14/11/2013 - 21:00
A Venezuela se consolida como um adversário imbatível na América Latina. Além da hegemonia nos concursos de Miss Universo, seu governo é, de longe, o maior fornecedor de matéria-prima para humoristas em todo o continente. Depois de antecipar o Natal e criar o vice-ministério da Felicidade, o presidente da República, Nicolás Maduro, pisou no acelerador e apressou a meia-volta da desconjuntada carroça econômica bolivariana em direção ao passado. No domingo 10, Maduro anunciou, com todas as letras, que iria impor limites aos lucros das empresas, evitando assim os abusos dos “parasitas do capitalismo”.
Num longo pronunciamento pelo rádio, Maduro afirmou que vai colocar limites percentuais aos lucros do capital, depois que a Assembleia Nacional aprovar a chamada “lei habilitante”. Proposta no dia 15 de outubro passado, essa lei é, na prática, uma autorização para que Maduro governe por decreto durante um ano. Os objetivos são combater a corrupção e enfrentar a oposição, que, segundo ele, vem travando uma “guerra econômica” contra seu governo. O anúncio do domingo passado faz parte de uma campanha de fiscalização de preços de produtos importados.
No dia 8 de novembro, sexta-feira, uma rede de venda de eletrodomésticos foi obrigada pelo governo a reduzir em até 50% o preço de diversos artigos que foram majorados “de maneira irregular”, segundo o governo. Na manhã do dia seguinte, milhares de venezuelanos se acotovelaram nas portas das lojas, atrás de itens com preços “socialmente justos”. Maduro protagoniza lances surpreendentes. Além das medidas econômicas para lá de heterodoxas, ele diz que, em algumas noites, dorme no mausoléu que abriga o corpo do seu antecessor Hugo Chávez, para obter inspiração. Uma devoção filial tão ardente mataria (de novo) o finado presidente norte-coreano Kim Jong-il de inveja.
Também disse, durante a campanha presidencial, que o falecido antecessor apareceu-lhe sob a forma de um passarinho, cruzando o arco-íris. Nos 15 anos que permaneceu no poder, Chávez, sempre eleito por voto direto, é bom lembrar, atuou de forma sistemática para desestruturar as instituições venezuelanas e aumentou cada vez mais a intervenção estatal na economia. Não por acaso, apesar da enorme riqueza do petróleo, a situação econômica da Venezuela vem se deteriorando de maneira lenta, mas inexorável. Uma boa indicação são as taxas de câmbio. Pelo câmbio oficial, cada dólar compra 6,30 bolívares. No mercado paralelo, onde as estimativas são sempre imprecisas, o dólar é vendido por um preço quase oito vezes mais alto.
A declaração de Maduro é apenas mais uma na longa série de absurdos bolivarianos. Em um momento no qual a China comunista, segunda maior economia do planeta, anuncia uma cautelosa, gradual e milimetricamente planejada abertura de seus negócios ao mercado e aos investidores internacionais, a iniciativa venezuelana deve ser comemorada efusivamente do lado de cá da fronteira brasileira. Maduro está prestando um excelente serviço ao capitalismo brasileiro. Sua retórica desencontrada sublinha a boa qualidade das instituições e da economia do País e a torna mais atraente para os “parasitas” de todo o mundo, que aqui, por sinal, são tratados com mais respeito – são chamados de investidores.