27/11/2002 - 8:00
Olhando de longe, não se nota lá grande diferença. Nos últimos cinco anos, as montadoras brasileiras alternaram bons e maus momentos, mas continuaram exportando a mesma coisa: cerca de US$ 4 bilhões por ano. Porém, basta chegar mais perto para perceber que ocorreu uma grande transformação na indústria automobilística. Em 1997, havia praticamente um só destino para as exportações do carro nacional. Quase 80% das vendas desembarcavam na América do Sul, dos quais 60% na Argentina. Hoje, depois de receberem US$ 10 bilhões em investimentos, as empresas brasileiras vendem seus modelos em mercados muito mais competitivos. A América do Norte, com 35,8% das compras, já é o maior cliente. Os carros made in Brazil agora rodam nas highways americanas. Outro destino com crescimento significativo é a Ásia, cuja participação no bolo das importações saltou de 0,8% para 15,3% em cinco anos. ?A crise argentina obrigou o Brasil a buscar novas alternativas e o resultado foi excepcional?, avalia Emilio de Giacomo, da consultoria Roland Berger.
Nada disso teria sido possível sem uma profunda reengenharia. Em 1999, depois de investir US$ 750 milhões, a Volkswagen inaugurou sua planta mais moderna em São José dos Pinhais, no Paraná. ?A saída para não depender de um único mercado foi produzir carros de classe mundial?, conta Leonardo Solaga, executivo da montadora. ?Enquanto a Alemanha vende para a Europa, nós assumimos a responsabilidade pelo mercado americano.? Resultado: mais de 100 mil Golfs brasileiros já foram vendidos nos EUA e no Canadá. Um ano depois, foi a vez da General Motors, que também transformou a filial brasileira numa plataforma de exportação. ?Nossa meta é ter 30% do faturamento no exterior?, diz José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente. Alguns carros, como o Astra, já saem direto para o porto e um dos grandes compradores é o México. A Ford também não ficou parada. A nova fábrica de Camaçari, na Bahia, foi concebida com o objetivo de exportar grande parte da produção ? o número atual é de 29%.
A entrada em mercados competitivos também exige flexibilidade das empresas para produzir modelos com características específicas. ?No México, o motor é diferente porque a gasolina não é misturada ao álcool; na Austrália, dirige-se do lado direito?, explica Rogélio Golfarb, da Ford. Outro aspecto positivo é que os modelos exportados têm grande nacionalização de autopeças. No Golf, o índice é próximo a 80%. A exceção é o Classe C, da Mercedes, cujas peças vêm da Alemanha e são montadas na fábrica mineira de Juiz de Fora, antes de seguir para o mercado americano. ?Se o Brasil conseguir produzir modelos de luxo com qualidade, aí sim conquistará de vez os mercados competitivos?, avalia Glauco Arbix, professor de sociologia da Universidade de São Paulo e estudioso do setor automobilístico.