A França, que sediará em 2016 a próxima edição da Eurocopa, está vivendo um momento conturbado por conta de casos de corrupção no futebol, com suspeitas de envolvimento do crime organizado em transferências do clube mais popular do país, o Olympique de Marselha.

Outro caso que estourou recentemente foi a suposta manipulação de resultados de partidas de segunda divisão de outro time do sul da França, o Nîmes.

Na terça-feira, quinze dirigentes do Olympique, inclusive seu presidente, Vincent Labrune, foram detidos.

Na noite de quarta-feira, a polícia soltou dois ex-presidentes do clube, Pape Diouf (2005-2009) e Jean-Claude Dassier (2009-2011), mas a detenção provisória dos demais cartolas foi prorrogada.

Eles são acusados de fraude em transferências de atletas realizadas nos últimos anos, com suspeita de “vínculo com o crime organizado”. A investigação começou em 2011, num caso de “extorsão, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha”.

A transferência que mais chamou a atenção foi a contratação de André-Pierre Gignac, que chegou ao clube em 2010 e é o atual vice-artilheiro da Ligue 1, com dez gols marcados em 13 rodadas.

A polícia investiga o pagamento de comissões “nas quais membros do crime organizado aparecem”.

O caso estaria relacionado com outro, que diz respeito a extorsão de casas noturnas de Aix en Provence, cidade vizinha de Marselha, pelo qual Jacques Mariani, chefão da máfia corsa, foi condenado a sete anos de prisão em fevereiro de 2012.

Estas acusações vêm a tona justamente na melhor temporada do time desde o último título nacional, conquistado em 2010. Comandado pelo argentino Marcelo Bielsa, o Olympique lidera a Ligue 1, com um ponto de vantagem sobre o arquirrival Paris Saint-Germain.

A torcida marselhesa, a mais fanática da França, está dividida entre fatalismo e revolta com uma suposta “teoria da conspiração”.

“Os dirigentes estão sendo ouvidos à respeito de uma investigação iniciada há dois anos, sobre transferências de jogadores, mas o clube nunca parou de colaborar com a justiça”, afirma um comunicado.

A principal acionista, Margarita Louis-Dreyfus, esposa do falecido Robert Louis-Dreyfus, ex-dono da Adidas, reiterou sua “determinação para que a gestão do Olympique de Marselha seja feita respeitando as regras profissionais e éticas”, e expressou sua “total confiança nos dirigentes atuais e no sistema judicial francês.

A pouco mais de cem quilômetros de Marselha, a cidade de Nîmes também está no olho do furacão.

Nesta quarta-feira, o presidente do Caen, Jean François Fortin, foi ouvido pela polícia após ser acusado de manipular o resultado do duelo com o Nîmes, a pedido de Serge Kasparian, dono do clube do sul da França.

O jogo, disputado em maio, terminou empatado em 1 a 1, resultado que beneficiou ambas as equipes, já que garantiu a permanência do Nîmes na Ligue 2 e a volta do Caen à elite.

O jornal Le Canard Enchainé publicou nesta semana transcrições de conversas telefônicas entre Fortin, Kasparian e Jean Marca Conrad, presidente do Nîmes, no dia da partida.

“Para você, é um ponto também?” – perguntou Fortin. “Sim, só falta um ponto, é isso aí” – respondeu Conrad. “Bom, então se não formos otários…” – concluiu o presidente do Caen.

A polícia judicial também investiga as partidas que o Nîmes disputou contra Dijon e Angers.

Como no caso do Olympique, o crime organizado tem uma ligação estreita com o futebol. Os trechos de conversa que incriminam os cartolas foram gravados em escutas numa investigação sobre lavagem de dinheiro da máfia corsa através de jogos de azar em Paris.

A Liga de Futebol Profissional da França (LFP) e a Federação Francesa de Futebol (FFF) participam do processo como vítimas, informou à AFP uma fonte próxima ao caso.