A escolha do novo presidente da Câmara dos Deputados é assunto que, habitualmente, reverbera pouco além dos círculos políticos de Brasília. A provável disputa pelo cargo entre um ex-líder sindical e um empresário, porém, despertou interesse no setor produtivo  em relação à  eleição deste ano. 

 

Metalúrgico e torneiro mecânico, o petista gaúcho Marco Maia consolidou o favoritismo ao conquistar o apoio de 21 dos 22 partidos da Casa. Contra ele lançou-se o deputado e industrial goiano Sandro Mabel. Como candidato avulso e sem a bênção de seu partido, o PR, já fechado com Maia, Mabel tem como única opção atrair os votos dos eventuais dissidentes.

 

111.jpg

Marco Maia (PT/RS): o empresariado espera que votações sejam precedidas por discussões e consenso

 

 Ao vencedor do pleito desta terça-feira 1º caberá mediar interesses em torno de uma pauta espinhosa, que opõe as centrais sindicais – simpáticas à candidatura de Maia – e o empresariado, receoso de que temas indigestos,  como a redução da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais,  sejam levados à votação no plenário, mesmo sem o consenso entre patrões e trabalhadores.

 

É de Maia o Projeto de Lei 160, de 15 de fevereiro de 2007,  que trata da redução da jornada – embora o projeto em discussão seja um projeto de emenda constitucional, que já foi aprovado em Comissão Especial, por unanimidade, em junho de 2009. “Sei que ele teve uma posição muito clara em relação a teses das quais  somos contrários”, diz o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade. 

 

“Se ele for eleito presidente da Câmara, vamos buscar o diálogo.”  Andrade teme que a redução da jornada dificulte ainda mais as contratações pelas empresas. “A atual escassez de mão de obra torna inoportuna a redução da jornada”, afirma. 

 

112.jpg

 

Além de provavelmente eleger o primeiro presidente de origem operária de sua história, a Câmara dos Deputados contará com uma base aguerrida de origem  sindical, que ampliou sua representação de 61 para 68  parlamentares. Essa bancada informal também defende o fim das demissões sem justa causa e o salário mínimo de R$ 580. 

 

A percepção dos empresários é de que, se forem levados ao plenário, esses temas serão aprovados. A inclusão desses projetos na pauta é decisão que cabe ao futuro presidente da Câmara. A dúvida entre os empresários recai justamente em como será conduzida essa negociação. Em 2009, o então presidente, Michel Temer,  assumiu o compromisso de só votar a matéria se houvesse consenso entre as partes.