26/04/2017 - 18:10
Após receber uma encomenda grande da transportadora Braspress e aumentar em 40% as exportações no primeiro trimestre, a MAN, montadora dos caminhões e ônibus da marca Volkswagen, diminuiu as paradas de produção em sua fábrica no sul do Rio de Janeiro, que vem desde 2015 operando em jornada de trabalho reduzida por conta da crise que atingiu a indústria de veículos comerciais.
A empresa reduziu de quatro para duas as folgas dadas todos os meses aos operários das linhas de produção em Resende dentro do Programa de Sustentação do Emprego (PSE), no qual empregadores reduzem jornadas de trabalho e salários, em troca da manutenção dos empregos durante a crise. O novo esquema de trabalho começou a valer neste mês.
Ao anunciar a decisão, o presidente da montadora na América Latina, Roberto Cortes, frisou que, embora o mercado tenha mostrado resultado frustrante no primeiro trimestre – com queda de 26% na comparação com igual período de 2016 -, a média diária das vendas de caminhões no País já subiu de 134 para mais de 180 unidades desde o início do ano, num sinal de que, “aos poucos”, os negócios estão voltando.
Nos três primeiros meses do ano, a montadora ganhou um pedido de 100 caminhões extra-pesados da transportadora Braspress – todos já entregues – e conseguiu um salto, de 1,25 mil para 1,75 mil, nas exportações de caminhões e ônibus, como resultado do crescimento de 80% das entregas à Argentina, o avanço de “dois dígitos” nas vendas ao México e a entrada em mercados novos.
“Se o número de vendas ainda não veio, já estamos fazendo mais negócios”, disse nesta quarta-feira, 26, Cortes em entrevista coletiva à imprensa. Para o executivo, o pior momento da crise já passou e a encomenda feita pela Braspress indica que os clientes estão voltando às compras para renovar suas frotas – ainda que as transportadoras continuem com muitos caminhões parados em seus pátios.
Os estoques da montadora, segundo seu presidente, estão “ajustados”, até com alguns modelos em falta, permitindo melhor ocupação da fábrica de Resende – apesar de a ociosidade no local seguir alta, próxima de 70%.
Nas contas da direção da multinacional de origem alemã, mesmo com um câmbio menos competitivo, as exportações de caminhões e ônibus produzidos no Brasil voltarão a passar das 50 mil unidades neste ano – incluindo as demais marcas -, o que significa o melhor resultado desde a crise financeira internacional de 2008.
A partir do segundo semestre, a MAN começa a exportar veículos desmontados para montagem final – sistema conhecido como CKD – na Nigéria, usando a linha de montagem de um parceiro local. A ideia, segundo Cortes, é replicar esse modelo, com a instalação de linhas CKD em novos países. No momento, estão em estudo oportunidades no Oriente Médio e outros mercados africanos, como o Quênia.
O presidente da MAN disse aos jornalistas que, após entrar em novos mercados, o foco da companhia agora é crescer onde já está presente para, no terceiro estágio do processo de internacionalização, montar operações em países maiores.
O projeto de produzir caminhões na Argentina segue, contudo, suspenso, porque há capacidade de sobra para atender o mercado vizinho pelo parque industrial de Resende. “Dada a distância e a capacidade ociosa, não podemos duplicar muito a capacidade na região.”
Reformas
Cortes aproveitou a entrevista para manifestar apoio à aprovação das reformas trabalhista e da Previdência, que, junto com o regime fiscal que estabelece um teto aos gastos públicos, são, segundo o executivo, importantes para tornar viável a redução dos juros e um melhor ambiente de negócios.
“O que vai permitir a retomada do setor é a recuperação da economia, o que só vai acontecer com a aprovação das medidas estruturais”, afirmou Cortes, que disse apoiar “integralmente” a agenda de reformas. O executivo ainda acredita num crescimento modesto, entre 2% e 3%, do mercado de caminhões e numa volta “rápida” das 173 mil unidades vendidas em 2011, recorde do setor. Citando “primeiros sinais” de recuperação, reforçou o plano da montadora de investir R$ 1,5 bilhão no Brasil.
Ao tratar da política automotiva que está sendo negociada com o governo, chamada de Rota 2030, Cortes destacou ainda que, pela primeira vez, o setor poderá ter um programa de longo prazo: 13 anos. Garantiu, no entanto, que a indústria automobilística não vai pedir subsídios desta vez. “Ninguém quer subsídios. O que queremos é que não haja necessidade de se pedir subsídios”, disse o presidente da MAN. “Não vamos brigar por nada que seja artificial”, acrescentou.