Muito antes da popularização do marketing, a ex-balconista Luiza Trajano, prestes a inaugurar sua primeira loja em 1957, decidiu ir ao ar na única rádio de Franca (SP) para sortear um sofá e dar opções de nome para que os ouvintes batizassem sua empresa. Esse DNA inovador nunca foi perdido até hoje por uma das maiores varejistas do Brasil, o Magazine Luiza, ou simplesmente Magalu, que vem desenhando uma trajetória paralela à inovação e às transformações digitais, não apenas para alavancar vendas, como também para ampliar seu conceito de negócio.

Para isso, a marca que compõe o time dos cinco marketplaces que detêm 80% das vendas on-lines brasileiras e está por trás do ‘cérebro’ da Lu — influencer digital desenvolvida por IA mais seguida do mundo — decidiu lançar o primeiro sistema de nuvem brasileiro. “Nossos dados estarem no Brasil é garantia de segurança. E isso não pode ser feito mediante taxa em dólar”, disse Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza.

Sem a volatilidade do preço dolarizado, a ideia da Magalu Cloud, que vinha sendo desenvolvida desde 2020, é alcançar pequenas e médias empresas, oferecendo uma solução mais econômica para a digitalização dos negócios. A promessa é redução de custo entre 30% e 75% em comparação às tecnologias estrangeiras oferecidas no Brasil.

Inicialmente, a varejista vai focar em um cardápio básico de serviços, como computação, armazenamento, rede e banco de dados, que serão ofertados a partir de infraestrutura própria.

São dois data centers, um na Grande São Paulo e outro em Fortaleza, ambos com softwares baseados em código aberto. “O open source foi o responsável por garantir que a solução de nuvem tenha atingido esse nível de escala global”, afirmou André Fatala, vice-presidente de Tecnologia do Magalu.

De acordo com ele, a ideia é ter como diferencial uma construção coletiva, com diversidade de pensamento. “Nos baseamos no código aberto pensando um grande ecossistema de inovação que vai fazer que a gente pense de forma disruptiva”, disse Fatala.

Para a presidente do Conselho de Administração do Magalu, serviço de nuvem nacional representa segurança de dados (Crédito:Divulgação)

CONCORRENTES

O lançamento da tecnologia foi realizado na sede da varejista na Zona Norte de São Paulo. Na plateia, a presença dos representantes de nuvens concorrentes, como Google e Oracle, chamou a atenção.

“Nossa intenção não é concorrer, queremos somar.”
Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza

Atualmente, 30% da operação digital do Magalu opera em sua própria cloud. Além dela, 30 clientes já estão usando a solução, incluindo o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro).

A empresa não compartilhou detalhes sobre os investimentos no projeto e preferiu evitar projeções sobre lucro e quantidade de usuários.

Segundo Christian Reis, chefe da Magalu Cloud, tudo está sendo feito sob cautela. “Estamos sendo cuidadosos para atender a demanda de forma razoável e sem queimar expectativas.”

Apesar da precaução, ele se opõe a ideia que a entrada para o mundo cloud, em meio à forte atuação de grandes players globais, seja sinônimo de atraso. “A tecnologia não é estática. Tudo muda o tempo todo. Se não fosse assim, estaríamos falando de Blackberry até hoje”, afirmou Reis.

Na visão dele, os atuais sistemas de nuvem costumam ser desalinhados com relação à precificação. “Hoje, quanto mais você usa, mais você paga. Nossa intenção não é essa. É encontrar outra forma de empacotar os produtos”, disse.

Para Frederico Trajano, diretor-presidente do Magalu, a tecnologia desenvolvida pela empresa tem potencial para ampliar os horizontes brasileiros no setor tecnológico.

“Já lutamos para ser autossuficientes em petróleo e agora somos uma referência mundial. A mesma coisa com relação à exportação de commodities. Por que não fazer o mesmo com a tecnologia?”, disse Frederico.

De acordo com ele, a gigante varejista gasta “centenas de milhões de reais” com serviços de nuvem de outros provedores, valor reduzido em 35% com as cargas já movidas para o serviço próprio. “Se tudo der errado, teremos uma nuvem mais barata, complementada pelos parceiros internacionais”, afirmou o executivo.