24/02/2024 - 15:00
Recrutadores e empresas ao redor do mundo passaram a avaliar hobbies no momento de avaliar candidatos a vagas de trabalho. Praticar esportes, tirar fotos, saber tocar um instrumento musical, artesanato, jardinagem e a dança podem representar um diferencial no momento de apresentação de um currículo. As atividades incluem as “mad skills”, expressões que podem ser traduzidas para “habilidades incríveis”.
A ideia das empresas é entender mais sobre o comportamento de um profissional a partir dos seus gostos e atividades pessoais, focando em experiências de vida e outras características que não podem ser frequentemente observadas apenas com base na formação técnica e acadêmica ou nas habilidades socioemocionais de um candidato.
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Mariana Holanda, psicóloga e professora de pós-graduação da PUC-PR, explica que a tendência pode até ter bons princípios, mas é completamente diferente quando observada na prática. “Precisamos entender que tentar fazer uma leitura das experiências de vidas vai além de colocar seus hobbies em um currículo”, acrescentando que colocar atividades pessoais como diferencial pode esbarrar no limite entre trabalho e lazer.
A psicóloga crê que as tentativas de profissionalizar atividades de lazer são resultado de uma cultura que busca a produtividade a qualquer custo. “Se por um lado agora temos dados mostrando o quanto os hobbies são importantes para uma boa qualidade de vida, por outro, estamos usando mais uma métrica individual como critério, reforçando uma sociedade viciada em desempenho”, reitera.
Ainda de acordo com Mariana Holanda, muitos empregados sequer possuem tempo e disponibilidade real para se dedicarem aos seus hobbies. “A realidade hoje na equação trabalho e descanso é outra. Falando sobre precarização do trabalho, existem pessoas que gastam horas indo e vindo para o trabalho, em muitos casos também exercem sua atividade profissional aos finais de semana”, explica a especialista.
Para a psicóloga, muitos indivíduos perderão a sua espontaneidade caso a mad skill se popularize de fato na seleção de candidatos. “É possível que muitas pessoas passem a fazer coisas que sejam atrativas aos olhos de quem contrata, mas que na verdade sequer realmente gostam daquilo”, explica Mariana Holanda, acrescentando que o “diferencial” que é carregado por um hobbie pode se tornar uma autocobrança.
A especialista conclui que é necessário ficar atento aos limites que garantam tal espaço de liberdade a cada pessoa. “Não há dúvida de que precisamos discutir outras coisas mais importantes do que colocar os hobbies como critério de seleção na hora de uma contratação”, conclui a psicóloga e professora de pós-graduação da PUC-PR, Mariana Holanda.