Acredite: existe um lugar no Brasil onde as fábricas trabalham a todo vapor, 24 horas por dia. É a Zona Franca de Manaus, que se transformou numa exceção na economia nacional. Só nos dois primeiros meses de 2004 a produção industrial do pólo amazonense cresceu 7,8%. Empresas como Honda, Nokia, Siemens, Philips, Yamaha e Panasonic vêm produzindo em ritmo acelerado. E todos os dados disponíveis ? seja de vendas, empregos ou salários na indústria ? apontam para uma verdadeira exuberância da Zona Franca. No ano passado, quando o PIB brasileiro encolheu 0,2%, o faturamento da região cresceu 10%, atingindo US$ 10 bilhões. A previsão da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) é de uma expansão de mais 12% em 2004. Com isso, as empresas voltaram a contratar ? atingindo o maior nível de emprego na região nos últimos 10 anos. Desde janeiro, o pólo criou mais 4,5 mil empregos. Além disso, dados recentes indicam que o salário real aumentou 13,84% na região (confira o gráfico abaixo). Quem imagina que todos esses bons indicadores são resultado apenas das exportações está enganado. A boa notícia que vem de Manaus é que esse boom reflete uma recuperação do mercado interno. Na terça-feira 11, em uma conferência promovida pelo governo do Amazonas em São Paulo, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, expôs dados que explicam esse fenômeno. ?As importações de componentes pela Zona Franca cresceram 11,6% e isso significa que o mercado interno está reagindo?, disse Furlan a uma platéia de empresários interessados no desempenho excepcional da região.

No topo da lista dos produtos da Zona Franca, estão as motos e os celulares. Hoje, fabrica-se um aparelho celular por segundo no Brasil ? e a maior parte sai de Manaus. A estimativa dos empresários aponta que 20 milhões de novos aparelhos serão vendidos em 2004. ?O mercado vem crescendo vertiginosamente no Brasil?, disse à DINHEIRO Fernando Terni, presidente da Nokia, empresa que tem 45% do mercado brasileiro, contratou 400 pessoas e está investindo em mais quatro linhas de produção. Movimentos de expansão têm se repetido. A Siemens, por exemplo, vai investir US$ 40 milhões em uma nova fábrica, o que permitirá triplicar a produção a partir do ano que vem. Serão 250 novos postos de trabalho. A Honda, maior fabricante de motos do Brasil, está ampliando a planta da Zona Franca ao custo de US$ 30 milhões. O objetivo é atingir, até 2006, a meta de produzir 1 milhão de motos. ?Vamos crescer pelo menos 10% em 2004?, disse Paulo Takeushi, diretor de relações institucionais da Honda.

Hoje, a produção só não é maior porque enfrenta limitações no transporte de produtos de Manaus para o resto do País. O grupo Bertolini, uma das maiores empresas de transporte da Zona Franca, com mais de mil carretas, já cresceu mais de 20% em 2004. ?Estáva-
mos nos preparando para crescer, mas não a este nível?, revelou Irani Bertolini, presidente da empresa. O grupo está investindo mais R$ 25 milhões na compra de 105 carretas e três balsas. ?Tem empresa pedindo para transportar a carga até no sábado e no domingo?, conta o empresário. As novas aquisições são voltadas exclusivamente para o mercado interno. Em média, saem de Manaus 5 mil carretas por mês em direção às outras regiões do País. Há um ano esse número não passava de 4 mil. Por trás desse desempenho, há algumas expli-
cações. Uma delas é a demanda reprimida por produtos eletrônicos, setor que vinha em baixa desde o apagão de 2001. Outra diz respeito aos descontos do varejo, antes do aumento das alíquotas da Cofins, para recompor os estoques com preços menores. O governador do Amazonas, Eduardo Braga, no entanto, está convicto que essa recuperação veio para ficar. ?Há nove meses a produção industrial vem crescendo no pólo amazonense?, diz o governador. ?Nos primeiros seis meses, foi a exportação que pesou. Nos últimos três, tem sido o mercado interno?. O País espera que ele esteja certo.