um subúrbio de Paris porque havia mostrado a seus alunos, durante um curso de instrução cívica, cartuns de Maomé publicados por um semanário satírico e que levaram a dois ataques islâmicos contra aquela publicação.
Dois menores de 14 e 15 anos são acusados de terem mostrado ao assassino, Abdullakh Anzorov – um jovem refugiado de origem chechena russa – quem era o professor que procurava, em troca de “300 a 350 euros”, de acordo com o procurador antiterrorista, Jean-François Ricard.
Segundo fontes próximas ao caso, o assassino, após publicar nas redes a foto de sua vítima decapitada, enviou uma mensagem de áudio em russo pouco claro na qual dizia ter “vingado o profeta”, censurando o professor por ter “mostrado isso de forma insultuosa”.
Nesta mensagem, o agressor parece quase sem fôlego e profere frases do Alcorão: “Irmãos, orem para que Alá me aceite como um mártir”, diz ele, de acordo com uma tradução da AFP.
Antes do início da cerimônia no pátio da Sorbonne, Macron presenteou Paty com a Legião de Honra (a principal condecoração francesa) postumamente.
O filho de 5 anos da vítima também será declarado um “pupilo da nação”, uma distinção atribuída a crianças cujos pais morreram na guerra ou em um ataque.
– Acusado nas redes sociais –
Entre os outros suspeitos está o pai de um aluno que iniciou a mobilização por meio de vídeos nas redes sociais após a aula sobre liberdade de expressão que o professor ministrou no dia 5 de outubro, quando exibiu os desenhos animados.
Dias depois do lançamento dos vídeos, Samuel Paty foi decapitado no meio da rua pelo checheno de 18 anos, que mais tarde foi morto a tiros pela polícia.
O pai do aluno, Brahim C., é acusado, assim como o militante islâmico Abdelhakim Sefrioui, de ter “especificamente designado o professor como alvo nas redes sociais”.
Os investigadores antiterroristas também estão interessados nas mensagens trocadas no WhatsApp entre esse pai e o assassino.
Três amigos do assassino, que se entregaram em uma delegacia na noite de sexta-feira, também serão interrogados pelo juiz.
Nove detidos foram inicialmente libertados, incluindo três estudantes, bem como os pais, avô e irmão mais novo do agressor.
– Ofensiva contra o islamismo –
O presidente francês disse na terça-feira que as medidas contra o islamismo radical serão intensificadas.
“Não é uma questão de fazer novas declarações (…) os cidadãos esperam ações. Essas ações vão se intensificar”.
Na mira está o coletivo pró-palestino Cheikh Yassine, criado por Abdelhakim Sefrioui e que foi dissolvido nesta quarta-feira no Conselho de Ministros.
Da mesma forma, cerca de cinquenta associações consideradas próximas ao “islamismo radical” poderão ser fechadas.
Após o assassinato, as autoridades francesas prometeram “uma guerra contra os inimigos da República”.
A mesquita Pantin, na periferia de Paris, que costuma reunir cerca de 1.300 fiéis, também ficará fechada por seis meses.
Seus responsáveis são acusados de terem divulgado o vídeo do pai do aluno.
As autoridades francesas prometeram “uma guerra contra os inimigos da República”.
“Não é mais uma questão de saber se haverá um ataque, mas quando”, justificou o ministro do Interior, Gérald Darmanin.
Este último atentado insere-se num “contexto de apelo aos assassinatos” lançado após a republicação das caricaturas de Maomé pelo semanário satírico Charlie Hebdo, no início de setembro, antes do início dos julgamentos pelos atentados contra aquela publicação e aquela mesma causa em 2015, segundo o procurador Ricard.
Ele citou o atentado com facão cometido no dia 25 de setembro, em frente às antigas instalações deste semanário em Paris, e “três comunicações” da Al-Qaeda que pediam o “assassinato” das pessoas que deram origem à retransmissão desses desenhos.