Cuidado, leitor, que o deputado estadual Arthur Moledo do Val, do Democratas, mais conhecido como Arthur Mamãe Falei, vai abrir a boca. Ele tem 33 anos, é solteiro, e foi o segundo mais votado na eleição do ano passado, com 478.280 votos. Teve as contas da campanha definitivamente desaprovadas, por irregulares, pelo Tribunal Superior Eleitoral. E mantém a língua mais irresponsavelmente ferina entre os jovens políticos da nova safra. Qual deles diria, por exemplo, tirem as crianças da sala, que “ministro do STF é um bando de filho da puta comedor de lagosta?”. Pois o deputado não só o disse – está em seu canal do YouTube, o “Mamãe Falei”, com 2,58 milhões de inscritos, 831 vídeos e 308 milhões de visualizações -, como o repetiu, tal e qual, para o gravador do Estado, durante entrevista em seu gabinete na tarde da última quarta-feira, 2. Até a sexta-feira passada, 4, o vídeo registrava 320 mil visualizações, com 61 mil curtidas (polegar para cima) e 864 reprovações (para baixo).

– Isso não é incitamento ao ódio, além de leviano e irresponsável?

O deputado ouve as perguntas, impassível, e discorda: “De forma alguma. Sou a favor da liberdade de expressão irrestrita. Não é o fato de talvez um dia ter que depor no STF que vai segurar as minhas palavras. Não tenho medo de tomar processo. É um risco que eu corro, e faço isso há muito tempo”.

No nono mês de mandato, e gostando do novo figurino que o obriga ao terno e gravata, o palavroso youtuber se diz o mais austero dos 94 deputados que compõem a Assembleia Legislativa de São Paulo. Não usa o carro oficial a que tem direito, por exemplo, e só tem seis funcionários dos 32 que poderia contratar.

Fez um barulhão, a seu estilo poeira no ventilador, quando, durante a recente discussão de um projeto, chamou todos os colegas de “vagabundos”, em plenário, por duas vezes. Levado à Comissão de Ética, acabou por se desculpar. Está aguardando uma decisão – que espera seja, no máximo, uma advertência. “Eu realmente me excedi”, reconheceu, durante a entrevista.

Excedeu e parece que aprendeu alguma coisa sobre o trato civilizado na Casa, como mostrou, na mesma quarta-feira, em reunião da Comissão de Constituição e Justiça. Cabalou votos, de ouvido em ouvido, para um projeto que apresentou, tornando obrigatória a contratação de seguro-garantia de execução de contratos de obras públicas. Ganhou por 10 a 1.

Seu objetivo na Assembleia, explica, é “transmitir os ideais da ideologia liberal econômica e valorizar os profissionais da segurança pública”. Em dois outros projetos de lei propõe a isenção de IPVA e ICMS em veículos novos que atuam no transporte privado (Uber, por exemplo), e a extinção do auxílio-hospedagem para os deputados, outra mordomia que também não usa.

Ali pelo começo de 2015 Arthur Moledo do Val era não muito mais do que um desconhecido, sequer ilustre. Mais velho de três irmãos, teve uma boa vida com o pai empresário do ramo da sucata (“começou como engraxate”) e a mãe dona de casa. Estudou até o último ano de Engenharia Química, diz, mas não se formou. Já trabalhava com o pai, a sério, e começou a empreender. Primeiro com um estacionamento de 700 vagas em Guarulhos, o Aeropark, onde se deu bem, e, de lá para cá, investindo em posto de gasolina, empresa de construção civil, outra de sucata, e uma transportadora.

O “Mamãe Falei” nasceu durante uma madrugada insone em maio de 2015, quando criou o canal no YouTube, “para questionar e reclamar de tudo” e “sair de uma inércia de pensamento”. Alinhava-se, então, à direita, com ideias do Movimento Brasil Livre e que tais. Em março de 2016, indignado com uma manifestação a favor da indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ministro da Casa Civil no segundo governo Dilma Rousseff, o empresário teve um “estalo”: entrar na manifestação com uma câmera na mão, e interpelar os presentes sobre a razão de estarem ali. “Sou muito audacioso e gosto de correr riscos”, explicou. “Foi um sucesso instantâneo, com dois milhões de views em 24 horas”, afirmou.

“Já levei tapa, empurrão, cuspida, soco na boca, paulada nas costas, processos diversos, mas nada vai me fazer parar”, diz. Quem der uma olhada, vai vê-lo em manifestações de esquerda, como um provocador profissional. “Não me arrependo de nada – e faria tudo de novo. Se por causa disso eu tiver que perder todo o meu patrimônio, e até as cuecas, eu vou fazer.”

Já perdeu, por exemplo, para o deputado federal Marcelo Freixo e para estudantes da faculdade de Medicina da USP, neste caso por ter tumultuado um seminário sobre masturbação feminina. O ex-deputado Jean Wyllys também o processa, entre outros. Nas contas que ele mesmo faz, passa de R$ 1 milhão a soma de indenizações a pagar se vier a perder todos os processos.

Arthur do Val é amante dos esportes radicais: jiu-jitsu (é faixa marrom) e motocross, entre outros. Faz duas horas de malhação por dia. Tem 1,70 de altura e 70 quilos, “de pura gostosura”, como acrescentou, fazendo blague.

Bolsonaro

Na entrevista ao Estado ele definiu Bolsonaro como “um péssimo presidente”, e Bruno Covas como “o pior prefeito que São Paulo já teve”. Seu defeito – ele tem um – é ser “extremamente estressado e ansioso”, principalmente com a ineficiência de serviços como o bancário e o telefônico. “Se for no banco, a minha vontade é explodir a agência”, exemplificou. Cuidado aí.

Mamãe Falei disse que quer ser candidato a prefeito de São Paulo, mesmo que tenha que sair do DEM. Sobre os possíveis candidatos do PSL – a deputada federal Joice Hasselmann e o deputado estadual Gil Diniz – disse que ambos “não têm competência técnica para gerir uma cidade como São Paulo”. E que ele não só “tem”, como é “muito bom” nisso. Haja vídeo daqui até lá. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.