Uma das mais tradicionais famílias francesas está caidinha pela nossa ?branquinha?. O clã Ricard, que controla a terceira maior fabricante de bebidas do mundo, a Pernod Ricard, desenvolveu uma cachaça 100% brasileira, feita em Resende (RJ) e lançada em dezembro do ano passado. A aguardente ganhou o nome de Janeiro e é totalmente voltada para a exportação. ?Iniciamos as vendas pela França, porque este ano é o ano do Brasil por lá?, esclareceu Patrick Ricard, presidente mundial da companhia, em entrevista exclusiva à reportagem de DINHEIRO. A estratégia é coerente com o perfil da Pernod Ricard, que é dona de marcas como Chivas Regal, Havana Club e Jacob?s Creek, e que, nas suas três décadas de existência, buscou sempre se internacionalizar. Patrick personifica esta busca. No comando da empresa há 27 anos, o executivo conseguiu globalizá-la, comprou marcas importantes em diversos países e transformou o grupo em uma potência com vendas na casa dos 3,5 bilhões de euros.

Quando Patrick assumiu o leme da Pernod Ricard, em 1978, a companhia fazia 83% de seu faturamento na França. Apenas 17% vinham das vendas no mercado externo. ?Hoje, temos exatamente o oposto disso. E estamos presentes em todos os continentes, com marcas que são globais, como o Chivas Regal, e outras mais locais, como o 100 Pipers, na Tailândia?, explica Ricard. O executivo atribui o sucesso do processo de internacionalização às aquisições de grifes em países com grande potencial de desenvolvimento. ?Somos uma das maiores do mundo porque arriscamos?, conta. Uma das tacadas de maior peso para a expansão da Pernod Ricard foi a compra, em 2002, de 38% da canadense Seagram (o restante ficou com a inglesa Diageo, a maior desse setor no planeta). Foi através deste negócio que a Pernod Ricard chegou ao Brasil. A francesa levou as marcas Montilla (rum), Orloff (vodca), Natu Nobilis (uísque) e Almadén (vinho). Os resultados não poderiam ser mais satisfatórios: a Pernod Ricard Brasil faturou, em 2004, R$ 332 milhões, R$ 57 milhões a mais que no ano anterior. Além disso, a unidade brasileira é a sexta da companhia em volume de litros produzidos. A mais recente prova de que o País está em alta dentro do grupo foi exatamente o lançamento da cachaça Janeiro. ?Temos uma base forte em todos os países e vamos nos concentrar em expandir isso, aproveitando o que cada um tem de melhor. Não temos interesse em diversificar. Somos uma empresa de bebidas e não vamos partir para alimentos ou hotéis?, garante Ricard.

O executivo exibe um fôlego invejável para seus 70 anos de idade. Em visita ao Brasil na semana passada, ele enfrentou uma maratona de eventos e reuniões. Em três dias, partindo da segunda-feira 14, Patrick subiu e desceu de aviões para visitar os vinhedos da Almadén, em Santana do Livramento (RS), saudar funcionários nos escritórios de São Paulo e se reunir com o comando da filial para avaliar as atividades do grupo (incluindo as fábricas de Resende e Suape, em Pernambuco). Na noite da quarta-feira 16 já voava de volta para a França. Quem dividiu as mesas de reunião com Patrick garante que uma de sua principais virtudes é dar total liberdade aos executivos locais. O próprio Patrick diz que o segundo fator determinante para o sucesso da empresa foi uma decisão tomada pelo seu pai quando ainda comandava a Ricard: descentralizar. ?Conversamos com os executivos locais antes de tomar qualquer grande decisão. Isso torna os funcionários mais comprometidos, porque eles são os chefes?, defende. A sucessão na chefia, aliás, não é tabu para Patrick. Apesar de afirmar que há executivos competentes para assumir seu lugar dentro da empresa, ele não esconde o desejo de o filho mais novo, que ainda está na universidade, ser o seu sucessor. ?O negócio em família dá continuidade às estratégias. E é claro que ter o nome Ricard ajuda?, diz.

PERNOD E RICARD: UMA HISTÓRIA DE DUZENTOS ANOS

A história da empresa começou há dois séculos, quando foi fundada a Pernod, uma fabricante da controversa bebida absinto. Mais de cem anos depois, em 1932, a Ricard nasceu, criada por Paul Ricard, que produzia uma bebida de anis com o mesmo sobrenome e se tornou a mais famosa da França. As duas empresas se saíam bem no mercado francês, mas queriam crescer fora dali. Foi então que monsieur Pernod e monsieur Ricard decidiram se unir e, voilá, criaram a Pernod Ricard, em 1975. O atual presidente mundial assumiu somente três anos depois e estabeleceu a meta de tornar a companhia global. Conseguiu. Hoje, a Pernod Ricard está presente em 54 países e é número um de seu setor na Europa Continental, na América do Sul e Central e número dois na Ásia. Confira os números da gigante das bebidas.

NÚMEROS

Faturamento em 2004: e 3,5 bilhões

Unidades de produção: 68

Funcionários: 12.250

Produção de destilados: 54 milhões de caixas

Produção de vinhos: 20 milhões de caixas

Marcas-chave globais: Chivas, Jameson, Havana Club, Jacob?s Creek, Ricard

Marcas brasileiras: Almadén, Montilla, Orloff, Natu Nobilis e Janeiro