Bill Gates continua com planos ambiciosos para a sua companhia, a Microsoft. Só que desta vez os softwares ocuparão um papel secundário. Gates quer entrar em todos os cantos das casas dos consumidores com uma série de produtos com o software Microsoft, totalmente distantes do sistema operacional Windows. Nessa direção há uma série de novidades, que inclui relógios de pulso que mostram em tempo real os resultados da loteria, despertadores que se ajustam à hora local automaticamente quando desembarcam em outro país e, o mais impressionante, pequenos televisores para exibir fotos e imãs de geladeira capazes de realizar tarefas como exibir previsão do tempo e mostrar o placar de jogos de futebol.

Toda essa iniciativa está amparada em um novo tipo de chip que a Microsoft desenvolveu em parceria com a National Semiconductor, um dos maiores fabricantes de processadores do mundo. O maior mérito do chip é sua capacidade de receber e enviar sinais de rádio FM. Com ele embutido nos mais variados equipamentos será possível, por exemplo, fazer a geladeira ?conversar? com o fogão, transformando os eletrodomésticos em produtos com alguma inteligência. ?É uma tendência de mercado que se mostra muito atraente para as empresas?, afirma o professor João Antônio Zuffo, da Universidade de São Paulo. Os primeiros produtos dessa tecnologia, conhecida como Spot (Smart Personal Objects Technology, tecnologia de objetos pessoais inteligentes), estão previstos para chegar às prateleiras americanas em setembro em relógios das marcas Citizen, Suunto e Fossil.

A investida de Gates nesse mercado não é uma novidade. Há outras empresas trabalhando em consórcios com o objetivo de desenvolverem produtos com a mesma tecnologia. A diferença é que a Microsoft resolveu apostar sem ter muitos parceiros ao seu lado. A idéia de Gates é repetir a estratégia que o transformou em líder do mercado de sistemas operacionais para PCs: quanto menos gente ao seu redor melhor. Na contramão há uma série de iniciativas de outras empresas, incluindo a gigante de telecomunicações sueca Ericsson, em busca de uma linguagem universal capaz de permitir essa comunicação entre os eletrodomésticos e equipamentos em geral, como computadores, laptops e telefones celulares. ?Tentar criar um padrão fechado em um mundo tão diversificado como o universo doméstico é um risco grande?, disse à DINHEIRO o analista Roger Kay, do instituto de pesquisas IDC.

Gates ainda pretende cobrar pelos serviços: quem quiser a previsão do tempo no relógio de pulso terá de pagar uma anuidade de US$ 99. O investimento da Microsoft em todo o projeto foi de US$ 50 milhões ? apenas uma décima parte do que a empresa gastou na promoção do videogame Xbox. E as metas seguem o mesmo clima. ?Se conseguirmos 5% ou 10% das pessoas que usam relógios, esse já será um número gigantesco?, diz Gates. Para quem colocou seu software em 90% dos computadores do planeta, não parece mesmo uma grande soma.