Mais uma funcionária da BRF confirmou à Polícia Federal nesta quarta-feira, 7, que havia adulterações nos rótulos do produto Premix, composto usado para engorda de frangos, para adequação às normas do Ministério da Agricultura. Natacha Camilotti Mascarello foi uma das 11 pessoas presas na Operação Trapaça – terceira fase da Carne Fraca. Funcionária até hoje da empresa, ela foi solta após o depoimento – oito pessoas ainda estão presas.

O Premix é utilizado como complemento vitamínico e mineral às rações fabricadas pela empresa. A suposta burla investigada pela PF e pelo Ministério Público Federal na unidade de Chapecó (SC) estaria em “inserir componentes não permitidos, seja por alterar as porcentagens dos componentes indicadas nas etiquetas”.

“Recordo que no dia da alteração da tabela receberam uma ligação de outra fábrica do Grupo BRF, indicando eventuais vulnerabilidades quanto aos processo de fiscalização”, contou Natacha, ao delgado Maurício Moscardi Grillo. “Havendo possibilidade de a fábrica de Chapecó-SC passar pelo mesmo processo de fiscalização, entenderam haver necessidade de alterarem os rótulos, deixando-os adequados aos normativos do Mapa.”

Na terça-feira, 6, a ex-funcionária Tatiane Alviero, que revelou internamente o problema e gerou as investigações da Trapaça nesse setor, confirmou as supostas fraudes.

Uma sequência de e-mails, iniciada em 23 de fevereiro de 2015, intitulada “Alterações Premix – Auditorias/Fiscalização Mapa”, de Tatiane Alviero para Fabiana Rassweiller de Souza, relata “situação que estava ocorrendo rotineiramente na fábrica de Premix de Chapecó”, sobre necessidade de burlar em muitos casos rastreabilidade do material para apresentação em auditorias.

As fraudes no composto integram uma das quatro frentes de fatos ilícitos que a Carne Fraca apura e levaram para a cadeia na segunda-feira 11 pessoas ligadas à BRF, entre elas o ex-presidente do grupo Pedro de Andrade Faria (2015 a 2017).

Tatiane enfatiza em um dos e-mails que em lote do dia 20 de fevereiro de 2015 tiveram que alterar 65% dos Premixes. E escreve: “Como raramente declaramos corretamente os produtos, é necessário reavaliar todos”.

Na sequência de e-mails, no dia 24 de fevereiro, Edenir Medeiros da Silva – identificado como gerente de Produção e Operações Agropecuárias à época, desligado da BRF em maio de 2015 – escreve para Tatiane e questiona quem seria o responsável pelas formulações do Premix.

Defesa

A BRF informou que os processos de produção do Premix “seguem normas técnicas nacionais e internacionais” e pela rastreabilidade do produto é possível identificar tudo o que foi incluído.

“As fábricas da BRF que produzem o Premix são registradas e certificadas pelo MAPA”, diz nota da empresa. “A última auditoria do MAPA na BRF ocorreu em outubro de 2017, e todos os parâmetros estavam devidamente dentro das normas.”

Segundo a BRF, “os e-mails revelados pela investigação em curso são de três anos atrás”. “O teor das mensagens está sendo investigado pela empresa.”