10/02/2025 - 13:18
Os Estados Unidos são o principal destino em valores exportados de aço e o segundo de alumínio brasileiro, apontam dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). No último domingo, 9, o presidente Donald Trump, disse que anunciaria nesta segunda-feira, 10, uma alíquota de 25% para o aço e o alumínio importados.
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Em valores exportados, dados do MDIC apontam que os US$ 163 milhões em alumínio vendidos aos EUA ficaram atrás apenas dos US$ 387 milhões pagos pelo Japão.
Em relação ao aço, um relatório produzido pelo Instituto Aço Brasil, a partir de dados do MDIC, aponta que foram enviados aos EUA 5,81 bilhões de quilos do metal, a maior quantidade enviada para um único país em 2024. Essa quantia corresponde a US$ 4,14 bilhões. Segundo o documento, o Brasil é o maior produtor de aço na América Latina e o sétimo maior no mundo.
Veja os principais destinos do aço brasileiro em valores
1 – Estados Unidos – US$ 4,14 bilhões
2 – Mercosul – US$ 702 milhões
3 – União Europeia – US$ 644 milhões
Veja os principais destinos do alumínio brasileiro em valores
1 – Japão – US$ 387 milhões
2 – Estados Unidos – US$ 163 milhões
3 – Países Baixos – US$ 145 milhões
4 – Argentina – US$ 141 milhões
5 – Chile – US$ 95 milhões
No recorde em volume, os Estados Unidos ficam em terceiro no ranking de destino do alumínio brasileiro, com 48,5 milhões de quilos, atrás do Japão (164,6 milhões de quilos) e da Holanda (60,4 milhões).
As ameaças de Trump
O presidente Donald Trump falou a jornalistas no domingo, 9, sobre os planos de introduzir novas tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio para os EUA. O Instituto Aço Brasil, a Associação Brasileira do Alumínio (Abal) e o MDIC não quiseram comentar as ameaças.
Durante seu primeiro mandato, Trump impôs tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio, mas depois concedeu a vários parceiros comerciais cotas isentas de impostos, incluindo Canadá, México e Brasil. O ex-presidente Joe Biden estendeu essas cotas para Reino Unido, Japão e União Europeia, e a utilização da capacidade das usinas siderúrgicas dos EUA tem caído nos últimos anos.
Na sexta-feira, Trump anunciou que imporia tarifas recíprocas – elevando as taxas dos EUA para igualar as dos parceiros comerciais – sobre muitos países nesta semana. Ele não identificou os países, mas as tarifas seriam impostas “para que sejamos tratados de forma igualitária com outros países”.
Durante seu primeiro mandato, Trump impôs tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio, mas depois concedeu a vários parceiros comerciais cotas isentas de impostos, incluindo Canadá, México e Brasil.
Taxações como forma de negociação
Professor de Pós-Graduação em Finanças do Ibmec, Gilberto Braga destaca que a taxação do aço e do alumínio anunciada é a primeira neste mandato que não recai sobre um país, porém sobre um setor como um todo. “Ele tinha aparentemente um foco primeiro mais geopolítico econômico, em que o e regionalidade se sobressaía, e agora ele entra numa questão comercial sem tanto peso político”, diz.
No começo do seu mandato, Donald Trump chegou a assinar taxas de 25% sobre importações do México e Canadá, mas concedeu a ambos um adiamento de 30 dias em 3 de fevereiro, após ambos os países concordarem em reforçar a segurança de suas fronteiras contra o tráfico de drogas e a imigração ilegal.
Economista, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e Conselheira do Conselho Regional de Economia de São Paulo (Corecon-SP), Carla Beni destaca que as bravatas de Trump são justamente uma estratégia de negociação, além de uma forma de manter sua base política aquecida. “O objetivo do Trump é esse: ser notícia todos os dias”, diz.
Na prática, no entanto, Beni destaca que uma taxação assim ainda esbarraria nos contratos já firmados para venda dos produtos entre os dois países, além de possíveis impactos na economia dos EUA. Ela destaca, por exemplo, que importamos muito carvão dos EUA para usar na indústria do aço. “A gente precisa ter um pouco de tranquilidade na hora que a gente escuta esse noticiário, porque as coisas não têm esse imediatismo”, diz.
Governo vai aguardar, diz Haddad
A colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, publicou que o governo Lula estaria estudando taxar plataformas digitais norte-americanas se o presidente dos Estados Unidos confirmar o novo imposto.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, utilizou uma rede social para negar que uma retaliação à taxação do aço e do alumínio esteja em estudo. “Não é correta a informação de que o governo Lula deve taxar empresas de tecnologia se o governo dos Estados Unidos impuser tarifas ao Brasil”, disse.
“O governo brasileiro tomou a decisão sensata de só se manifestar oportunamente com base em decisões concretas e não em anúncios que podem ser mal interpretados ou revistos. Vamos aguardar a orientação do presidente”, complementou Haddad.
A adoção de taxas sobre as plataformas já está sendo discutida há vários meses no Brasil. Em setembro, o Ministério da Fazenda afirmou que poderia encaminhar ao Congresso ainda no segundo semestre propostas para a taxação das “big techs” caso houvesse alguma frustração de receitas orçamentárias.
A taxação do aço e do alumínio, segundo Trump, será confirmada nos próximos dias.
*Com informações da Reuters