10/10/2025 - 19:57
Sébastien Lecornu reassume o cargo após colapso do governo com desafio de aprovar lei orçamentária, nomear novo gabinete e evitar nova dissolução do Parlamento.O presidente da França, Emmanuel Macron, reconduziu nesta sexta-feira (11/10) o primeiro-ministro Sébastien Lecornu ao cargo, apenas quatro dias após sua renúncia.
Aliados e opositores esperavam uma nova figura no governo para encerrar meses de paralisia em torno da aprovação de uma lei orçamentária, mas Macron optou por reconduzir Lecornu. Ele é o quinto primeiro-ministro a ocupar o cargo somente durante o segundo mandato do presidente francês, que teve início em 2022.
“O presidente da República nomeou Sébastien Lecornu como primeiro-ministro e o encarregou de formar um governo”, informou o Palácio do Eliseu.
Após o anúncio, Lecornu disse que aceitou a missão “por dever”. “Precisamos encerrar a crise política”, afirmou.
A França vive um impasse político desde que Macron convocou eleições antecipadas no ano passado. O pleito resultou em um Parlamento ainda mais dividido, separado em três grandes blocos: a aliança de esquerda, o bloco centrista – aliado de Macron – e a ultradireita, nenhum dos quais detém maioria absoluta.
Lecornu entregou cargo por pressão sobre gabinete
Aliado fiel de Macron e ex-ministro da Defesa, Lecornu havia renunciado na última segunda-feira, apenas 14 horas após anunciar seu gabinete. Suas escolhas foram criticadas por aliados e opositores por manter nomes do governo anterior na chefia das pastas. A principal polêmica se concentrou no nome de Bruno Le Maire, ex-ministro das Finanças, reconduzido à Defesa.
Sob pressão, Lecornu entregou o cargo e disse que sua missão estava terminada, mas concordou em permanecer por mais dois dias na função para dialogar com todos os partidos políticos e verificar se havia desejo por novas eleições.
Após consultas, Lecornu indicou a Macron que a maioria absoluta da Assembleia Nacional rejeita uma nova dissolução do Parlamento, que poderia colocar também a permanência do presidente em xeque.
“Existe uma plataforma para a estabilidade”, disse o gabinete de Macron, citando as conclusões de Lecornu.
Lei orçamentária sob risco
Com a recondução do primeiro-ministro, a expectativa é que um novo gabinete seja apresentado, com maior espaço para partidos aliados.
Lecornu disse acreditar ser possível aprovar uma lei orçamentária até o final do ano. Altamente endividada, a França precisa aprovar seu orçamento dentro do prazo. Formalmente, o texto precisa ser submetido por um premiê até a próxima segunda-feira.
Com os prazos apertados, a nova tentativa governista de Lecornu é vista como a última chance de Macron se manter no poder sem levar a uma paralisia completa do Executivo e Legislativo francês.
O líder do partido de ultradireita Reagrupamento Nacional, Jordan Bardella, classificou a permanência de Lecornu no cargo como uma “piada de mau gosto” e prometeu buscar imediatamente a destituição do novo gabinete.
Um porta-voz da coalizão de esquerda, que também faz oposição a Macron, disse que o retorno de Lecornu foi um “gesto obsceno ao povo francês”.
Os socialistas, grupo decisivo no Parlamento, afirmaram que “não têm acordo” com Lecornu e que derrubariam seu governo caso ele não suspendesse a reforma da previdência de 2023, que aumentou a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos.
Medidas de austeridade estão no centro da disputa com o Legislativo francês. O parlamento derrubou os dois antecessores de Lecornu por embates sobre cortes orçamentários.
Críticas de aliados
A crise crescente também levou antigos aliados a criticarem o presidente. Em um movimento inédito, o ex-primeiro-ministro Edouard Philippe, pré-candidato à presidência em 2027, afirmou no início da semana que Macron deveria renunciar após a aprovação do orçamento.
Mas Macron diz que permanecerá até o fim de seu mandato. Lecornu alertou que todos os que desejam integrar seu novo governo “devem se comprometer a deixar de lado ambições presidenciais” para as eleições de 2027.
gq (AFP, AP, DPA)