04/10/2024 - 7:00
Maior rede de livrarias físicas do país, a Livraria Leitura aposta que o livro físico manterá sua preponderância sobre o digital por muito tempo. Para atender seu público, ela acelerou seu crescimento e planeja encerrar 2024 com 18 novas unidades inauguradas. No começo do ano, eram 110, e hoje já são 121 lojas em 23 estados e no Distrito Federal.
“Daqui a 10 ou 20 anos, com certeza o livro físico ainda vai ser dominante e a gente vai levar ele ao cliente em todas as formas”, diz o CEO da Leitura, Marcus Teles. Segundo dados da última pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, realizada pela Câmara Brasileira do Livro, o livro digital é hoje apenas 8% das vendas no país.
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A aceleração do crescimento da empresa ocorre após a falência de muitos players do setor, como a antiga maior rede física brasileira, a Saraiva, e as conceituadas Cultura e Fnac. As três fecharam suas unidades físicas nos últimos cinco anos.
Segundo a Associação Nacional de Livrarias, em 2013 havia 3.029 estabelecimentos do segmento no país. Em 2023, eram 2.972. “Isso deu espaço para outras redes”, diz o Teles. “A Leitura talvez foi a que mais abriu, a que mais investiu.”
Crescimento sem franquias
Empresa familiar inaugurada em 1967 pelo irmão de Marcus, Emídio Teles, a Leitura aposta em um modelo de crescimento de sociedades. Funcionários de excelência viram gerentes e, caso se destaquem de novo, são convidados a se tornarem sócios em uma unidade então inaugurada em uma cidade nova.
“Ele vai mudar para uma cidade, abrir uma loja e se for bem pode abrir a segunda”, diz Teles. Com este modelo, ele afirma que é possível construir uma identidade maior com o local, vendendo livros de autores e editoras regionais e até se tornando um espaço cultural para eventos.
Cerca de 70% da rede pertence exclusivamente à família Teles. O restante, pouco mais de um terço, possui sócios-gerentes com cerca de 30% a 40% de participação acionária. A empresa não abre seu faturamento, porém afirma que o valor cresceu 20% nos últimos 12 meses, e que deve vender entre 11,6 e 12 milhões de exemplares de livros em 2024.
Venda online e concorrência
A Livraria Leitura começou a vender pela internet em 1998 e manteve a operação até 2014, quando foi encerrada devido ao baixo retorno. Em 2019, o comércio digital voltou. Segundo Teles, hoje a internet representa 10% das vendas totais da rede e continuarão em segundo plano.
Teles cita a concorrência da Amazon, que opera, segundo ele, vendendo livros com prejuízo para vencer a concorrência. “Quem foi competir, querer vender no mesmo preço do prejuízo da Amazon, não dá conta”, diz em referência as gigantes do setor que fecharam.
Outro grupos também têm avançado na abertura de lojas, ocupando inclusive áreas deixadas pelas redes que saíram do mercado.
A Livraria da Vila inaugurou em julho sua 21ª unidade, localizada no shopping Cidade São Paulo, na Avenida Paulista. Já a Livraria da Travessa tem ampliado sua presença em São Paulo. Em 2023, abriu lojas nos shoppings Iguatemi Alphaville e Villa-Lobos. No Shopping Bourbon, a Livraria Paisagem abriu em agosto uma loja integrada com a rede de chocolates Dengo.
Diferenciais para garantir saúde financeira
Para arcar com seu modelo de crescimento e sustentar a briga com varejistas internacionais, a empresa foca na gestão financeira. “O principal fator foi a gente não ter dívidas, tem uma administração financeira muito certa tem mais de 30 anos”, diz Teles.
Além disso, a rede passou a abrir mais unidades de tamanho médio, com 250 a 500 metros quadrados, em lugar das “megalojas” de cerca de 1000 metros quadrados — nos últimos cinco anos, só oito tiveram esta proporção.
Há também uma seleção dos lugares de inauguração, com análise do potencial livreiro. Em geral, cidades com mais de cem mil habitantes. Os três estados da federação onde a empresa não está também se relacionam com isso: “O Paraná a gente considera bem atendido tem outras duas boas redes lá. Roraima tem dificuldades de logística. E no Acre, talvez pode acontecer de abrirmos uma em 2025 ou 2026.”
Ainda assim, a empresa inclui no orçamento a possibilidade de ter que encerrar por ano pelo menos uma unidade por ano, por baixa rentabilidade. “A gente toma o cuidado de fechar rápido. Normalmente, depois de um ano tenta consertar se não foi à venda esperada. Se não deu certo, com dois anos em média, um pouco depois, a gente fecha”, diz.