Entidades dizem que seus próprios funcionários enfrentam fome e que desnutrição vem matando em ritmo mais rápido desde o início do conflito no território palestino.Mais de 100 organizações de ajuda humanitária e grupos de direitos humanos alertaram nesta quarta-feira (23/07) que a situação de “fome generalizada” se espalha cada vez mais na Faixa de Gaza e atinge também seus funcionários.

No comunicado, 111 entidades pedem por um cessar-fogo imediato, a abertura de todas as passagens terrestres e o livre fluxo de ajuda por meio dos mecanismos coordenados pela ONU.

“À medida que o cerco do governo israelense mata de fome a população de Gaza, os trabalhadores humanitários agora se juntam às mesmas filas para receber alimentos, arriscando-se a ser baleados apenas para alimentar suas famílias”, diz o texto.

“Com os suprimentos agora totalmente esgotados, as organizações humanitárias estão vendo seus próprios colegas e parceiros definharem diante de seus olhos.”

O texto assinado por organizações como Médicos Sem Fronteiras (MSF), Save the Children, Oxfam, Cáritas e Anistia Internacional ainda pressiona outros governos a “pararem de esperar permissão para agir”.

“Acordos fragmentados e gestos simbólicos […] servem como uma cortina de fumaça para a inércia. Eles não podem substituir as obrigações legais e morais dos Estados de proteger os civis palestinos. Os Estados podem e devem salvar vidas antes que não haja mais ninguém para salvar”, diz a carta.

Desnutrição em ritmo elevado

Apenas entre os dias 21 e 22 de julho, 15 pessoas morreram de fome em Gaza. Entre as vítimas estão um bebê de seis semanas e três crianças, segundo as entidades.

Com isso, a desnutrição passou a matar palestinos com mais rapidez do que em qualquer outro momento desde o início do conflito, de acpodo com autoridades de saúde palestinas. Pelo menos 101 pessoas morreram por este motivo nos últimos 21 meses. Deste total, 80 eram crianças, e 21 delas morreram por este motivo apenas nos últimos três dias.

“Não é apenas sofrimento físico, mas também psicológico. A sobrevivência é mostrada como uma miragem”, disseram as organizações. O chefe da agência da ONU para refugiados palestinos disse na terça-feira que seus funcionários, bem como médicos e trabalhadores humanitários, estavam desmaiando durante o trabalho em Gaza devido à fome e à exaustão.

Israel nega que exista fome em Gaza

Israel enfrenta pressão internacional crescente devido à situação humanitária catastrófica no território palestino, onde mais de dois milhões de pessoas enfrentam grave escassez de alimentos e outros itens essenciais após 21 meses de conflito.

O país controla todos os suprimentos de ajuda humanitária que chegam ao enclave devastado pela guerra, onde a maioria da população foi deslocada várias vezes e enfrenta uma grave escassez de produtos de primeira necessidade.

Até o momento, países como Reino Unido, Canadá e França já consideraram sancionar Israel pelos ataques em Gaza. A Alemanha e representantes da União Europeia também fizeram duras críticas à operação militar, mas não chegaram a ameaçar impor medidas.

O governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu nega estar bloqueando a entrada de suprimentos e afirma que há ajuda humanitária equivalente a 950 caminhões em Gaza aguardando que agências internacionais a recolha e distribua.

“Não identificamos fome neste momento, mas entendemos que são necessárias ações para estabilizar a situação humanitária”, disse um alto funcionário da segurança israelense citado pelo jornal Times of Israel.

Segundo a ONU, forças israelenses mataram mais de mil palestinos que tentavam obter comida desde que a Gaza Humanitarian Foundation (GHF), apoiada por EUA e Israel, iniciou suas operações no final de maio – na prática, substituindo o sistema tradicional liderado pela ONU.

Partes negociam cessar-fogo

Mediadores estão negociando um acordo de cessar-fogo com representantes de Israel e do Hamas em Doha desde 6 de julho. Os Estados Unidos disseram que seu enviado especial para a região, Steve Witkoff, irá para a Europa nesta semana para tratar da situação em Gaza e poderá então visitar o Oriente Médio.

Mais de duas dezenas de governos ocidentais pediram na segunda-feira o fim imediato da guerra e criticaram o plano de Israel de confinar palestinos no sul de Gaza.

A campanha militar israelense matou 59.106 palestinos, a maioria civis, segundo o ministério da saúde do território controlado pelo Hamas.

O ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023 contra Israel, que desencadeou a guerra, causou a morte de 1.219 pessoas, também em sua maioria civis.

gq (Reuters, AFP)