Há 17 mil anos, um mamute macho morreu pela fome no norte do Alasca, próximo à cordilheira de Brooks Range. Contudo, o animal acabou conservado pelo frio, deixando uma informação importante para nossos pesquisadores: sua rota de viagens ao longo da vida. O mais impressionante é que a distância caminhada pelo animal equivale a circular a Terra inteira duas vezes.

De acordo com a pesquisa, que foi capa do volume 373 da Science, o mamute aventureiro morreu aos 28 anos de idade por conta da fome. Contudo, suas presas (o marfim) guardaram informações importantes sobre todos os locais percorridos pelo paquiderme ao longo de sua vida.

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Todavia, toda essa riqueza de informações não veio de graça. Acontece que cada região do planeta possui assinaturas diferentes de diversos isótopos presentes no meio. Quando um animal se alimenta de plantas ou qualquer outra coisa que esteja em uma certa região, ele consome também isótopos específicos daquela área geográfica.

Assim, os autores da pesquisa mapearam os isótopos de diversas regiões do ártico usando dentes de roedores. Esses roedores, por sua vez, eram animais que viajavam pouco e, portanto, tinham os isótopos de suas regiões em todo seu corpo – principalmente nos ossos e dentes.

Comparando então os isótopos dos roedores com aqueles presentes na presa do mamute, os cientistas identificaram com bastante precisão em quais regiões do planeta o mamute esteve em determinadas fases de sua vida. Mais ou menos como os anéis de uma árvore, as presas dos paquidermes crescem de forma sobreposta e concêntrica. Ou seja, a ponta do marfim do animal mostrava os isótopos de seus primeiros anos de vida, enquanto a base mostrava os dos últimos.

Traçando a rota e o comportamento do mamute viajante
Usando mais de 400 mil registros microscópicos, então, a equipe chegou à conclusão de que o animal viajou uma distância suficiente para circular a Terra duas vezes, antes de perecer pela fome. O mapa abaixo mostra as rotas principais do animal, incluindo sua juventude e sua morte.

Os isótopos de estrôncio e oxigênio foram os que forneceram informações vitais para entender a viagem do mamute ao longo de sua vida. Até os 16 anos de idade, por exemplo, o animal permaneceu numa região geográfica mais padronizada (em amarelo acima), provavelmente acompanhando sua manada antes de atingir a maturidade sexual.

Assim como os elefantes modernos, os mamutes machos provavelmente abandonavam os bandos para seguirem vidas solitárias e explorar novos territórios. Assim, após os 16 anos o animal começou a explorar seus arredores, alcançando a maior parte do Ártico. Variações nos isótopos de nitrogênio e carbono mostraram, por fim, o destino trágico do viajante.