A indústria brasileira tem mostrado mais resultados negativos na produção na segunda metade de 2022, alertou André Macedo, gerente da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “A maior frequência de resultados negativos dos últimos meses é o que chama atenção e que traz um sinal de alerta para esse comportamento da indústria no segundo semestre de 2022”, apontou.

A produção industrial encolheu 0,1% em novembro ante outubro, após avançar 0,3% no mês anterior. Em agosto (-0,6%) e setembro (-0,7%), porém, a produção tinha acumulado uma queda de 1,3%. Entre janeiro e novembro, foram cinco meses de perdas, sendo quatro deles concentrados nos últimos seis meses.

Segundo Macedo, isso mostra um viés negativo, especialmente porque a média móvel trimestral da indústria permanece em queda pelo quarto mês seguido. “Nos últimos meses, o setor industrial vem mostrando marcadamente um resultado negativo”, afirmou. “Aquele comportamento de 0,3% positivo em outubro tem relação importante com as perdas anteriores, de setembro e agosto, quando a indústria tinha acumulado uma perda de 1,3%”, completou.

Em novembro, a indústria operava em patamar semelhante ao de janeiro de 2009. “Vem girando nesse patamar, quando melhora um pouquinho vai para o de março de 2009”, disse ele. “Mas sem mostrar algum grau de recuperação consistente.”

A indústria fechou o ano de 2021 com um avanço de 3,9%, ou seja, sem recuperar as perdas dos dois anos anteriores: 2020 (-4,5%) e 2019 (-1,1%). “Em 2022, acumula resultado negativo”, frisou Macedo.

De janeiro a novembro de 2022, a produção acumulava uma perda de 0,6% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Para encerrar o ano de 2022 apenas estagnada (0,0%) ante 2021, escapando do território negativo, a produção ainda teria que crescer 7,8% em dezembro de 2022 ante dezembro de 2021.

O patamar de produção de novembro estava 1,2% abaixo do registrado em dezembro de 2021. Para voltar àquele nível, a produção precisaria crescer 1,2% em dezembro ante novembro, na série com ajuste sazonal.

“Esse conjunto mostra o quanto o setor industrial ainda tem de espaço para recuperar as perdas recentes que vem mostrando”, disse ele. “Para esse mês (novembro), diferentemente dos meses anteriores, não se observa um comportamento predominantemente negativo entre as atividades. A queda foi mais concentrada quando a gente observa setores industriais”, reconheceu Macedo.

Entre os fatores que vêm prejudicando o desempenho da indústria brasileira estão os juros altos, a inadimplência mais elevada, o endividamento crescente, a inflação corroendo a renda das famílias, o contingente ainda importante de pessoas fora do mercado de trabalho e a geração de vagas precárias, enumerou o gerente do IBGE.

Ele concorda que, além dos problemas conjunturais, há também fatores estruturais prejudicando o setor, como a elevação de custos de produção. “Faz entender o fato de a indústria estar operando em patamar 18,5% abaixo do alcançado lá em maio de 2011”, apontou Macedo.