25/03/2009 - 7:00
O PRESIDENTE LULA alertou de Nova York: o porquinho terá que fazer, urgentemente, uma dieta. Desde a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, há duas semanas, de reduzir a taxa Selic em 1,5 ponto percentual, os investidores começaram a fazer contas. E perceberam que a poupança está ficando mais atrativa que suas concorrentes que têm um nível maior de risco, como os fundos de renda fixa e os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). Com a Selic a 11,25% ao ano, os investimentos atrelados a ela podem ter um rendimento real menor que o da poupança quando se desconta o Imposto de Renda, o IOF e as taxas de administração, que variam de 0,5% a 2,5%, dependendo da instituição financeira. A vantagem da poupança é entregar uma rentabilidade limpinha para o poupador, sem a incidência de tributos. Além disso, o porquinho está dentro do fundo garantidor de crédito, que devolve até R$ 60 mil depositados em cada instituição financeira por CPF em caso de insolvência. Antes que aconteça uma corrida pelos depósitos na caderneta, o governo estuda alterar os cálculos de rentabilidade, o que deve acontecer até o próximo encontro do Copom, no final de abril.
Hoje a rentabilidade da poupança é calculada pela taxa referencial (TR), um indexador que garante em média 0,5% ao mês, mais 6% ao ano. “A TR é um mix de indicadores que faz com razoável competência a reposição da inflação”, diz Mauro Calil, professor do Centro de Estudos Calil & Calil. É ela que deve ser alterada nessa nova discussão. Mas o poupador pode ficar sossegado: a alteração no indicador sempre buscará uma média que garanta um retorno igual ou melhor que a inflação para o pequeno investidor. “A metodologia vai ter que se adaptar a essa nova realidade da taxa de juro”, afirma Alcides Leite, especialista em mercado financeiro da Trevisan Escola de Negócios.
Por outro lado, o perigo em se ter uma poupança mais atrativa que outros investimentos é o desequilíbrio que pode ocorrer no sistema financeiro. Grandes investidores pagam impostos quando aplicam em fundos ou CDBs. Além disso, são eles que compram títulos públicos e ajudam a financiar a dívida do governo federal.
A decisão de baixar a taxa Selic para 11,25% ao ano fez a
caderneta render mais que a renda fixa
E, como o dinheiro da poupança tem que ser utilizado exclusivamente para o crédito habitacional, o excesso de recursos sem que haja procura por empréstimos pode obrigar os bancos a enviá-los para o Banco Central na forma de depósito compulsório. Já os CDBs, investimento que está em alta desde o ano passado, podem ser utilizados para outros tipos de financiamento. “Pode haver uma menor quantidade de recursos para a economia e um excesso para a habitação”, alerta Calil.
O investidor deve, neste momento, fazer uma troca do seu investimento? A sugestão dos especialistas é esperar. “A poupança vai sofrer uma redução, mas, para volumes pequenos de aplicação, ela vale a pena”, diz Leite. Como deve acontecer uma correção em pouco tempo, o pagamento das taxas para sair de uma aplicação pode não compensar a mudança para a poupança. O importante neste momento é avaliar onde investir. “A poupança é mais atrativa que a renda fixa ou o CDB para quem precisar do dinheiro em menos de três meses”, afirma Calil. Mesmo para aqueles que hoje estão na poupança e estão pensando em horizontes longos, a sugestão é aguardar. CDBs que paguem menos de 97% do CDI podem não valer a pena. A sugestão é pedir a ajuda do gerente da agência para calcular o retorno de cada um.