03/12/2015 - 23:00
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, encerrou nesta quinta-feira a campanha eleitoral para as legislativas do próximo domingo prometendo uma “surpresa” nos resultados, em um contexto de favoritismo inédito da oposição após 17 anos de domínio do chavismo.
“O chavismo se levantou novamente. No dia 6 de dezembro fará uma surpresa ao imperialismo norte-americano”, disse Maduro em Caracas para milhares de pessoas concentradas na Avenida Bolívar, trazidos de ônibus de todas as partes do país.
“Peço ao povo a maior lealdade com o legado de Hugo Chávez”, disse o presidente em um comício exibido pelos sistemas de comunicação estatais.
A eleição, percebida pela oposição como uma oportunidade para mudar o atual modelo político e econômico da Venezuela, foi descrita por Maduro como “uma decisão entre dois modelos: o da pátria rebelde, pura, bolivariana e chavista; e o modelo de anti-pátria entreguista, yanqui e corrompida pela direita”.
Como nos discursos anteriores, Maduro disse “estar disposto a fazer muito mais para prosseguir com o processo de radicalização da revolução econômica produtiva”, mas advertiu que “necessitamos da vitória no domingo para dar uma lição na burguesia parasitária”.
A oposição reunida na Mesa da Unidade Democrática (MUD) aparece como favorita para as eleições do próximo domingo, com as pesquisas apontando uma vantagem de entre 14 e 35 pontos, mas Maduro garante ter o voto “fiel” de 40% dos eleitores.
Desde sua chegada à presidência, em abril de 2013, um mês depois da morte de Chávez, Maduro presenciou a queda de sua popularidade chegar a 22%, golpeado pela severa crise econômica. O governo atribuiu a crise à uma “guerra econômica” de empresários de direita.
Acostumado a viver do petróleo – fonte de 96% de sua economia -, a Venezuela, o país com maiores reservas de cru do mundo, prevê terminar 2015 com uma contração de 10% do PIB, um déficit fiscal de 20% e uma inflação de 200%, segundo economistas independentes.
O ex-candidato opositor à presidência Henrique Capriles avaliou nesta quinta que as eleições legislativas serão uma “válvula de escape” para que na Venezuela não haja uma “explosão social”.
“Estamos vendo nesta eleição uma oportunidade para que neste país não haja uma explosão social, para que os venezuelanos falem com seu voto, obriguem a Venezuela a mudar de rumo” para não se tornar um “estado falido”, disse Capriles à AFP.
Governador do rico estado de Miranda, Capriles perdeu as eleições presidenciais de 2013 para Maduro por apenas 1,5 ponto percentual.
Capriles, líder da ala moderada da oposição, assinalou que “não há como o governo” manter a maioria na Assembleia Nacional, mas advertiu que Maduro “é capaz de qualquer coisa”.
O líder opositor destacou que a MUD não apoiará, por qualquer motivo, manifestações violentas como as que ocorreram entre fevereiro e maio de 2014, que exigiam a renúncia de Maduro e deixaram 43 mortos.
“Se não ganharmos, não vou para a rua com o povo. É preciso ter um pouco de responsabilidade”.
No total, 19,5 milhões de venezuelanos estão convocados às urnas para eleger por um período de cinco anos 167 deputados da Assembleia Nacional, atualmente sob o controle do chavismo.