Após ter enfrentado um mercado cético com o volume de endividamento e desistido de abrir o capital na bolsa de valores (IPO) em um passado recente, o Grupo Madero, do empresário Luiz Renato Durski Junior, agora mostra que empenhou esforços para virar o jogo – e colhe frutos disso.

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IPO do Madero ainda não está em vias de ser balizado, mas a gestão está mais otimista com os números da operação, dado que a empresa deixou de operar no vermelho e, além disso, obteve uma redução substancial tanto da dívida líquida quanto do patamar de alavancagem.

A entrada da empresa na bolsa de valores é um ‘sonho pessoal’, segundo Durski, e apesar de a gestão não enxergar uma janela oportuna no momento atual, o balanço da empresa já é visto como robusto o suficiente para torná-la mais atraente para investidores.

“Eu sempre desejei fazer um IPO, mas não existe uma necessidade, tem que respeitar o mercado. Você tem uma janela, e se você quiser ‘pular a janela’ enquanto ela está fechada você terá problemas sérios de valuation, e não queremos ter um número que não nos interessa. Mas estamos prontos”, declara o dono e CEO do Madero, Junior Durski, em entrevista ao site IstoÉ Dinheiro.

O ano de 2021 foi recorde para IPOs, com 46 empresas entrando na bolsa. Logo depois disso foi instaurada uma ‘seca’ por conta das condições de mercado adversas, e nenhuma empresa abriu capital desde setembro de 2021.

Empresa reverte prejuízo no terceiro trimestre

Os dados reportados nesta segunda-feira (28) após o fechamento de mercado mostram R$ 27,9 milhões de lucro líquido no terceiro trimestre de 2024, revertendo um prejuízo de R$ 18,2 milhões em igual etapa do ano anterior.

Nessa mesma janela o faturamento do Madero também cresceu, mostrando um crescimento de 22% na receita líquida, que chegou a R$ 520,4 milhões.

Com esses números, o Grupo Madero lucrou R$ 74 milhões nos primeiros nove meses de 2024 e somou uma receita líquida de R$ 1,46 bilhão. Em igual etapa de 2023, o grupo havia tido uma receita de R$ 1,22 bilhão, mas fechou a janela com prejuízo de R$ 89 milhões.

A gestão da companhia não revelou surpresas nem estratégias muito sofisticadas para a melhora do cenário. Pelo contrário, a visão tem sido de simplesmente organizar a casa.

Folha de pagamento complexa

Ariel Szwarc, CFO do Madero, explica que a melhora é multifatorial mas, antes de tudo tem a ver simplesmente com um aumento do faturamento da companhia.

Além disso, o executivo destaca o crescimento da empresa em verticais relativamente novas.

“Mais do que tudo tivemos um aumento do faturamento, que aliás nada tem a ver com o contexto macroeconômico mais tranquilo, porque ele não está. Ainda assim a empresa está tendo um crescimento muito robusto. Antes da pandemia não tínhamos delivery, tínhamos um receio sobre perda de qualidade. Mas entramos no delivery e hoje isso representa pouco mais de 20% do faturamento, e então contribui para a melhora do resultado. Também tivemos muito trabalho interno de melhoria de eficiência e redução de custos; estamos, hoje, com as despesas sob controle”.

Szwarc ainda frisa que o negócio do Madero segue tendo foco em qualidade e mantém um modelo de negócio ‘4 em 1’, em que a companhia atua fazendo a comida, operando os restaurantes, transportando matéria prima e utilizando marcas próprias, sem fraqueados ou royalties.

Assim, a folha de pagamento do Madero é consideravelmente mais complexa do que a de um negócio do ramo de alimentos, com o caixa da companhia sendo utilizado para pagar desde cozinheiros aos caminhoneiros que transportam matéria prima.

Dívida encolhe

A dívida do Madero encolheu em 2024, com a gestão também focando em um trabalho relativamente simples de reduzir a alavancagem – que no passado já chegou a ser de 15 vezes o Ebitda e, atualmente, fica abaixo de duas vezes.

A dívida financeira líquida do Madero fechou o terceiro trimestre de 2024 em R$ 594 milhões, redução de 28% ante os R$ 834 milhões de igual período do ano anterior.

Em meados de julho, a empresa emitiu Notas Comerciais no montante de R$ 500 milhões visando melhorar o relacionamento com bancos e a gestão do passivo como um todo. A operação em questão resultou em melhora de prazo e na redução da taxa de juros de porção da dívida, de anteriores CDI+6,50% para atuais CDI+3,85%, com potencial para ainda maior redução, para CDI+2,75%, de acordo com a progressão em métricas de crédito.

O CFO, desta forma, é bem direto em falar que a casa tem mirado uma redução da dívida aliada a um aumento da geração de receita.

“Mesmo com uma Selic ‘nas nuvens’, deixamos o caixa mais robusto e simplesmente estamos pagando as dívidas, reduzindo a alavancagem”, afirma Ariel Szwarc.

‘Queremos expandir, mas em velocidade menor’

Sobre mudanças no negócio, Durski é enfático em dizer que os produtos e estratégias são relativamente bem definidos, e que o Madero crescerá focando em ajustes finos que trazem resultados significativos.

Para exemplificar, relatou uma recente troca de carnes que teve um impacto no faturamento de unidades da empresa.

“Começamos um movimento em Curitiba e em novembro faremos a ‘virada’ disso. Nós passamos a vender o bife de chorizo 1953 da Friboi, com quem temos uma parceria. Com essa troca tivemos um aumento de 60% na venda do bife de chorizo. Nós hoje não temos novidades, estamos focados em melhorar o que já temos”.

Durski ainda frisa: “O foco do Madero não é mais crescimento, queremos manutenção e melhora da qualidade. Queremos expandir, mas em uma velocidade menor e sem perder a qualidade”.

Avanço do delivery

Sobre a expansão da rede do Grupo Madero – que hoje tem 274 restaurantes – Durski aponta que o delivery passou a ser um dos pontos-chave para tomada de decisão.

“O primeiro ponto que levamos na decisão da expansão é o delivery, hoje temos 21% do total da venda da companhia via delivery, e ele para ser bom, tem que ser mais rápido. Quanto mais rápido, mais você vende. O cliente, quando entra em uma plataforma como o iFood, decide muito com base no tempo de entrega”, diz o CEO.

“Então nós temos que ter mais capilaridade, com mais restaurantes em um mesmo lugar. Na grande São Paulo, vemos que é quase um país inteiro. Então você precisa ter mais restaurantes na mesma região para faturar mais”, completa.

O CEO do Madero ainda relata que recentemente a gestão fez um teste com uma unidade na Oscar Freire, via localizada nos bairros Cerqueira César e Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo.

A gestão passou a ter delivery de dois selos – Jeronimo e Madero – e viu resultados positivos. Assim, passou a adotar mais a estratégia ‘dois em um’.

Durski ainda citou o racional de que nem sempre produtos de ticket maior estão atrelados a bairros de maior renda, citando que ‘rico também adora pagar barato’.